LITURGIA DOMINICAL
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
terça-feira, 12 de novembro de 2019
33º DOMINGO TEMPO COMUM-ANO C
33º DOMINGO TEMPO COMUM
ANO C
17 de Novembro de 2019
Evangelho
- Lc 21,5-19
Lc 21,5-19;
Ml 3,19-20a; Sl 98; 2Ts 3,7-12
-33º DOMINGO-MUITOS VIRÃO EM MEU NOME-Lc 21,5-19-José
Salviano
Jesus disse que muitos virão em meu nome! E é o que
estamos vendo. Alguns que se dizem ungidos de Deus, na verdade vieram em nome
do dinheiro!
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Homilia
de Dom Henrique Soares da Costa – XXXIII Domingo do Tempo Comum (Ano C)
Ml 3,19-20a
Sl 97
2Ts 3,7-12
Lc 21,5-19
Sl 97
2Ts 3,7-12
Lc 21,5-19
Estamos
no penúltimo domingo do ano litúrgico. Domingo próximo celebraremos Cristo-Rei
e, daqui a precisos quinze dias estaremos entrando no santo tempo do Advento,
que nos prepara para o Natal do Senhor. Pois bem, o final de um período sempre
nos faz recordar que o tempo corre e a vida passa veloz. Isto deve fazer-nos
pensar no fim de todas as coisas e da nossa vida. “Fim” não somente como final,
mas “fim” também como finalidade… É diante desta realidade que a Palavra de
Deus nos quer colocar nestes últimos dias do ano litúrgico de 2004.
No Evangelho, Jesus nos recorda que
nossa existência é breve, tão fugaz. Àqueles que se encantavam com o aspecto
majestoso do Templo, o Senhor recordou que tudo passa. Isso vale ainda hoje:
para a nossa casa bonita, para o nosso carro, para o nosso dinheiro, nossa
profissão, as pessoas às quais amamos, os projetos que temos, a nossa própria
vida: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra
sobre pedra. Tudo será destruído!” Aqui, o Senhor não deseja ser um
desmancha-prazer, não nos quer arrancar o gosto de viver; deseja tão somente
recordar que nossa vida deve ser vivida na perspectivada eternidade, daquilo
que é definitivo. Haverá um momento final, haverá um juízo do Senhor sobre a
história humana e sobre a história de cada um de nós, quando, então, ficará
claro o que serviu e o que não serviu, o que teve valor ante os olhos de Deus e
o que não passou de ilusão e falsidade. Nunca esqueçamos disso: nossa vida
caminha para esse momento final, o mais importante de todo nosso caminho
existencial. Haverá, sim, um juízo de Deus: “Eis
que virá o dia, abrasador como fornalha em que todos os soberbos e ímpios serão
como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los… Para vós, que temeis o
meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. Este juízo, portanto, será
discriminatório: pode significar vida ou morte, salvação ou condenação!
Ante esta realidade, os discípulos perguntam
a Jesus: “Mestre, quando acontecerá isso? Qual vai ser o sinal de que estas
coisas estão para acontecer?” A
curiosidade de ontem é a mesma de hoje… A resposta de Jesus contém dois
significados. Primeiro: observemos que o Senhor dá sinais que se referem à
natureza (“Haverá grandes terremotos… acontecerão coisas pavorosas e grandes
sinais serão vistos nos céus.”),
sinais que se referem à história humana (“Um povo se levantará contra
outro povo, um país atacará outro país”) e sinais referentes à própria vida dos discípulos – vale dizer, à
nossa vida (“Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu
nome, dizendo: ‘Sou eu!’ ou ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa
gente”).
Isto quer dizer que a manifestação final do Senhor vai marcar tudo: a história,
a criação e a vida de cada um de nós; nada ficará fora do juízo de Deus que
haverá de se manifestar em Cristo! Tudo será confrontado com o amor manifestado
na cruz do Senhor. A história humana será passada a limpo e o que foi pecado, desamor,
maldade será destruído; a criação será transfigurada: passará a figura deste
mundo como é agora e, no Espírito do Cristo, haverá um novo céu e uma nova
terra; os discípulos serão examinados pelo Senhor de acordo com sua
perseverança na fé verdadeira, sem se deixarem levar pelas novidades
religiosas, pura falsificação, como as que estamos vendo hoje em dia…
Há ainda um segundo significado:
observemos que os sinais que Jesus dá, acontecem em todas as épocas: sempre
houve e haverá convulsões na natureza, guerras e revoluções na história humana,
hereges e falsos profetas, falsos pregadores e falsos pastores no caminho da
Igreja. Tem sido assim desde o início… Então, por que o Senhor apontou esses
sinais? Para deixar claro que cada geração deve estar vigilante, cada geração
deve recordar sempre que haverá de estar, um dia, diante do Senhor e, portanto,
deve levar a sério sua fé e sua adesão a Jesus. Sobretudo num mundo como o
atual, que nos quer fazer perder de vista o essencial e nos quer fazer esquecer
que caminhamos para o encontro com Cristo como um rio corre para o mar.
Vale-nos, então, o conselho de São Paulo, a que vivamos decentemente,
trabalhando pelo pão cotidiano, sem viver à toa, mas construindo a vida com a
dignidade de cristãos. O Senhor nos previne que não é fácil: o mundo não nos
amará, porque seus pensamentos não são os do Cristo – e isto mais que nunca é
claro hoje, numa sociedade consumista, paganizada, amante do conforto e da
imoralidade, onde cada um vive do seu modo, como se Deus não existisse… Ouçamos
a advertência tão sincera e franca de Cristo: “Sereis
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles
matarão alguns de vós. Todos vos odiarão (= vos amarão menos, não vos terão
entre seus amigos) por causa do meu nome… É permanecendo firmes que ireis
ganhar a vida!”
Eis
aqui! Vivamos fielmente a nossa vocação cristã, não tenhamos medo de ser fiéis
e de dar o bom testemunho de Cristo, para que possamos ser aprovados ante o
tribunal de Cristo. Nossa vida neste mundo é semente de eternidade; nossas
escolhas e atitudes terão conseqüências eternas. Que o Senhor nos conceda a
graça da perseverança que nos fará ganhar a vida. Amém.
Dom
Henrique Soares da Costa
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Evangelhos
Dominicais Comentados
17/novembro/2013
– 33o Domingo do tempo Comum
Evangelho:
(Lc 21, 5-19)
A
No
evangelho de hoje, Jesus diz que não sobrará pedra sobre pedra, tudo será
destruído. Jesus fala em guerras, revoluções e destruição. Fala em terremotos,
fome e pestes. Apesar da linguagem apocalíptica, Jesus nos alenta dizendo que
quem permanecer firme e fiel aos seus ensinamentos, não morrerá.
É
preciso estar preparados, disse Jesus. Haverá terremotos, fome e pestes. Coisas
pavorosas acontecerão e grandes sinais serão vistos no céu. Antes, porém,
sereis presos e perseguidos. Com essas palavras, Jesus nos alerta para algo
muito preocupante: o comportamento invejoso e maldoso das pessoas.
Maremotos,
terremotos, vulcões, ciclones e tempestades são fenômenos físicos naturais e,
devem ser vistos com naturalidade. No entanto, não podemos encarar com naturalidade
o que não é natural, como por exemplo: perseguição, tortura, prisão e, até
mesmo, a morte para os seguidores de Jesus.
Jesus
conhece muito bem o comportamento humano, por isso recomenda calma e que
ninguém se apavore com revoluções e guerras, pois, enquanto os interesses
estiverem acima da razão, guerras sempre existirão.
