sexta-feira, 27 de setembro de 2019
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM-Ano C
26º DOMINGO DO TEMPO COMUM-Ano C
29 de Setembro de 2019
Evangelho- Lc
16,19-31
Am 6,1a.4-7; Sl 146; 1Tm 6,11-16;
- O POBRE LÁZARO- Lc
16,19-31-José Salviano
Naquele
tempo, Jesus disse aos fariseus:
19'Havia um homem rico,
que se vestia com roupas finas e elegantes
e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas,
estava no chão à porta do rico.
21Ele queria matar a fome
com as sobras que caíam da mesa do rico.
E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas.
22Quando o pobre morreu,
os anjos levaram-no para junto de Abraão.
Morreu também o rico e foi enterrado.
23Na região dos mortos, no meio dos tormentos,
o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão,
com Lázaro ao seu lado.
24Então gritou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim!
Manda Lázaro molhar a ponta do dedo
para me refrescar a língua,
porque sofro muito nestas chamas'.
25Mas Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te
que tu recebeste teus bens durante a vida
e Lázaro, por sua vez, os males.
Agora, porém, ele encontra aqui consolo
e tu és atormentado.
26E, além disso, há um grande abismo entre nós:
por mais que alguém desejasse,
não poderia passar daqui para junto de vós,
e nem os daí poderiam atravessar até nós'.
27O rico insistiu: 'Pai, eu te suplico,
manda Lázaro à casa do meu pai,
28porque eu tenho cinco irmãos.
Manda preveni-los, para que não venham também eles
para este lugar de tormento'.
29Mas Abraão respondeu:
'Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!'
30O rico insistiu: 'Não, Pai Abraão,
mas se um dos mortos for até eles,
certamente vão se converter'.
31Mas Abraão lhe disse:
`Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas,
eles não acreditarão,
mesmo que alguém ressuscite dos mortos'.'
Palavra da Salvação.
19'Havia um homem rico,
que se vestia com roupas finas e elegantes
e fazia festas esplêndidas todos os dias.
20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas,
estava no chão à porta do rico.
21Ele queria matar a fome
com as sobras que caíam da mesa do rico.
E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas.
22Quando o pobre morreu,
os anjos levaram-no para junto de Abraão.
Morreu também o rico e foi enterrado.
23Na região dos mortos, no meio dos tormentos,
o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão,
com Lázaro ao seu lado.
24Então gritou: 'Pai Abraão, tem piedade de mim!
Manda Lázaro molhar a ponta do dedo
para me refrescar a língua,
porque sofro muito nestas chamas'.
25Mas Abraão respondeu: 'Filho, lembra-te
que tu recebeste teus bens durante a vida
e Lázaro, por sua vez, os males.
Agora, porém, ele encontra aqui consolo
e tu és atormentado.
26E, além disso, há um grande abismo entre nós:
por mais que alguém desejasse,
não poderia passar daqui para junto de vós,
e nem os daí poderiam atravessar até nós'.
27O rico insistiu: 'Pai, eu te suplico,
manda Lázaro à casa do meu pai,
28porque eu tenho cinco irmãos.
Manda preveni-los, para que não venham também eles
para este lugar de tormento'.
29Mas Abraão respondeu:
'Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!'
30O rico insistiu: 'Não, Pai Abraão,
mas se um dos mortos for até eles,
certamente vão se converter'.
31Mas Abraão lhe disse:
`Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas,
eles não acreditarão,
mesmo que alguém ressuscite dos mortos'.'
Palavra da Salvação.
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PRIMEIRA
LEITURA
Amós critica, denuncia o uso egoísta dos bens e a insensibilidade dos
comerciantes diante dos necessitados, os quais eram explorados para manter o
poder econômico dos opressores.
O
profeta avisa que Deus não está de acordo com esta situação, pois este sistema de
egoísmo, exploração, exclusão e injustiça não faz parte do projeto de Deus para
os homens e para o mundo.
No reino do Norte de Israel, por volta de 762 a.C. Nasce, uma classe dirigente
poderosa, cada vez mais rica, que vive no luxo, e que explora os pobres e eram
apoiados por juízes corruptos. Por isso, cometem as maiores injustiças contra
os pobres, vítimas inocentes e silenciosas de um sistema que gera injustiça,
miséria, sofrimento, opressão. É neste contexto que o “profeta da justiça social”
vai fazer ouvir a sua denúncia.
SEGUNDA
LEITURA
Na segunda leitura Paulo nos aconselha a sermos pessoas de Deus. Ele
nos mostra como deve ser o verdadeiro cristão, o “homem de Deus”: É aquele que ama
os irmãos, foge das coisas perversas, e procura a justiça, a piedade, a fé, o
amor, a firmeza, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida
eterna, para a qual foste chamado.
Tudo isso você e eu estamos fazendo. Certo? Não estamos agindo de forma
egoísta, nem prejudicamos o nosso irmão, estamos evitando tudo que nos afasta
de Deus, somos justos, piedosos, e estamos alimentando a nossa fé todos os dias
com a leitura, a oração e a Eucaristia, e mais. Somos cristão engajados na
Igreja, participando das pastorais... Que mais?
EVANGELHO
O
rico que hoje rega sua boca com finos vinhos, poderá um dia na mansão dos
mortos, não ter uma gota de água para refrescar a sua língua. Enquanto que o
miserável que tenta dormir na calçada, não tem uma gota de água para matar a
sua sede, agora está salvo, feliz, pois ele morreu, e os anjos levaram-no para
junto de Abraão! Esta é a palavra do Senhor, meus irmãos! Escute-a enquanto é tempo.
Hoje
devido a má distribuição da renda nacional, uma minoria de 20% da população
vive no luxo, na opulência, bem vestidos e com muito dinheiro. Enquanto que os Lázaros da sociedade, têm de
sobreviver com salários de fome sob a ameaça de serem desempregados. Por isso
eles não reclamam!
Os pobres do tempo do profeta Amós, eram conformados com a sua situação de
penúria, vítimas inocentes e silenciosas de um
sistema que gerava injustiça, miséria, sofrimento, opressão, não sabiam o que
fazer para sair daquela situação. Hoje, ao contrário, a catequese do mal
estampada nas diversas telas, TV. cinema, computador, ensina aos jovens que
para comprar o tênis da hora, a roupa de marca e tudo mais que é
anunciado na propaganda, é muito fácil. Pois é só pegar um revolver, e
sair por aí arrecadando dinheiro das pessoas indefesas. Assim temos os
arrastões aos restaurantes, as invasões de residência, e os demais tipos de
assaltos. E não adianta tentar combater essa violência com aparatos eletrônicos
de segurança, soldados armados até os dentes, vidros a prova de bala, porteiros
eletrônicos, nem mesmo com a prisão dos ladrões. Pois tudo isso
seria atacar a doença social pelo seu efeito, em vez de eliminar a sua causa,
que é a má distribuição da renda. Enquanto tivermos uma minoria com muito
dinheiro e uma maioria com muito pouco dinheiro e ainda uma mídia mostrando todos
os produtos para todos comprarem, a violência não vai acabar, mais sim, pelo
contrário, infelizmente vai aumentar.
"Filho,
lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os
males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado".
Geralmente o pobre quando se vê diante de um rico arrogante, esbanjando
otimismo e contando vantagens, a tendência é: Sentir-se um verme, e ficar
movido por um grande sentimento de inferioridade!
Quer um conselho? Não faça isso! Pelo contrário, tenha pena daquele homem com
muito dinheiro porém, um homem sem Deus. Ele é rico neste mundo, porém é pobre
diante de Deus. Ele junta tesouros na Terra mais não tem nenhum centavo
depositado no banco da Vida Eterna, isto é, nos Céus. Ele se apega
tanto ao dinheiro e aos bens materiais, justamente porque não tem Deus com
ele. Ele não se apega a Deus. Por isso para não se sentir inseguro, se
apoia na riqueza.
Ao contrário, o pobre que não tem nada de material a se apegar, se apega com Deus diante de seus
sofrimentos e necessidades. O pobre, ao contrário do rico, aquele pobre que está com Deus, sabe que pode
recorrer ao seu infinito poder e a sua infinita misericórdia, quando as coisas
ficarem mais pretas do já estão.
Isso
não quer dizer que nem todo pobre vive na presença de Deus. Não podemos afirmar
que só pelo fato de alguém ser pobre já está salvo pois Deus ama os
pobres. Sim, é verdade. Deus ama os pobres, tem preferência por eles,
porém, nem todos os pobres preferem a Deus!
Nem todos eles são humildes, honestos, e dignos da amizade com o
Criador. Infelizmente existem aqueles pobres que se desviaram do caminho da
justiça e da paz.
Desta forma, não é correto afirmar que todo rico é arrogante , orgulhoso
e descrente, nem todo pobre é humilde, bonzinho, obediente a Deus.
Mais Deus em sua infinita bondade, quer a
salvação de todos nós, pobres e ricos. Ele enviou o seu Filho a este mundo para
por em prática o seu Plano de salvação que é para todos, muito embora nem todos
o aceitaram. E é exatamente aí que
reside o grande problema da humanidade! A recusa do Plano de Deus é a
causa de todo o mal no mundo.
Você reparou que Jesus não fala o nome do homem rico? É porque o homem pobre ,
Lázaro, para Deus é mais importante! O pobre para Deus é mais importante do que
o rico.
O
pobre Lázaro representa os mendigos de hoje, espalhados pelas calçadas da
vida... São também os zumbis da “Cracolândia”,
jovens
com cirrose hepática e sérias complicações cardíacas devido ao uso de drogas
pesadas, vivendo no submundo isolados da sociedade deconsumo.
O Lázaro da parábola são aqueles que não têm como tomar um banho, que não podem
escovar os dentes, nem muito menos se livrar do frio, e esperam ansiosos que
alguma alma caridosa lhes mate parte da sua fome com uma migalha de
comida... Enquanto o rico desfruta de todo o conforto sem nem pensar que
naquele mesmo momento, há muitos Lázaros passando as maiores agruras por não
possuírem absolutamente nada. Portanto, nem espere continuar essa mordomia na
outra, vida! Pois depois da morte, é a vez do pobre desfrutar do que não pode
ter aqui nesta vida.
E
a advertência de Jesus para nós também é pesada:
“Ai dos que vivem
despreocupadamente em Sião... e não se preocupam com a ruína de José!”
Prezado irmão. Enquanto é tempo vamos socorrer o nosso irmão.
Imaginemo-nos no seu lugar! Se dentro do conforto do nosso lar é difícil
suportar a dureza do frio intenso, imagine aquele pobre coitado lá fora o
que ele deve estar sentindo? Muitos morrem por não aceitar ajuda dos
funcionários do abrigo público.