A
indústria bélica movimenta bilhões de dólares. Graças às guerras fabricadas,
alguns tiranos enriquecem e milhares de inocentes morrem, mesmo assim, tudo
isso não significa o fim dos tempos.
"Mestre,
quando acontecerá tudo isso? E quais serão os sinais de que estas coisas estão
para acontecer?" - Perguntaram os discípulos. Jesus nada revelou quanto ao
dia e à hora, porém fez questão de ressaltar como agem os falsos profetas.
Jesus
alerta que eles irão prometer curas fantásticas, mostrarão caminhos fáceis,
vida farta e serão capazes de enganar multidões que irão correr atrás de lucros
para suas empresas e carros importados em suas garagens. Não sigam esses falsos
pastores, diz Jesus, são chacais que virão em meu nome pregar o fim do mundo.
Jesus
veio ao mundo para trazer a paz, no entanto, deixou claro que os caminhos que
levam à verdadeira paz são difíceis, exigem persistência e muita coragem. O
evangelho será motivo de divisão até na família. Amigos e parentes poderão
tornar-se adversários dos mensageiros da paz.
Surgirão
ódios, vinganças e desavenças, pois o promotor da paz é exigente, incomoda, não
se deixa levar por aparências de piedade, por insinuações de vida fácil e muito
menos por um cristianismo sem renúncias e sem sacrifícios. O discípulo fiel
sabe que ninguém chega ao Paraíso, sem passar pela cruz.
Não
devemos nos preocupar com o fim do mundo, que não sabemos quando acontecerá.
Sabemos que quem estiver vigilante não será pego de surpresa. Isso basta. Nossa
única preocupação deve ser com mudanças. Mudar as atitudes, viver a harmonia no
lar e na comunidade, propagar a Boa Nova e viver a fidelidade.
É
preciso gritar bem alto o Nome que está acima de todos os nomes. A certeza de
que não perderemos um só fio de cabelo deve reavivar a coragem para testemunhar
a salvação. Jesus garante que basta permanecer firme para ganhar a vida.
Nascemos para a vida, por isso vamos à luta, pois quem não preencher sua vida
presente, terá um futuro vazio.
(2019)
jorge.lorente@miliciadaimaculada.org.br - 17/novembro/2013
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Visão do futuro
Por
volta do ano 70 depois de Cristo, quando o Templo de Jerusalém foi destruído
pelos Romanos, o povo acreditava ter chegado o fim dos tempos e, foi nesta
época que Lucas escreveu seu Evangelho. Nele, Jesus prevê que daquele Templo
não ficaria em pé pedra sobre pedra, mas isso não significava o fim do mundo, e
sim um incentivo ao fortalecimento da fé na Boa Nova trazida por Ele, que deve
ser professada por todos os que Nele crêem, independentemente, das dificuldades
encontradas.
Lucas
escreve esse Evangelho numa linguagem apocalíptica para suscitar os ânimos e a
fé nos momentos de conflito. É próprio desta linguagem tomar fatos do passado
como não acontecidos, assim, no seu discurso, Jesus fala sobre os
acontecimentos que precederão o fim do mundo com a profecia da queda de
Jerusalém e destruição do Templo, e pede discernimento, pois essas catástrofes
não são o fim do mundo, pelo contrário, são sinais de que algo novo está
nascendo na História.
Jesus
alerta sobre a deformação da verdade, lembrando que muitos aparecerão falando
em Seu nome, e orienta para tomarem cuidado e não serem enganados com doutrinas
e profetas falsos. Ele anuncia também, “guerras e revoluções”, porém elas
sempre existiram, pois basta olhar a História da Humanidade.
Cada
cristão é templo onde Deus habita, e este templo sim, deve ser preservado, não
pode ser destruído, é edificado na oração e sustentado na prática dos
ensinamentos de Jesus que são os mesmos ensinados aos discípulos, e não mudaram
ou deixaram de valer com o passar dos anos.
Muitas
são as tentativas de enganar os cristãos e fazê-los acreditar em falsos
messias, ou em falsas previsões de fim do mundo, cabe a cada um manter-se em
oração, para ter discernimento e não se deixar enganar.
O
verdadeiro Cristão enfrenta as adversidades e as perseguições dos poderosos com
a firmeza da fé, e está sempre preparado para deixar que o Espírito Santo o
oriente em suas palavras e ações, não se sentindo ameaçado, mantendo a certeza
de que o Pai está sempre a seu lado, fortalecendo e guiando sua missão de levar
a Boa Nova.
A salvação pela perseverança
Os discípulos de Jesus foram alertados contra os
falsos alarmes de chegada do fim do mundo. O resultado disto era o medo, a
insegurança e, de modo especial, o sentir-se bloqueado e desmotivado para fazer
o bem. É perda de tempo dar ouvidos a quem se considera entendido nas coisas
relativas ao fim do mundo, e quer se fazer de mestre dos outros.
As perseguições e dificuldades devem ser vistas
pelos discípulos como ocasião para dar testemunho do Reino, sem a ilusão de que
tudo acabará em breve. Por causa do nome de Jesus, eles seriam aprisionados,
entregues às sinagogas judaicas, e levados diante de reis e governadores. Entre
seus traidores estariam os seus próprios familiares e amigos. Seriam odiados, e
muitos haveriam de sofrer morte violenta.
Em todas estas circunstâncias trágicas, os
discípulos teriam a possibilidade de experimentar a proteção divina. Do Pai
receberiam força para se defenderem diante dos tribunais, rebatendo as falsas
acusações e testemunhando o nome de Jesus com denodo. E também, a força
necessária para não se intimidarem e nem sucumbirem às investidas dos
adversários.
Se forem capazes de perseverar, até o fim, no
testemunho de Jesus, serão salvos. Desta forma, ficará patente sua adesão
radical ao Reino e sua não compactuação com o mal e o pecado. Quem perseverar,
experimentará a misericórdia salvífica do Pai.
padre Jaldemir Vitório
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O dia do Senhor está próximo
No dia 11 de setembro de 2001, talvez
mais completamente do que tinha sido planejado, foram destruídos os dois
prédios do chamado centro do comércio mundial. Foi um fim de mundo. Entretanto,
ninguém viu no fato a necessidade de uma mudança nos rumos da humanidade: fazer
que não seja o comércio, o “mercado”, o único governante do nosso mundo. A
reação foi apenas maior violência, agressão armada e econômica. A possível
razão dos “inimigos” nem foi considerada.
O evangelho deste domingo fala da
destruição de Jerusalém, ocorrida no ano 70. Começa com a admiração das pessoas
pela grandeza, beleza e riqueza do Templo e com a previsão de Jesus: “Não
ficará pedra sobre pedra”. No final, diz que os discípulos devem sobreviver por
sua perseverança ou resistência.
Estamos chegando ao final do ano
litúrgico e isso nos faz pensar no fim, pois nada deixa de ter o seu término.
As grandes crises, as catástrofes da natureza ou das estruturas humanas, são
ocasião de nova tomada de posição. A própria palavra crise quer dizer
julgamento. E tudo nos lembra o fim de cada um e a necessidade de mantermos a
coerência, pois só a fidelidade a si mesmo e ao projeto de Deus é capaz de
salvar da destruição total. Mantida essa coerência, a crise, o Dia, é de
salvação.