Vamos lá! Não seja tão cruel! Sejamos piedosos e caridosos para os nossos
pobres e miseráveis irmãos, e assim também o Pai o será para conosco. Vamos dar
um pouco do muito que Deus nos deu e assim estaremos construindo um tesouro
Céus.
Vai
e faça o mesmo. Bom domingo.
José
Salviano
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IGNORAR
O POBRE É IGNORAR O PRÓPRIO JESUS - Olivia Coutinho
26º
DOMINGO DO TEMPO COMUM
Dia
29 de Setembro de 2019
Evangelho
Lc16,19-31
O Evangelho que a liturgia deste Domingo, nos convida a refletir, vem nos falar de uma realidade, que nós, como seguidores de Jesus, não podemos conformar: a injustiça social. Como cristãos verdadeiros, comprometidos com o evangelho, não podemos fechar os olhos diante a esta triste realidade que aí está: irmãos nossos, vivendo às margens da sociedade, sobrevivendo das migalhas que caem da mesa daqueles, que tomam para si, o quê, de direto, também pertence a eles.
A
desigualdade social, uns com tanto, outros sem nada, fere o coração de
Jesus como aquela lança, que pelas as mãos de um soldado, perfurou o seu lado.
Através
de uma parábola, Jesus nos alerta, sobre a importância de cuidarmos dos pobres
como que dizendo: são os pobres, os amigos de Deus, que abrirão as
portas do céu para nós!
Na história,
Jesus não cita o nome do rico, somente o nome do pobre, que chamava Lázaro, o
que reafirma a sua predileção pelos os pobres, estes, Jesus os conhece pelo
nome. O rico, não chegou a maltratar Lázaro diretamente, o seu pecado, foi
ignorá-lo, foi por causa sua indiferença a um pobre, que ele perdeu a
oportunidade de alcançar, através da caridade, a vida eterna.
É
importante compreendermos: Deus não é contra os ricos, o que Ele condena,
é o mal uso da riqueza, o enriquecimento ilícito às custas do
empobrecimento do outro. A condenação do rico da parábola, não foi pelo do fato
dele ser rico e sim, pelo o bem que ele deixou de fazer a um pobre.
Podemos comparar o rico desta história, com aqueles que detêm o poder e com muitos de nós, que dizemos seguidores de Jesus, mas ignoramos os seus prediletos, que são os pobres.
O Lázaro representa o povo ignorado, sofrido e oprimido e como existe Lázaros espalhados pelo mundo afora!
Podemos comparar o rico desta história, com aqueles que detêm o poder e com muitos de nós, que dizemos seguidores de Jesus, mas ignoramos os seus prediletos, que são os pobres.
O Lázaro representa o povo ignorado, sofrido e oprimido e como existe Lázaros espalhados pelo mundo afora!
Outra
coisa que deve chamar a nossa atenção nesta parábola, é que Lázaro, mesmo sendo
pobre, sobrevivendo das migalhas que caía da mesa do rico, não reclamava da
vida, o que vem nos dizer, que ele tinha total confiança na promessa de Deus,
promessa esta, que se cumpriu, com o seu acolhimento no céu!
O texto, deixa claro, que é impossível transpor o abismo que separa o inferno do paraíso. A ponte que nos liga ao céu, deve ser construída aqui na terra, no aqui e no agora, através de nossos gestos concretos de amor ao próximo, depois da nossa passagem, não há como construí-la.
Não esperemos que o pobre venha até nós, para que possamos ajudá-lo, a exemplo de Jesus, vamos até ele, certifiquemos de suas necessidades, conheçamos a sua história, demonstremos interesse por ele, e não esqueçamos: a fome do pobre, nem sempre é só de pão, é também fome de amor...
Precisamos aprender a olhar o irmão, com o olhar de Jesus, um olhar que não apenas constate as suas necessidades, mas que nos leve a ajudá-lo.
Como filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos em Cristo, formamos uma só família, portanto, somos corresponsáveis pela vida do nosso irmão, se o seu problema, chegou até a nós, não podemos transferi-lo para outros.
O texto, deixa claro, que é impossível transpor o abismo que separa o inferno do paraíso. A ponte que nos liga ao céu, deve ser construída aqui na terra, no aqui e no agora, através de nossos gestos concretos de amor ao próximo, depois da nossa passagem, não há como construí-la.
Não esperemos que o pobre venha até nós, para que possamos ajudá-lo, a exemplo de Jesus, vamos até ele, certifiquemos de suas necessidades, conheçamos a sua história, demonstremos interesse por ele, e não esqueçamos: a fome do pobre, nem sempre é só de pão, é também fome de amor...
Precisamos aprender a olhar o irmão, com o olhar de Jesus, um olhar que não apenas constate as suas necessidades, mas que nos leve a ajudá-lo.
Como filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos em Cristo, formamos uma só família, portanto, somos corresponsáveis pela vida do nosso irmão, se o seu problema, chegou até a nós, não podemos transferi-lo para outros.
É
bom tomarmos consciência, de que no nosso julgamento final, seremos muito mais
cobrados pelo o bem que deixamos de fazer, do que pelo o que fizemos de errado.
O
que vai nos salvar, não é as nossas orações bonitas, o símbolos religiosos que
carregamos, e sim, o nosso amor a Deus transformado em serviço, o amor vivido
na prática da caridade.
No
rosto desfigurado do pobre, está estampado o semblante de Jesus, ignorá-lo, é
ignorar o próprio Jesus.
FIQUE
NA PAZ DE JESUS! – Olívia Coutinho
Venha
fazer parte do meu grupo de reflexão no Facebook:
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As leituras deste domingo estão em
sintonia com aquelas do domingo anterior, quando reforçam o tema da economia na
ótica da justiça social. Amós tece duras críticas contra a classe dominante, os
ricos de Israel e de Judá. A comunidade de Lucas faz memória do ensinamento de
Jesus sobre o rico avarento e o pobre Lázaro. Dois opostos insuportáveis aos
olhos de Deus, e isso deve ser a nossa bússola de orientação nesses dias que
antecedem as eleições. Saber escolher os nossos governantes é fundamental para
a realização de uma sociedade justa e fraterna.
Neste último domingo do mês de
setembro, também não podemos nos esquecer do dia dedicado à Bíblia. Ela que é a
carta magna da fé judaica e cristã. O substantivo Bíblia nos remete a um outro,
biblioteca. É isso mesmo. A Bíblia é uma biblioteca composta de livros, os
quais fazem parte de uma literatura que levou séculos para ser escrita.
Parafraseando o grande mestre da leitura popular da Bíblia, frei Carlos
Mesters, a Bíblia nasceu da vontade de o povo ser fiel a Deus e a si mesmo.
Nasceu da preocupação de transmitir aos outros e a nós essa fidelidade. Ela
nasceu sem rótulo. Só mais tarde, o próprio povo descobriu nela a expressão da
vontade e da presença real de uma Palavra Santa (Bíblia, livro feito em mutirão
- Paulus, 1986, p. 8).
Divididos em Primeiro e Segundo
Testamentos, os livros da Bíblia estão organizados em forma de uma grande
inclusão (forma literária em que uma palavra, uma frase ou um conceito presente
no início reaparece no fim e funciona como um enquadramento, que delimita e
encerra tudo o que ficou “incluído” entre eles, como em um sanduíche); no
início (Gênesis) e no fim (Apocalipse), encontramos referência ao Éden, o
paraíso da economia vivida na liberdade e na fraternidade entre homens e
mulheres. No centro, nos livros de Malaquias e Mateus, temos duas personagens
ímpares do judaísmo e cristianismo, Elias e Jesus. Elias voltará e Jesus veio
para nos propor, na inspiração da fé judaica, o Reino de Deus, que tem como baliza
fundamental a opção pelos pobres e oprimidos de ontem e de hoje. É o que
veremos nos textos das leituras que passamos a comentar.
1º
leitura (Am. 6,1a.4-7): punição para os nobres corruptos
Amós se volta de forma drástica contra
os ricos governantes de Israel e Judá – as críticas se dirigem, de fato, aos
nobres da Samaria, capital político-administrativa do Reino do Norte. O texto
foi modificado para referir-se a Sião/Jerusalém (Reino do Sul), os nobres da
primeira das nações: governantes, cortesãos, oficiais e latifundiários. O
motivo é simples: eles vivem tranquilos e seguros na capital e nas montanhas,
os seus leitos são de marfim, possuem divãs, se alimentam de cordeiros e
novilhos, fazem festas orgiásticas ao som de harpa e com vinhos finos. E o que
é pior: eles não estão nem aí para os pobres do país que estão ao seu lado.
Eles usufruíam o bem-estar das minorias, advindo das conquistas de Jeroboão II,
bem como esperavam o dia de Javé, que seria a redenção de Israel. Amós dirá que
esses homens são os verdadeiros responsáveis pela violência social e econômica
do seu povo. A vida luxuosa deles era fruto da opressão dos pobres, do roubo e
da corrupção (Am 3,9-10; 2,6-8; 4,1-3; 5,10-12). Tendo que manter essa
situação, como não criar injustiças? Esses ricos viviam numa situação de orgia
(v. 7b), alicerçados numa falsa intuição de que toda aquela situação era de
bênção de Deus.
A semelhança dessa situação com os
nossos dias é mera coincidência? Não. As classes dirigentes parecem mudar
somente os figurantes. Os mensalões e os “panetones de Brasília” continuam a se
repetir. Infelizmente, a classe política brasileira deixou se levar pela
corrupção.
O que diria o profeta Amós? Vocês, os
nobres, serão exilados, vão puxar a fila dos deportados para uma terra estrangeira.
E foi isso mesmo que ocorreu anos depois, em 722 a.E.C., quando os dominadores
assírios chegaram e destruíram a capital de Israel, Samaria, e levaram todos
para o exílio. E aí o ai do profeta já não mais pode surtir efeito. Não tinha
mais como voltar atrás. Deus tinha dado o seu veredicto.
2.
Evangelho (Lc. 16,19-31): o rico injusto escolhe a própria condenação
O texto que antecede essa parábola é o
que vimos na semana anterior, “não é possível servir a Deus e ao Dinheiro” (Lc
16,13), ensinamento central do capítulo. A parábola, modo de ensinar de forma
comparativa, muito utilizada por Jesus, tem como seu público-alvo os fariseus,
chamados de amigos do dinheiro (16,14). Ela faz parte da grande viagem de Jesus
a Jerusalém, chamada também a viagem lucana (9,51-19,27), de cunho
teológico-catequético. Quem acompanha a trajetória de Jesus vai entendendo os
desafios e as condições para ser um cristão, um seguidor do mestre Jesus de
Nazaré.