1º
leitura (Ml. 3,19-20a)
O último livro da coleção dos Profetas termina
anunciando o Dia do Senhor, dia de condenação dos perversos e de alívio para os
justos. Responde aos que pensavam: “Não vale a pena servir a Deus! Que proveito
a gente tira guardando os seus mandamentos ou caminhando amargurado na presença
do Senhor? Pois, então, vamos dar os parabéns aos atrevidos, eles progridem
praticando injustiças, desafiam a Deus e acabam salvando-se” (vv. 14-15).
O Dia do Senhor há de chegar “como
forno aceso a queimar”. Há de destruir os atrevidos, como se fossem palha. Mas,
“para vocês que buscam seguir a lei do Senhor, o sol da justiça há de brilhar”,
diz o texto.
Quando se fala hoje em apocalipse, em
julgamento final da humanidade, geralmente se pensa em destruição
indiscriminada de tudo e de todos. Frequentemente se cita a Bíblia como
testemunha que anuncia uma próxima catástrofe final e universal. Contudo, o
castigo que os profetas, como Malaquias, anunciam é apenas para os maus, pois,
para “os que temem o Senhor”, o Dia traz “o alívio em suas asas”.
2º
leitura (2Ts. 3,7-12)
Entre as comunidades que são Paulo
havia fundado, muitas pessoas insistiam na expectativa próxima da parusia ou
segunda vinda de Jesus. Daí surgiu esta maneira de pensar: “Como Jesus volta
logo e resolve todos os nossos problemas, ninguém precisa mais cuidar de ter um
trabalho, nem se preocupar com os rumos que o mundo vai tomando; é só esperar
mais um pouco, que tudo estará resolvido. Para sobreviver até lá, dá-se um
jeito, outros ajudam, falta pouco tempo para a vinda gloriosa de Jesus...”.
Foi então que a segunda carta aos
Tessalonicenses veio esclarecer a questão com a autoridade do próprio Paulo. O
trecho a ser lido hoje vai direto ao assunto.
O testemunho do próprio Paulo é
fundamental. Na primeira carta aos Tessalonicenses (2,9), ele lembrava que,
quando lá esteve evangelizando da primeira vez, trabalhava dia e noite para não
ser pesado a ninguém.
Como disse no capítulo 9 da primeira
carta aos Coríntios, Paulo teria o direito de ser mantido pela comunidade, mas
o dispensou. Fez isso em Corinto para manter sua independência e não prejudicar
a pregação do evangelho; fez isso em Tessalônica por coerência com os fatos e
por solidariedade com os trabalhadores braçais, os primeiros a aceitar sua
pregação. O texto lido hoje vê aí o exemplo de amor ao trabalho, que sustenta e
dignifica a pessoa. Era isso que aqueles cristãos precisavam ouvir.
Evangelho
(Lc. 21,5-19)
A destruição do Templo e da cidade de
Jerusalém foi um fim de mundo. É disso que o evangelho nos fala. Firmes até o
fim, os cristãos escapam da destruição. O evangelho não fala do fim do mundo,
do final da história da humanidade, mas de um fim que é novo começo, de um fim
que está sempre acontecendo.
A destruição de Jerusalém foi, para o
cristianismo inicial, algo parecido com a morte da mãe antes do corte do cordão
umbilical. Os primeiros cristãos estavam ainda muito ligados à religião
judaica. Com a grande revolta do ano 66 e a destruição do Templo e da cidade de
Jerusalém no ano 70, toda a estrutura física e humana daquela instituição
judaica foi demolida. Foi um fim, mas também novo começo.
Sinais de que a hora da destruição está
chegando serão os fatos ligados à revolta judaica. Na Galileia, grupos de
pequenos proprietários, em consequência da exploração exercida pelo império
romano e das altas taxas de juros cobradas pelos judeus ricos, perderam tudo o
que possuíam e passaram a formar quadrilhas de assaltantes, então chamados de
lestês, bandidos. Chegavam a assaltar uma caravana romana e depois repartir os
alimentos nas aldeias, pois o povo morria de fome. No ano 66 (36 anos depois da
morte de Jesus), eles entraram em Jerusalém, queimaram os documentos de suas
dívidas, que lá estavam, e dominaram a cidade. Foi a grande revolta.
Seus líderes passaram, logo em seguida,
a competir entre si, cada qual reivindicando para si o título de Messias,
pretendendo ser a realização das esperanças de todo o povo. Cada um dizia: “O
Messias, o salvador da pátria, sou eu!”, “chegou a hora!” O evangelho aconselha
os discípulos de Jesus a não acreditar nisso, nem se apavorar com a guerra em
curso.
Como era de se esperar, Roma não ficou
passiva; ao contrário, mandou seus exércitos que estavam na Síria invadir a
Palestina e acabar com a “brincadeira”. Isso, em decorrência também da
momentânea instabilidade política em Roma, demorou algum tempo: só no ano 70
(quatro anos depois) a cidade de Jerusalém foi destruída e os últimos focos de
resistência, alguns anos depois, foram eliminados.
E os cristãos? Não devem participar da
loucura da revolução nem ficar apavorados, apesar de perseguidos por todos os
lados. Especialmente nessas circunstâncias, a fidelidade a Jesus cria problemas
até mesmo dentro de casa. Quantas vezes os mais próximos é que vão denunciar o
discípulo, que age e fala de maneira contrária aos critérios deste mundo (que
são os mesmos tanto do lado dos revoltosos quanto do lado do império romano)?
Devem, no entanto, os discípulos ficar firmes no testemunho de Jesus e ser
coerentes até o fim. O que salva, diz Jesus, não é o filiar-se a um dos dois
lados, mas a coerência resistente até o fim.
DICAS
PARA REFLEXÃO
Quando leem essas passagens do
evangelho, muitos ainda pensam em um fim de mundo como catástrofe final da
humanidade, que ninguém quer ver. Há os que, apoiados nessas palavras da
Escritura, vivem anunciando que o fim do mundo está próximo. Nada disso. A
crise pode ser dura, difícil, dolorosa, mas é novo começo, abertura de novos
horizontes.
A cada momento, um mundo está acabando
e outro começando. O importante é saber ler os sinais dos tempos e estar preparados
para o novo começo.
É preciso saber descobrir em cada
acontecimento, por menos importante que pareça, o mundo velho que está acabando
e a novidade de vida que começa, o horizonte novo que se abre. Em todo
acontecimento, uma crise se revela, e em toda crise, uma ou mais portas se
abrem.
Quando uma porta se fecha, duas se
abrem, basta ter olhos para ver.
Porque esperamos de Deus a intervenção
final e decisiva na história para estabelecer o seu reinado, não vamos ficar
omissos, deixar-nos vencer pela preguiça, desistindo da busca por outra Igreja
possível e por outro mundo possível.
Da mesma forma que rezamos no pai-nosso
“o pão nosso nos dai hoje”, mas não deixamos de ir à luta pelo pão de cada dia,
assim também, porque pedimos que sua vontade aconteça “na terra como no céu”,
não vamos abandonar a luta pela construção de nova sociedade, diferente da que
aí está, de outro mundo, que comece a realizar no presente o que esperamos para
o futuro.
Na última ceia, Jesus estava para ser
preso e condenado à mais humilhante das mortes. Sabia que iria ficar sozinho.