O evangelho de hoje tem forte relação
com a primeira leitura. É um modo encontrado por Jesus para ensinar a tradição
da fé judaica: é preciso fazer esmola, isto é, fazer justiça. Em hebraico,
esmola se diz Tzedakáh e justiça, Tzedek. Esmola deriva de justiça. Fazer
esmola, como ensinam os judeus, significa cumprir a Torá (Bíblia), isto é,
fazer justiça. Quando um judeu pobre gritava pelas ruas Tzedakáh, todos
entendiam: “Faça justiça! Cumpra a Torá!”. E esse grito incomodava qualquer
judeu piedoso. A Torá, a Lei de Deus, não estava sendo cumprida, o que
implicava estar fora do caminho de Deus. O judaísmo conclama os seus adeptos a
fazer esmola. E fazer esmola (Tzedakáh) é agir com justiça no que diz respeito
a como cada judeu ganha, gasta e compartilha suas riquezas. No pensamento
judaico, esmola não tem um sentido religioso moral cristão de “dar esmola”.
Esmola é um modo de ser, mais que oferecer ou dar. Tzedakáh é mais que
caridade, expressão de fé piedosa diante do sofrimento do outro. Viver de modo
justo na relação com as pessoas é fazer Tzedakáh. A esmola não pode ser em
função da vanglória daquele que dá esmola, mas deve ser um gesto de
solidariedade e justiça. Fazer esmola, fazer justiça, é melhor que dar esmola.
Nisso, sou mais judeu que cristão.
A cena do evangelho, nessa perspectiva
do fazer esmola, é simples. De um lado, um rico epulão e bem-vestido, com
púrpura e linho – material importado da Fenícia e do Egito, e, do outro, um
pobre de nome Lázaro que jazia à sua porta, esperando comer as migalhas de seus
banquetes. Lázaro significa “aquele que vem em ajuda de”. Ele espera ser
ajudado com obras de justiça, de divisão dos bens.
Com elementos da fé dos antepassados:
inferno, céu e o Patriarca Abraão, a parábola relata a cena que paira na cabeça
de muitos: os bons estão no céu e os maus, no inferno, separados por um abismo.
Tranquilidade e banquete de um lado, tormento e fogo do outro. A Bíblia nos
oferece muitas imagens do inferno (Jacir de Freitas Faria - O outro Pedro e a
outra Madalena. Uma leitura de gênero. 3 ed. Petrópolis - Vozes, p. 76-102):
uma delas é essa da parábola de hoje: um lugar do desespero e do pavor. Receber
a pena do inferno é o mesmo que entrar em pânico. É saber que um lugar sombrio
me espera. Jesus usa a imagem do choro e do ranger os dentes dos que forem para
o inferno (Lc. 13,28). Ele também compara o inferno com o verme que não morre
(Mc. 9,48), bem como à Geena, lixão da cidade de Jerusalém. As imagens usadas
na Bíblia para descrever o inferno são todas simbólicas. O fogo que devora
simboliza a absoluta frustração humana e o seu total distanciamento de Deus
(Leonardo Boff, Vida para além da morte. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 90).
Diante de tal situação, só resta ao ser humano chorar e ranger os seus dentes,
na escuridão de uma vida sem utopias, no exílio de opção feita por ele mesmo. É
o que ocorre com o rico da parábola de hoje. Ele implora ao pai Abraão que
Lázaro venha lhe trazer água, que vá até à casa de seus cinco irmãos para
avisá-los da sua situação desesperadora e que mudem de vida. Nenhum desses
pedidos pode ser atendido. A situação estava posta por opção do rico, o ser
humano opressor. O número citado, cinco, relembra o Pentateuco; Moisés, toda a
lei e os profetas. Isso quer dizer que o rico e seus cinco irmãos tinham e têm
a Palavra de Deus (Bíblia) para observar e mudar de vida. Se assim não o fazem,
mesmo que um morto, Lázaro, ressuscite para ensinar-lhes o caminho, eles não o
fariam. Os judeus não acreditavam em sinais, milagres. Jesus fez muitos deles,
e, mesmo assim, eles não se converteram. O fim é trágico, mas é fruto da opção
que fazemos, assim como os ricos da primeira leitura.
2
leitura (1Tm. 6,11-16): viver como homem de Deus
Ao escrever ao amigo Timóteo, Paulo o
exorta a viver como homem de Deus, isto é: seguir a justiça, a piedade, a fé, o
amor, a perseverança e a mansidão, combater o bom combate da fé, conquistar a
vida eterna, guardar o mandamento de Jesus até o dia de sua Aparição. Antes
disso, que o cristão professe a fé e testemunhe Jesus ressuscitado (vv. 12-13).
Ser homem de Deus é ser profeta, assim
como Elias e Eliseu que receberam esse título por terem deixado o palácio e se
aproximado do povo. Com eles, o rei, se precisasse de um profeta, teria de ir
aonde o profeta estava, no meio do povo. Muitos cristãos da comunidade de Éfeso
estavam fazendo da pregação do evangelho uma fonte de lucro. Atitude parecida
com a de muitos cristãos de hoje. Abrir uma igreja é o mesmo que abrir negócio,
uma empresa lucrativa. Paulo é claro no ensinamento: “Fuja dessas coisas” (v.
11). A fé não é para ser debatida, sobretudo de forma fundamentalista, mas
vivenciada.