Mesmo assim, ao passar o pão para que cada qual tirasse seu pedaço, disse: “É o
meu corpo, sou eu, que me entrego por vocês”. Na missa, lembramos o que ele
fez, mandando-nos fazer o mesmo. Aí, a resistência que salva.
padre José Luiz Gonzaga do Prado
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Levantar-se-á o sol da justiça
A liturgia de hoje aborda o tema do
julgamento, mostrando que Deus não pode ser manipulado nem comprado. O
“tribunal” de Deus não favorece uns em detrimento de outros. Por isso, quem
clama por justiça verá que ela acontecerá. No entanto, em Deus justiça e
misericórdia andam juntas e não são contrárias uma à outra. Deus é justo sendo
misericordioso, e é misericordioso sendo justo.
O tema do julgamento está vinculado ao
do último dia. Muitas pessoas temem falar sobre esse assunto, mas a liturgia
nos adverte que é necessário estar sempre preparados enquanto o Senhor não vem.
A ênfase dada pelos textos não se concentra no medo do inferno nem em eventos
históricos desastrosos nem em cataclismos da natureza. Os textos focalizam a
ação de Deus na destruição do mal, na implantação da justiça sobre a terra e na
ação dos cristãos, a saber, dar o testemunho de fé.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Lc 21,5-19): Não tenhais
medo
O texto de hoje utiliza-se de um
recurso literário muito usado na apocalíptica judaica, o testamento de herói. É
uma das formas de mostrar a continuidade da história, do plano divino da
salvação em tempos difíceis. Consiste, principalmente, em discursos do
pseudoautor antes da própria morte/ascensão, nos quais desvela o futuro dos
destinatários e faz exortações a que permaneçam na fidelidade a Deus. Por meio
desse recurso literário, o verdadeiro autor interpreta para os seus
contemporâneos os acontecimentos desastrosos, e assegura-lhes que Deus fará os
fiéis vitoriosos sobre o mal.
O texto começa com a observação sobre o
templo de Jerusalém, e prossegue com a afirmação de Jesus de que tudo será
destruído. As palavras de Jesus querem responder a duas perguntas: quando vai
acontecer e quais os sinais indicativos da proximidade do fim dos tempos. Essas
perguntas são fundamentais para as comunidades do final do século I d.C.
Jesus diz aos discípulos quais são os sinais;
estes não são uma indicação da proximidade do fim dos tempos, mas uma garantia
de que certamente a parusia virá. Por isso, os discípulos não devem ter medo
diante dos rumores sobre o fim, pois o dia e a hora não são conhecidos.
Enquanto a parusia (a vinda de Cristo) não acontece, os discípulos são
exortados à fidelidade, principalmente em tempos de perseguição, como é
desenvolvido nos vv. 12-17. Contudo, o mais importante é saber que quando
chegar o fim será pelo testemunho de fé que os discípulos serão salvos.
2. I Leitura (Ml 3,19-20a): Sereis
livres
O texto de Malaquias enfrenta o
problema do malvado que prospera enquanto o justo sofre. É compreensível se
fazer certas perguntas: que vantagem há em ser bom? De que vale praticar os
mandamentos?
A resposta encontrada pelo profeta é
que Deus cuida de nós, isto é, não estamos sozinhos quando sofremos e no “Dia
do Senhor” a justiça triunfará.
O autor do texto usa a imagem do fogo
reduzindo uma árvore a cinzas, para afirmar que o mal será completamente eliminado
do mundo, não restará mais nenhuma maldade, nem seus ramos nem suas raízes
(3,19).
A Bíblia também se serve do simbolismo
do sol para enfatizar a mesma ideia. No contexto em que o profeta vivia, o sol
era tido como dispensador de calor e de vida, de luz e de justiça porque sempre
brilha para todos. Quando amanhecer o “Dia do Senhor”, a justiça vai brilhar e
o último rastro de maldade será varrido da terra.
3. II Leitura (2Ts 3,7-12): Permaneçais
firmes
Para a mentalidade dos tessalonicenses,
o ser humano se realiza essencialmente na sua dimensão espiritual alienada das
realidades terrenas. O trabalho manual era visto como algo degradante. Partindo
da mentalidade judaica, o autor afirma que a condição corporal do ser humano
não é algo negativo como se fosse um castigo, portanto, o trabalho manual
dignifica o ser humano.
Os espiritualistas, que apregoavam o
final dos tempos para breve, estavam criando um clima de ansiedade e de tanto
frenesi que não havia mais lugar para as tarefas cotidianas. O autor convoca os
tessalonicenses para permanecer firmes tendo o Apóstolo como exemplo.
O autor da carta não é um fanático,
ainda que espere ardentemente pela volta de Jesus ele exorta os cristãos a
viver na fidelidade a Deus e a comprometer-se plenamente com suas tarefas e
obrigações terrenas.
Quando essa carta foi escrita, não
somente o ensinamento de Paulo, mas a própria vida do apóstolo exercia uma
influência muito grande dentro da comunidade, a ponto de ele ser citado como
exemplo a ser imitado.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Os textos de hoje têm o objetivo de
animar os cristãos em sua caminhada de fé mediante os desafios enfrentados em
circunstâncias de perseguição. Quer incentivá-los a permanecer fiéis e a dar
testemunho de sua fé, enquanto esperam a vinda gloriosa de Jesus Cristo.
A imagem que o evangelho apresenta
sobre catástrofes não deve ser tomada ao pé da letra. São imagens próprias do
gênero literário apocalíptico. Querem ressaltar a mudança radical que
acontecerá com a chegada do reino de Deus. Esse simbolismo apenas enfatiza que
o “mundo” presente, dominado pelo mal, será destruído para que surja então um
mundo novo, onde o mal não existe.
É importante deixar claro que a justiça
divina não se assemelha a dos homens (facilmente manipulada pela vingança, por
leis excludentes e distorcidas). Deus não se deixa manipular por ninguém. Sua
justiça é temperada com misericórdia.
Também se deve dar um destaque para o
v. 8: “Tomai cuidado para não serdes enganados”. O que se quer ressaltar com
isso é que os cristãos não devem se deixar enganar por discursos
sensacionalistas que pregam o fim do mundo, fruto de uma leitura literal desse
texto bíblico. Nem tampouco se deixar seduzir por doutrinas que semeiam o medo
de um juízo implacável de Deus. Esse tipo de doutrina gera fanatismo e uma vida
alienada da realidade, na qual se busca uma via de “santidade” fora do mundo,
sem nenhum comprometimento com a transformação da realidade pelo testemunho de
uma vida em Deus.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade
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Vigilância, atenção e coragem!
Este
é o penúltimo domingo do tempo comum. Estamos chegando ao termo de mais um ano
litúrgico de nossa Igreja. Durante todos esses meses Lucas foi nos levando pela
mão. Dentro em breve ele vai ceder o lugar a Mateus. Compreende-se que se tenha
escolhido um texto vigoroso e forte, escrito em estilo apocalíptico em que a
esperança aparece no meio das perseguições e da luta diante das perseguições
para concluir o ano litúrgico da vida da Igreja. Somos convidados à vigilância,
a prestar atenção nos acontecimentos e a não desanimarmos diante das
inevitáveis perseguições que sofrem os que desejam ser fiéis ao Senhor.
Algumas
pessoas faziam observações e comentários a respeito do esplendor do templo.
Toda aquela grandeza fora fruto de um longo e dedicado trabalho de reis,
projetistas e operários. Ora, precisamente aquela grandeza seria destruída. Fim
de Jerusalém, fim dos tempos, fim de cada um? Sinal de catástrofe. Nem mesmo no
templo se deveria fiar. Há um anúncio de sua destruição.
Antes
que esses fatos aconteçam virá o tempo da perseguição: os fiéis serão
enganados, Vão surgir falsos profetas. Pessoas farão prognósticos
sombrios e proferirão ameaças tentando atingir os seguidores de Jesus.
Jesus admoesta: Não os sigais. São os salvadores da pátria, os chefes de novas
igrejas, de seitas loucas que levam à morte. Jesus estaria fazendo alusão à
destruição de Jerusalém que se daria no ano 70?
Há
toda uma descrição de violência e de catástrofes: pestes e mortes, destruição e
terremotos. Sinais do fim? Sinais do endurecimento dos corações? Tudo se resume
numa palavra? Perseguição.
Nesse
momento há um aviso e uma luz. Vem a perseguição. Ela é inevitável na vida do discípulo
como o foi para o Mestre. No meio da perseguição os fiéis darão o testemunho de
fidelidade ao Mestre. Todos os que deram uma resposta pessoal e profunda
a Cristo e ao seu Pai não podem fracassar. Não se tem o direito de
desarrumar a vida, desorganizar projetos. Não é possível fracassar, mesmo
no kairós da perseguição. O que se pede é que seja dado um valente testemunho,
que se tenham coragem e não covardia.
Os
que forem fiéis na hora da perseguições são alentados com uma palavra de
esperança: “Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria
defesa, porque eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos
poderá resistir ou rebater” Uma força do alto estará presente no momento da
tribulação em que os fiéis serão até perseguidos pelos de casa, pelos amigos.
Estão imagens das tribulações dos “últimos tempos” .
No
meio de tudo essa belíssima palavra de esperança: “Vós não perdereis um
só fio de cabelo de vossa cabeça”.
Chegamos
ao final do ano litúrgico em que fomos acompanhados por Lucas. Sabemos que é
permanecendo firmes que iremos ganhar a vida, essa vida em plenitude que começa
aqui e que desemboca no oceano do amor de Deus.
frei Almir Ribeiro Guimaeães
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A Liturgia da Palavra deste domingo fala sobre uma visão do futuro que nos causa medo, insegurança. Parece que tudo acabará desgraçadamente. Haverá pessoas dizendo que são deuses. Haverá guerras, terremotos, conflitos entre pessoas da mesma família… Mas Ele, Jesus, pede para não nos preocuparmos com tudo isso: “Eu é que vos darei respostas tão sábias, a que nenhum dos adversários poderá resistir nem contradizer” (Lc. 21,15).
Paremos
para analisar tudo o que acontece no mundo hoje! Será que isso que o Evangelho
nos mostra irá acontecer, ou já acontece? Se já ocorre, não devemos nos
preocupar, pois Jesus disse que nos daria respostas sábias; mas quais são estas
respostas? De que forma Ele nos fala? Ele também nos diz que é nestas ocasiões
de desavenças e rivalidades que devemos dar testemunho (Lc. 21,13). Que tipo de
testemunho damos para que Deus se manifeste através de nós nestes
acontecimentos frenéticos?
No
final do Evangelho Jesus nos dá uma pista de como devemos ser para nos salvar
em meio a estes acontecimentos: “Pela vossa perseverança, salvareis vossas
vidas” (Lc. 21,19).
Sejamos,
pois, cristãos fiéis e perseverantes, porque apesar dos pesares, Deus está
sempre conosco, mas, muitas vezes nos encontramos distante d’Ele, não por causa
Dele, mas por causa de nós e de nossas vicissitudes que, sem haver
necessidades, fazemos com que existam em nossa vida. Por isso, façamos a nossa
parte, crentes de que Deus faz a Dele e nos ajuda a fazer a nossa. Assim,
confiantes, digamos com São Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl.
4,13).
Reflexão feita pelos Noviços deste
ano
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A perspectiva final
Neste penúltimo domingo do ano
litúrgico, a perspectiva final desenha-se com maior nitidez. Para a Igreja de
Lc, exposta à perseguição (perigo de fora) e à apostasia (perigo de dentro), a
perspectiva do fim deve servir como incentivo à firmeza na profissão da
fé. As perseguições são o prelúdio do juízo de Deus sobre a História, quando
ele fizer justiça aos justos e destruir os ímpios (cf. 1ª leitura). Já a
destruição de Jerusalém, alguns anos antes, foi um sinal “forte”, apontando
para o fim da História (evangelho). Assim também são as aflições do tempo
presente. Mas os cristãos não precisam temer: o Espírito – a força e
inteligência de Deus – está com eles, para se defenderem. Quem ficar firme,
salvar-se-á. Uma idéia secundária, no evangelho, é a advertência de não correr
atrás de qualquer um (por causa da impaciência).
Em At. 5,37, Lc. mesmo lembra Judas o
Galileu e Teudas; podemos também pensar na revolta judaica de 66 d.C. Cansados
de esperar a Parusia, os cristãos eram tentados de seguir pretensos movimentos
messiânicos. Lc. exorta-os a só esperar Jesus Cristo glorioso e, entretanto,
ser suas testemunhas no mundo.
A mensagem é ainda válida. Também nós
estamos na tentação de querer ver acontecer o Reino definitivo de Deus diante
de nossos olhos e de correr atrás dos messianismos modernos: os maravilhosos
mundos novos da tecnocracia, da burocracia, do materialismo prático, do livre
mercado; e, ultimamente, as novas formas de alienação religiosa e
pseudomística! Contra todas essas tentações precisamos da firmeza permanente,
que só o Espírito do Cristo nos pode dar. Aprofundando, pela oração e pela
incansável prática da verdadeira caridade, o nosso espírito, comungando com o
de Cristo, enfrentaremos com firmeza tudo aquilo que pretende ser palavra ou
instância última e não o é! E nada impede que vejamos, como Jesus e seus
contemporâneos, nas cidades destruídas e impérios desarticulados os sinais de
que nenhuma instância humana está acima de tudo, mas só Deus que é o Senhor da
História. Podemos até tentar tirar a força desses impérios, para o bem da
justiça e das pessoas – sem, contudo, pensar que, com isso, estaremos decidindo
o sentido final da História. Pois todo nosso agir é provisório, embora neste
provisório se encarne o eterno: o reino tio amor de Deus (por isso, não o ódio,
mas o amor deve mover nossa práxis histórica).
Ora, existe também o perigo de cruzar
os braços, dizendo: “Se tudo o que fazemos
é provisório, então, que adianta?” Quem raciocina assim, não deveria comer, pois dentro de cinco horas vai ter fome de novo. É mais ou menos o que Paulo responde aos tessalonicenses que sob alegação da proximidade da Parusia passam seu tempo numa alienada (ou muito esperta?) desocupação: “Quem não trabalha, não coma” (2ª leitura). Paulo mesmo deu o exemplo do trabalho para o próprio sustento, para não ser um peso para ninguém. Podemos pensar também no trabalho como meio de sustentação da comunidade humana, trabalho científico, econômico, político, cultural, em uma palavra: trabalho em todos os setores da comunidade humana, até que ela chegue ao ponto definitivo e irreversível, que Deus determina.
é provisório, então, que adianta?” Quem raciocina assim, não deveria comer, pois dentro de cinco horas vai ter fome de novo. É mais ou menos o que Paulo responde aos tessalonicenses que sob alegação da proximidade da Parusia passam seu tempo numa alienada (ou muito esperta?) desocupação: “Quem não trabalha, não coma” (2ª leitura). Paulo mesmo deu o exemplo do trabalho para o próprio sustento, para não ser um peso para ninguém. Podemos pensar também no trabalho como meio de sustentação da comunidade humana, trabalho científico, econômico, político, cultural, em uma palavra: trabalho em todos os setores da comunidade humana, até que ela chegue ao ponto definitivo e irreversível, que Deus determina.