Paulo termina com uma doxologia (vv.
15-16): a Deus honra e poder eterno. É um hino litúrgico de origem judaica. Ele
ensina que o cristão deve prestar culto somente a Jesus, pois ele possui a
imortalidade, a vida plena. Viver o projeto apresentado por Jesus é encontrar
Deus (vv. 11-12).
Essa breve leitura reforça o
ensinamento das outras leituras deste domingo, mostrando que o cristão é aquele
que segue os ensinamentos de Jesus e não anda conforme as injustiças dos seres
humanos deste mundo. O seu combate está em outra esfera. Ele luta como atleta
para chegar ao Reino pregado por Jesus, e este já começa aqui.
PISTAS
PARA REFLEXÃO
Chamar atenção para o dia da Bíblia e
suas interpretações a partir das leituras deste domingo. Dar um destaque para a
Bíblia na celebração.
Fazer uma análise da situação econômica
do país, dando destaque para as eleições e tendo como pistas de reflexão a
questão da riqueza e seu uso indevido pelos governantes. Mostrar que quem faz
opção de servir ao Dinheiro acabará perdendo a vida.
Perguntar pelos sinais de solidariedade
que a comunidade demonstra na relação entre rico e pobre. Ela está a serviço
dos pobres e contra a pobreza? Ou existe um abismo, um fosso, entre ela e os
pobres? A comunidade se preocupa em dar ou fazer esmola?
frei Jacir de Freitas Farias, ofm -
www.paulus.com.br
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Antes de entrar no tema próprio da Palavra de Deus deste domingo,
convém chamar atenção para três idéias do Evangelho que desmentem três erros
que se pregam por aí a fora:
(1) Jesus hoje desmente os que afirmam que os mortos estão
dormindo. É verdade que, antes do Exílio de Babilônia, quando ainda não se
sabia em Israel que havia ressurreição, os judeus e seus textos bíblicos diziam
que quem morria ia dormir junto com os pais no sheol. Tal idéia foi superada já
no próprio Antigo Testamento, quando Israel compreendeu que o Senhor nos
reserva a ressurreição. Então, os judeus pensavam
que quem morresse, ficava bem vivo, na mansão dos mortos, à espera do
Julgamento Final. Já aí, havia uma mansão dos mortos de refrigério e paz e uma
mansão dos mortos de tormento. É esta crença que Jesus supõe ao contar a
parábola do mau rico e do pobre Lázaro. Então, nem mesmo para os judeus, que
não conheciam o Messias, os mortos ficavam dormindo! Quanto mais para nós,
cristãos, que sabemos que “nem a morte nem a vida nos poderão separar do
amor de Cristo” (Rm 8,38-39). Afirmar que os mortos em Cristo ficam
dormindo é desconhecer o poder da ressurreição de Nosso Senhor. Muito pelo
contrário, como para São Paulo, o desejo do cristão é “partir
para estar com Cristo” (Fl 1,23). Deus nos livre da miséria de
pensar que os mortos em Cristo ficam presos no sono da morte!
(2) Outro erro que a parábola corrige é o de quem prega que o
inferno não é eterno. Muitas vezes nas Escrituras – e aqui também – Jesus
deixou claro que o céu e o inferno são por toda a eternidade. Na parábola, aparece claro
que “há um grande abismo” entre
um e outro! Assim, cuidemos bem de viver unidos ao Senhor nesta única vida que
temos, pois “é um fato que os homens devem morrer uma só
vez, depois do que vem um julgamento” (Hb 9,27). Que ninguém se
iluda com falsas esperanças e vãs ilusões, como a reencarnação!
(3) Note-se também como os mortos não podem voltar, para se
comunicarem com os vivos. O cristão deve viver orientado pela Palavra de Deus e
não pela doutrina dos mortos! Morto não tem doutrina, morto não volta, morto
não se comunica com os vivos! Além do mais, os judeus não pensavam que os
espíritos se comunicassem com os vivos. Observe-se que o que o rico pede é que
Lázaro ressuscite, não que apareça aos vivos como um espírito desencarnado.
Daí, a resposta de Jesus: “Eles não acreditarão, mesmo que alguém
ressuscite dos mortos”!
Com estes esclarecimentos, vamos à mensagem da Palavra para este
hoje. Jesus continua o tema de domingo passado, quando nos exortou a fazer
amigos com o dinheiro injusto. Este é o pecado do rico do Evangelho de hoje:
não fez amigos com suas riquezas. Se tivesse aberto o coração para Lázaro,
teria um amigo a recebê-lo no céu! É importante notar que esse rico não roubou,
não ganhou seu dinheiro matando ou fazendo mal aos outros. Seu pecado foi
unicamente viver somente para si: “se vestia com roupas finas e elegantes e fazia
festas esplêndidas todos os dias”. Ele foi incapaz de enxergar o
“pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, que estava no chão”, à sua porta. “Ele
queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso,
vinham os cachorros lamber suas feridas”. O rico nunca se incomodou com aquele
pobre, nunca perguntou o seu nome, nunca procurou saber sua história, nunca
abriu a mão para ajudá-lo, nunca deu-lhe um pouco de seu tempo. O rico jamais
pensou que aquele pobre, cujo nome ninguém importante conhecia, era conhecido e
amado por Deus. Não deixa de ser impressionante que Jesus chama o miserável
pelo nome, mas ignora o nome do rico! É que o Senhor se inclina para o pobre,
mas olha o rico de longe! Afinal, os pensamentos de Deus não são os nossos
pensamentos!