Há pessoas que dizem: não adianta mudar
as estruturas, pois logo se corrompem de novo. Lembrando Paulo, respondemos:
quem diz isso, também não deve comer, pois logo ficará com fome de novo. Ora,
os tessalonicenses que não trabalhavam, não deixavam de comer. Os que não
querem lutar por estruturas melhores, não deixam de aproveitar – e como! – a
existência de estruturas socioeconômicas! O provisório tem seu valor. Relativo,
decerto, mas real. É a encarnação de nossa aspiração à justiça de Deus, que tem
a última palavra. Trabalhar neste sentido, dia após dia, eis a firmeza permanente,
o serviço fiel (cf. oração do dia).
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Ocasião para darmos testemunho
O
atraso da parúsia provocou muitas especulações acerca da “segunda vinda de
Cristo”. Especulações estas que deram origem a um discurso milenarista. A
expectativa da segunda volta de Cristo gerou, ainda, uma tradição de que alguns
fenômenos atmosféricos anunciavam o fim do mundo e, mais, de que Deus seria o
responsável, por causa de sua decepção ante a maldade do ser humano que ele
criou. São Lucas, no entanto, vai se utilizar destes elementos para anunciar um
tempo aberto na história para o testemunho: “Será uma ocasião para dardes
testemunho” (v. 13).
A
menção da destruição do Templo (vv. 5-6), que pode ser considerada uma profecia
ex eventu, não é uma previsão do futuro, mas um modo de ajudar os discípulos e
o leitor do evangelho a superarem as provações do tempo presente. Em outros
termos, o que Jesus quer dizer é o seguinte: não importa o que aconteça, não se
deve esmorecer, nem temer, nem ser envolvido pela perplexidade. É preciso
apoiar a vida em valores verdadeiros e sólidos. Até o Templo, ornado com tantas
pedras preciosas (cf. v. 6), desaparecerá, pois ele figura entre as coisas que
passam. A vida do ser humano deve estar apoiada no que não passa nem
decepciona: Deus. As palavras de Jesus, inspiradas numa linguagem apocalíptica,
não predeterminam nenhuma data, mas fazem um apelo ao discernimento permanente.
Jesus evita responder à pergunta: “... quando será, e qual o sinal de que isso
está para acontecer?” (v. 7). Mas alerta: “Cuidado para não serdes enganados…”
(v. 8). Ele não responde à questão posta, pois a preocupação do discípulo não
deve ser com o quando, mas com que atitude ter em meio às adversidades da vida
e aos dramas da humanidade. Do discípulo é exigida uma atitude de confiança que
nada pode abalar, nem mesmo as catástrofes naturais, nem as perseguições por causa
do evangelho. A propósito das perseguições e da morte, é preciso pôr a vida nas
mãos de Deus: em primeiro lugar, como dissemos, será uma ocasião de dar
testemunho (cf. v. 13) e, em segundo lugar, de confiar que é Deus quem inspira,
dá força e protege a causa de seus eleitos. Nos Atos dos Apóstolos, o próprio
Lucas relata a atitude de Pedro e João, perseguidos pelas autoridades judaicas:
“Quanto a eles, deixaram o Sinédrio muito alegres por terem sido julgados
dignos de sofrer humilhações pelo Nome” (At. 5,41). É na vitória de Jesus
Cristo que deve estar apoiada a esperança dos cristãos: “No mundo tereis
tribulações, mas coragem! Eu venci o mundo” (Jô. 16,33). Com São Paulo podemos,
então, nos perguntar: “Quem nos separará do amor de Cristo?”. E com ele
respondermos: nada nem ninguém (Rm. 8,31-39).
Carlos Alberto Contieri,sj
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A liturgia deste domingo reflete sobre o sentido da história da salvação e diz-nos que a meta final para onde Deus nos conduz é o novo céu e a nova terra da felicidade plena, da vida definitiva. Este quadro (que deve ser o horizonte que os nossos olhos contemplam em cada dia da nossa caminhada neste mundo) faz nascer em nós a esperança; e da esperança brota a coragem para enfrentar a adversidade e para lutar pelo advento do Reino.
Na primeira
leitura, um “mensageiro de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada, céptica e
apática que Jahwéh não abandonou o seu Povo. O Deus libertador vai intervir no
mundo, vai derrotar o que oprime e rouba a vida e vai fazer com que nasça esse
“sol da justiça” que traz a salvação.
O Evangelho oferece-nos
uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer, até à segunda
vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é
comprometer-se na transformação do mundo, de forma a que a velha realidade
desapareça e nasça o Reino. Esse “caminho” será percorrido no meio de
dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força
de Deus.
A segunda
leitura reforça a ideia de que, enquanto esperamos a vida definitiva, não
temos o direito de nos instalarmos na preguiça e no comodismo, alheando-nos das
grandes questões do mundo e evitando dar a nossa contribuição na construção do
Reino.
1º leitura – Mal 4,1-2 - AMBIENTE
O
nome “Malaquias” não é um nome próprio. Significa “o meu mensageiro”; é o
título tomado por um profeta anônimo, sobre o qual praticamente nada
sabemos e que se apresenta como “mensageiro” de Deus.
É,
de qualquer forma, um profeta do período pós-exílico. Na sua época, o Templo já
havia sido reconstruído (cf. Mal 1,10) e o culto já funcionava – ainda que mal
(cf. Mal. 1,7-9.12-13)… No entanto, o entusiasmo pela reconstrução estava
apagado; desanimado ao ver que as antigas promessas de Deus não se tinham
cumprido, o Povo havia caído na apatia religiosa e na absoluta falta de
confiança em Deus… Duvidava do amor de Deus, da sua justiça, do seu interesse
por Judá. Todo este cepticismo tinha repercussões no culto (cada vez mais
desleixado) e na ética (multiplicavam-se as falhas, as injustiças, as
arbitrariedades). Este quadro, posterior à restauração do Templo, situa-nos na
primeira metade do séc. V a.C. (entre 480 e 450 a.C.).
Este
“mensageiro de Deus” reage vigorosamente contra a situação em que o Povo de
Judá está a cair. Coloca cada um diante das suas responsabilidades para com
Jahwéh e para com o próximo, exige a conversão do Povo e a reforma da vida
cultual. A sua lógica é a lógica deuteronomista: se o Povo se obstinar em
percorrer caminhos de infidelidade à Aliança, voltará a conhecer a morte e a
infelicidade; mas se o Povo se voltar para Deus e cumprir os mandamentos,
voltará a gozar da vida e da felicidade que Deus oferece àqueles que seguem os
seus caminhos.
Uma
nota de caráter prático: o texto que nos é hoje proposto aparece, nas edições
mais recentes da Bíblia, numerado não como 4,1-2, mas como 3,19-20.
MENSAGEM
O
nosso texto refere-se ao “dia do julgamento” – isto é, ao dia em que Jahwéh vai
intervir na história, no sentido de destruir o mal, a injustiça, a opressão, o
pecado e fazer triunfar o bem, a justiça, a verdade. Diante do fogo do Senhor
que purifica e renova, “serão como palha os soberbos e malfeitores” e o Senhor
“não lhes deixará nem raiz nem ramos”; em contrapartida, para os que se mantêm
nos caminhos da aliança e dos mandamentos, “nascerá o sol da justiça, trazendo
nos seus raios a salvação”.
De
que é que o “mensageiro” de Deus está a falar? Está a falar do “fim do mundo”?
Não.
Está a referir-se ao “dia do Senhor” – um conceito que aparece com frequência
na literatura profética (cf. Am. 5,18; Sof. 1,14-18; Jl. 2,11) para designar o
momento da intervenção de Deus na história, o momento em que Jahwéh vai
oferecer ao seu Povo a salvação definitiva… O profeta está – utilizando uma
linguagem e imagens tipicamente proféticas – a pedir aos seus concidadãos que
não desanimem nem desesperem, pois Deus vai intervir no mundo para fazer
aparecer um mundo novo.
Trata-se,
fundamentalmente, de um apelo à esperança: “apesar da situação caótica em que
estamos, não desanimemos, mantenhamo-nos fiéis a Jahwéh, pois Deus vai fazer
aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade para todos”. As imagens do
“fogo” devorador e da “palha” que é integralmente queimada são imagens bíblicas
muito comuns na época (sobretudo entre os autores apocalípticos) para
significar a intervenção de Deus, a atuação libertadora de Deus no mundo. Como
imagens que são, não devem ser tomadas à letra…
Para
os cristãos, esta profecia compreende-se à luz da intervenção libertadora de
Jesus: ele é o “sol de justiça” que brilha no mundo e que insere os homens na
dinâmica de um mundo novo – a dinâmica do “Reino”.
ATUALIZAÇÃO
¨
Muitas vezes temos a sensação de que o nosso mundo caminha para o abismo e que
nada o pode deter. Olhamos para o mapa dos conflitos bélicos e vemos pintados
de sangue o presente e o futuro de tantos povos; olhamos para a natureza e
vemo-la devorada pelos interesses das multinacionais da indústria; olhamos para
as pessoas e vemo-las fechadas no seu cantinho, desinteressadas das grandes
questões (fala-se, até, de uma “geração rasca” e de “crise de valores” para
descrever o quadro de desinteresse, de descomprometimento, de ausência de
grandes ideais)… A questão é: a esperança ainda faz sentido? Este mundo tem
saída? Um profeta anônimo de há 2450 anos dá voz à esperança e garante-nos:
Deus não nos abandonou; Ele vai intervir – Ele está sempre a intervir – no
mundo…
¨
É preciso ter consciência de que a intervenção libertadora de Deus não deve ser
projetada apenas para o “último dia” do mundo… Ela acontece a cada instante; e
nós devemos estar numa espera vigilante e ativa, a fim de sabermos reconhecer e
acolher de braços abertos a intervenção salvadora e libertadora de Deus na
nossa história e na nossa vida.
¨
Muitas vezes esta profecia e outras semelhantes são usadas pelas seitas (e, às
vezes, até por certos grupos que se dizem cristãos, mas que seguem o mesmo
percurso das seitas) para incutir medo: “está a chegar o fim do mundo e quem,
até lá, não ganhar juízo, irá sofrer castigos pavorosos e ser atirado para o
inferno”…
Interpretar
estes textos desta forma é distorcer gravemente a Palavra de Deus: eles não
pretendem amedrontar-nos, mas fortalecer a nossa esperança no Deus libertador e
dar-nos a coragem necessária para enfrentar os dramas da vida e da história.
2º leitura – 2Tes. 7-12 - AMBIENTE
Continuamos
a ler a Segunda Carta aos Tessalonicenses. O seu autor dirige-se – como já
vimos nos domingos anteriores – a uma comunidade que vive com entusiasmo a sua
fé e que dá um testemunho vigoroso e comprometido da sua adesão ao Evangelho de
Jesus, mesmo no meio das dificuldades e das perseguições… No entanto, a partida
precipitada de Paulo (que teve de deixar Tessalônica à pressa para fugir a uma
cilada armada contra ele pelos judeus da cidade) não permitiu que a catequese
ficasse completa e que certas questões de fé fossem suficientemente
desenvolvidas e amadurecidas. Uma dessas questões – que inquietava grandemente
os tessalonicenses – era a da segunda vinda do Senhor.
Nesta
carta percebe-se, claramente, que alguns cristãos de Tessalônica, persuadidos
de que a vinda do Senhor estava muito próxima, viviam “nas nuvens”,
negligenciando os seus deveres de todos os dias (2Tes. 2,1-2). Agora, a única
coisa que faz sentido – dizem eles – é ter os braços, os olhos e o coração
voltados para o céu, esperando a vinda gloriosa do Senhor. Esta atitude
compreende-se ainda melhor à luz da antropologia grega, segundo a qual o homem
deve viver voltado para o mundo ideal e espiritual, fugindo o mais possível do
terreno e material; o trabalho manual – de acordo com esta perspectiva – é
degradante, sem valor algum para a construção da pessoa e deve ser evitado a
todo o custo… É este o enquadramento da nossa leitura.
MENSAGEM
O
autor da Segunda Carta aos Tessalonicenses rejeita totalmente esta concepção e
a atitude daqueles que – com a desculpa da iminência da vinda do Senhor – vivem
ocupados com futilidades e não fazem nada de útil. Nas entrelinhas percebemos a
perspectiva de inspiração semita, segundo a qual a condição corporal do homem
não é um castigo; portanto, o trabalho manual não envelhece, mas dignifica.
De
resto, o autor da carta dá como exemplo o próprio Paulo: ele nunca escolheu a
ociosidade, nem viveu à custa de quem quer que fosse (“trabalhamos noite e dia
com esforço e fadiga, para não sermos pesados a nenhum de vós” – v. 8); até
mesmo durante as suas viagens missionárias, Paulo nunca aceitou qualquer
pagamento – o que mostra que o seu amor pelos cristãos e pelas comunidades é
sincero e nunca teve qualquer interesse material.
O
tom desta passagem é exigente, solene, autoritário, pois está em jogo algo de
fundamental – a harmonia da comunidade. É que, se numa comunidade houver
parasitas que vivem à custa dos demais, rapidamente a comunidade chegará a uma
situação insustentável: o equilíbrio romper-se-á, surgirão os conflitos, as
acusações, as divisões e a fraternidade será uma miragem. Viver em comunidade
exige a repartição equitativa dos recursos a que a comunidade tem acesso; mas
exige, também, a responsabilização de todos os membros, a fim de que todos
ponham ao serviço dos irmãos os próprios dons e contribuam para a construção,
para o equilíbrio e para a harmonia comunitárias.
ATUALIZAÇÃO
¨
Ao contrário do que dizem alguns “iluminados”, o cristianismo não fomenta a
evasão deste mundo, nem pretende fazer alienados que vivam de olhos postos no
céu e passem ao lado das lutas dos outros homens… Pelo contrário, o
cristianismo vivido com verdade, seriedade e coerência potencia um empenhamento
sincero na construção de um mundo mais justo e mais fraterno, todos os dias, vinte
e quatro horas por dia. O “Reino de Deus” é uma realidade que atingirá o ponto
culminante na vida futura; mas começa a construir-se aqui e agora e exige o
esforço e o empenho de todos. A minha atitude é a de quem se comprometeu com o
“Reino” e procura construí-lo em cada instante da sua existência?
¨
Nas comunidades cristãs encontramos, com frequência, pessoas que falam muito e
mandam muito, mas fazem muito pouco e, muitas vezes, ainda se aproveitam dos
trabalhos dos outros para se enfeitar de louros… Também encontramos aqueles que
são apenas “consumidores passivos” daquilo que a comunidade constrói, mas não
se esforçam minimamente por colaborar. Qual é a minha atitude face a isto? Dou
a minha contribuição na construção da comunidade? Ponho a render os meus dons?