É esta falta de compaixão e de solidariedade que Jesus não
suporta, sobretudo nos seus discípulos; não suporta em nós. Já no Antigo
Testamento, Deus recrimina duramente os ricos de Israel: “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que s e sentem
seguros nas alturas de Samaria! Os que dormem em camas de marfim, deitam-se em
almofadas, comendo cordeiros do rebanho; os que cantam ao som da harpa, bebem
vinho em taças, se perfumam com os mais finos ungüentos e não se preocupam com
a ruína de José”. É
necessário que compreendamos isso: não podemos ser cristãos sem nos dar conta
da dor dos irmãos, seja em âmbito pessoal seja em âmbito social. Olhemos em
volta: a enorme parábola do mau rico e do pobre Lázaro se repetindo nos tantos
e tantos pobres do nosso País, do nosso Estado, da nossa Cidade, muitas vezes
bem ao lado da nossa indiferença. Como o mau rico, estamos nos acostumando com
os meninos de rua, com os cheira-colas, com os miseráveis e os favelados, com o
assassinato dos moradores de rua... A advertência do Senhor é duríssima: “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião... e não se preocupam
com a ruína de José!”
Talvez, ouvindo essas palavras, alguém pergunte: mas, que posso eu
fazer? Pois eu digo: comece por votar com vergonha nestas eleições municipais!
Não vote nos ladrões, não vote por interesse, não vote nos corruptos, não vote
nos descomprometidos com os mais fracos, não vote em que não tem nada além de
palavras e promessas vazias! Vote com sua consciência, vote buscando o bem
comum. Dê-se ao trabalho de escolher com cuidado seus candidatos, dê-se ao
trabalho, por amor aos pobres, de pensar bem em quem votar! Só isso? Não! Olhe
quem está ao seu lado: no trabalho, na rua, no sinal de trânsito, no seu
caminho. Olhe quem precisa de você: abra o coração, abra os olhos, abras as
mãos, faça-se próximo do seu irmão e ele o receberá nas moradas eternas.
Durante dois domingos seguidos o Senhor nos alertou para nosso
modo de usar nossos bens. Fomos avisados! Um dia, ele nos pedirá contas! Que
pela sua graça, nós tenhamos, um dia, amigos que nos recebam nas moradas
eternas.
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“Senhor, tudo o que fizestes conosco,
com razão o fizestes, pois pecamos contra vós e não obedecemos aos vossos
mandamentos. Mas honrai o vosso nome, tratando-nos segundo vossa misericórdia”
(cf. Dn 3,31.29s.43.42)
Na primeira leitura deste domingo Amós(cf. Am 6,1a.4-7) denuncia o
luxo e a luxúria das classes dominantes, enquanto o povo é ameaçado pela
catástrofe da injustiça social e da invasão assíria. Por isso, esses ricaços
sairão ao exílio na frente dos deportados... Amós evoca ironicamente a gloriosa
história antiga: os ricos, porque tem uma cítara para tocar, acham que são
cantores como Davi... Samaria é a casa de José, mas José distribuía alimento
aos de sua casa...
Fica latente que este trecho da primeira leitura é uma contundente
censura de Amós à “sociedade de consumo” de Jerusalém e Samaria. Os seus
habitantes aproveitam a vida, sem se importar com a ruína do povo. Por isso, a
elite destas cidades tem que ir ao cativeiro, para aprender o que é a justiça e
o direito. Até parece que o filme da história se repete na sociedade atual tão
consumista, tão voltada para o luxo desnecessário e para o prazer desenfreado,
insensível aos muitos problemas que vivemos com a pobreza e a exclusão.
A insensibilidade pelo sofrimento das pessoas mais humildes,
excluídas e pobres, que estão a margem da sociedade, é também o tema inicial da
parábola do rico e de Lázaro que lemos no Evangelho de hoje (Lc. 16,19-31).
Continuamos refletindo sobre o uso das riquezas que são dons de Deus e, assim,
deve ser colocada a serviço de todos.
Jesus nos pede que tenhamos presente a dialética entre o eterno e
o temporal. Aos que colocam a finalidade da sua vida nos bens temporais não é
fácil convencer-se da sublimidade dos bens eternos.
Assim já nos ensinou a Bem Aventurada Virgem Maria naquele cântico
maravilhoso, o Magnificat: “Depôs do trono os poderosos e elevou os
humildes; encheu de bens os famintos e mandou embora os ricos de mãos vazias”
(cf. Lc. 1,52-53).
Na segunda leitura da liturgia de hoje(cf. 1Tm 6,11-16) são nos
apresentadas as virtudes dos líderes da comunidade. Os ministros da Igreja
devem cuidar do tema da avareza, que chega abalar a fé. Por isso todos os que
servem ao Evangelho devem cultivar as virtudes, procurando de uma maneira
autêntica serem fiéis à profissão de fé que manifestaram, confiada a eles por
Jesus Cristo até a sua volta e a consumação dos tempos. Tudo isso porque a
Igreja está no tempo do seu crescimento e deve, ontem e hoje, conservar o que
lhe é confiado.
Todos somos convidados hoje a refletir sobre a misericórdia,
especialmente, na dialética do rico e do pobre, do eterno e do transitório.
Misericórdia que é Justiça que devem andar de mãos dadas e unidas.