¨
A Palavra interpela também as comunidades religiosas… A vida religiosa pode ser
apenas uma vida cômoda (com cama, mesa e roupa lavada garantidas) para pessoas
que gostam de viver instaladas, arrumadas, sem ambições… É preciso cuidado para
não nos tornarmos parasitas da sociedade (e, muitas vezes, de pessoas que vivem
muito pior do que nós e que ainda partilham conosco o pouco que têm): a nossa
missão é tornarmo-nos “sinais” que anunciam o mundo novo e trabalhar para que
esse mundo novo seja uma realidade.
Evangelho – Lc. 21,5-19 - AMBIENTE
Estamos
em Jerusalém, nos últimos dias antes da paixão. Como acontece com os outros
sinópticos (cf. Mt 24-25; Mc 13), também Lucas conclui a pregação de Jesus com
um discurso escatológico onde se misturam referências à queda de Jerusalém e ao
“fim dos tempos”. Na versão lucana, Jesus está nos átrios do Templo com os
discípulos (na versão de Mateus e de Marcos, Jesus está no monte das
Oliveiras); é a contemplação das belas pedras do Templo, que leva Jesus a esta
catequese escatológica.
MENSAGEM
O
discurso escatológico que Lucas nos traz é uma apresentação teológica onde
aparecem, em pano de fundo, três momentos da história da salvação: a destruição
de Jerusalém, o tempo da missão da Igreja e a vinda do Filho do Homem (que porá
fim ao “tempo da Igreja” e trará a plenitude do “Reino de Deus”).
O
texto começa com o anúncio da destruição de Jerusalém (vs. 5-6). Na perspectiva
profética, Jerusalém é o lugar onde deve irromper a salvação de Deus (cf. Is.
4,5-6; 54,12-17; 62; 65,18-25) e para onde convergirão todos os povos
empenhados em ter acesso a essa salvação (cf. Is. 2,2-3; 56,6-8; 60,3;
66,20-23). No entanto, Jerusalém recusou a oferta de salvação que Jesus veio
trazer. A destruição da cidade e do
Templo
significa que Jerusalém deixou de ser o lugar exclusivo e definitivo da
salvação. A Boa Nova de Jesus vai, portanto, deixar Jerusalém e partir ao
encontro de todos os povos. Começa, assim, uma outra fase da história da
salvação: começa o “tempo da Igreja” – o tempo em que a comunidade dos
discípulos, caminhando na história, testemunhará a salvação a todos os povos da
terra.
Vem,
depois, uma reflexão sobre o “tempo da Igreja”, que culminará com a segunda
vinda de Jesus (vs. 7-19). Como será esse tempo? Como vivê-lo? Em primeiro
lugar, Lucas sugere que, após a destruição de Jerusalém, surgirão falsos
messias e visionários que anunciarão o fim (o que é, aliás, vulgar em épocas de
crise e de catástrofe). Lucas avisa: “não sigais atrás deles” (v. 8); e
esclarece: “não será logo o fim” (v. 9). A destruição de Jerusalém no ano 70
pelas tropas de Tito deve
ter
parecido aos cristãos o prenúncio da segunda vinda de Jesus e alguns pregadores
populares deviam alimentar essas ilusões… Mas Lucas (que escreve durante os
anos 80) está apostado em eliminar essa febre escatológica que crescia em
certos sectores cristãos: em lugar de viverem obcecados com o fim, os cristãos
devem preocupar-se em viver uma vida cristã cada vez mais comprometida com a
transformação “deste” mundo.
Em
segundo lugar, Lucas diz aos cristãos o que acontecerá nesse “tempo de espera”:
paulatinamente, irá surgindo um mundo novo. Para dizer isto, Lucas recorre a
imagens apocalípticas (“há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino”
– v. 10, cf. Is. 19,2; 2 Cr 15,6; “haverá grandes terremotos e, em diversos
lugares, fome e epidemias; haverá fenômenos espantosos e grandes sinais no céu”
– v. 11), muito usadas pelos pregadores populares da época para falar da queda
do mundo velho – o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração – e do surgimento
de um mundo novo… A questão é, portanto, esta: no tempo que medeia entre a
queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o “Reino de Deus” ir-se-á
manifestando; o mundo velho desaparecerá e nascerá um mundo novo (recordemos
que os discípulos não devem esperá-lo de braços cruzados, à espera que Deus
faça tudo, mas devem empenhar-se na sua construção). É claro que a libertação
plena e definitiva só acontecerá com a segunda vinda de Jesus.
Em
terceiro lugar, Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e
perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até
à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós, pois
Deus estará sempre presente; será com a força de Deus que eles enfrentarão os
adversários e que resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de
Deus que eles poderão, até, resistir à dor de ser atraiçoados pelos próprios
familiares e amigos… Quando Lucas escreve este texto, tem bem presente a experiência
de uma Igreja que caminha e luta na história para tornar realidade o “Reino” e
que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição e o
martírio; as palavras de alento que ele aqui deixa – sobretudo a certeza de que
Deus está presente e não abandona os seus filhos – devem ter constituído uma
ajuda inestimável para esses cristãos a quem o Evangelho se destinava.
O
discurso escatológico define, portanto, a missão da Igreja na história (até à
segunda vinda de Jesus): dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os
discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a
ajuda e a força de Deus.
ATUALIZAÇÃO
¨
O que parece, aqui, fundamental, não é o discurso sobre o “fim do mundo”, mas
sim o discurso sobre o percurso que devemos percorrer, até chegarmos à
plenitude da história humana… Trata-se de uma caminhada que não nos leva ao
aniquilamento, à destruição absoluta, ao fracasso total, mas à vida nova, à
vida plena; por isso, deve ser uma caminhada que devemos percorrer de cabeça
levantada, cheios de alegria e de esperança.
¨
É, sem dúvida, uma caminhada eivada de dificuldades, de lutas, onde o bem e o
mal se confrontarão sem cessar; mas é um percurso onde o mundo novo irá
surgindo – embora com avanços e recuos – e onde a semente do “Reino” irá
germinando. Aos crentes pede-se que reconheçam os “sinais” do “Reino”, que se
alegrem porque o “Reino” está presente e que se esforcem, todos os dias, por
tornar possível essa nova realidade. A nossa vida não pode ser um ficar de
braços cruzados a olhar para o céu, mas um compromisso sério e empenhado, de
forma a que floresça o mundo novo da justiça, do amor e da paz. Quais são os
sinais de esperança que eu contemplo e que me fazem acreditar na chegada
iminente do “Reino”? O que posso fazer, no dia a dia, para apressar a chegada
do “Reino”?
¨
Nessa caminhada, os crentes sabem que não estão sós, mas que Deus vai com eles…
É essa presença constante e amorosa de Deus que lhes permitirá enfrentar as
forças da morte, apostadas em evitar que o mundo novo apareça; é essa força de
Deus que permitirá aos discípulos de Jesus vencer o desânimo, a adversidade, o
medo.
¨
Alguns sinais de desagregação do mundo velho, que todos os dias contemplamos,
não devem assustar-nos: eles são, apenas, sinais de que estamos a nascer para
algo novo e melhor. O perder certas referências pode assustar-nos e baralhar os
nossos esquemas e certezas; mas todos sabemos que é impossível construir algo
mais bonito, sem a destruição do que é velho e caduco.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel
Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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