O trecho da perícope mais original é à parte que fala dos irmãos
do Rico, isto é, aquelas pessoas que vivem neste mundo à semelhança do rico da
parábola. Origem também é o nome dado ao pobre. É a única parábola do Evangelho
em que o protagonista principal tem um nome próprio: Lázaro. E é simbólico,
porque “Lázaro” significa “Deus
ajuda”. Via de regra
o pobre é anônimo, ou pouco nos interessa como se chame. Jesus lhe dá um nome,
valoriza-o. O rico é quem fica sem nome. Como os ricos são conhecidos pelo
nome, os leitores da parábola lhe deram um nome: chamaram-no Epulão, que
significa “comilão”.
Os irmãos de Epulão, o rico deste mundo transitório, não ouviram
Moisés e os profetas. Por isso mesmo em nada iriam ouvir quem viesse da visão
beatífica, porque já não ouviam aos profetas. Moises ensinou como seguir uma
vida santa: tinha uma série de obrigações para com os pobres, sobretudo os
órfãos e viúvas e alguns profetas haviam sido muito explicito na defesa dos
pobres e dos excluídos.
Moisés e os profetas da antiga Lei ensinaram com clareza. Muitos
não os escutaram. Será que um morto ressuscitado seria um professor melhor?
Jesus ressuscitou dos mortos. É ele mais escutado que Moisés e os antigos
profetas? Não continuam as riquezas do mundo, que pertencem a todos, acumuladas
nas mãos de pouquíssimos? Não estão nossos olhos contemplando uma versão
gigantesca da parábola do Epulão e do Lázaro?
Assim a Parábola nos projeta para a continuidade de nossa vida na
presença de Deus, nas chamadas alegrias eternas. Na vida presente somos livres
de viver como queremos: no altruísmo ou no egoísmo, na virtude ou no pecado. A
morte não zera tudo, como gostariam que alguns que acontecesse. A morte
revela-nos o sentido da vida na terra. É a morte, que o Evangelho chama de “fim dos tempos”, que fixa para sempre o destino futuro
da criatura humana, destino eterno que depende de como vivemos o pequeno espaço
de tempo na terra.
Deus nos julga, depois da morte, pelas escolhas que fizemos na
vida presente. Quem é egoísta ou deixa de lado os pobres terá um julgamento à
altura de seus atos. A liberdade é dos maiores dons que Deus nos concede. Mas
ela tem margens que a limitam: os preceitos divinos. Esses nos foram ensinados
pelos profetas, pelo Evangelho. A vida presente, portanto, é decisiva. É nesta
via que jogamos nosso destino eterno. É na vida presente que escolhemos a
eternidade.
Os ricos são infelizes, via de regra, porque se rodeiam de bens
como de uma fortaleza. São incomunicáveis. Vivem defendendo-se a si e a suas
riquezas. Os pobres não tem nada a perder. Por isso, as mãos mais pobres são as
que mais se abrem para tudo dar.
Em nosso mundo de competição, a riqueza transforma as pessoas em
concorrentes. A riqueza não é vista como gerência daquilo que deve servir para
todos, mas como conquista e expressão de status. Tal atitude marca a riqueza
financeira, a riqueza cultural e a riqueza afetiva.
São Paulo, por conseguinte, na segunda leitura, nos fala do
testemunho de Cristo neste mundo não é nada pacífico. É uma luta: um bom
combate. Devemos travá-lo até o fim, para que vivamos para sempre com aquele
que possui o fim da História.
A aventura do amor, inaugurada por Cristo e prosseguida depois
dele, convidando o homem a consentir ativamente na lei da liberdade, causou, de
fato, mudança progressiva nas relações dos homens. O Evangelho não nos
ensina nada sobre revolução. Tentar construir uma teologia da revolução a
partir do Evangelho é iludir-se e não captar o essencial. Os cristãos,
conquistados pela aventura do amor e só na medida que aceitam vivê-la como Cristo
e em seu seguimento, estarão mais atentos em fazer com que ela não degenere em
novas opressões e em novo legalismo.
Deus não exige que os ricos se desfaçam de todos os bens, mas que
sejam generosos e seus bens aproveitem também aos mais necessitados. Deus faz
opção pelos pobres. Não a pobreza pela pobreza, mas a pobreza pela grandeza de
generosidade, perdão e amor.
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Um
grande abismo chamado indiferença
Neste XXVI domingo do tempo comum, o
que a liturgia nos propõe é claramente uma continuação do tema do domingo
passado sobre o não servir ao dinheiro como um ídolo.
Muitas pessoas apostam que a plenitude
da vida e da felicidade se encontra na riqueza; basta olhar a correria de
pessoas por empregos ou negócios que ofereçam enormes salários, e sempre
insatisfeitas com o que vão conquistando. É a diabólica pedagogia que tem
dividido o nosso mundo em milhões de “lázaros”, obrigados a catar lixo, a comer
sobejos que caem das mesas dos ricos, ou morrer de fome. Uma pedagogia que,
infelizmente, parece ter se transformado em religião no nosso mundo e que é uma
das razões dos piores males da humanidade. Que, pelo menos, temos uma notícia
boa este ano, segundo a ONU, o número de famintos crônicos diminuiu 9,6%. Em
2009, eram mais de 1,02 bilhão de pessoas que sofriam de fome crônica, a este
são 925 milhões. Ainda assim, é uma vergonha não ter se extinguido por completo
a fome e a miséria num mundo cada vez mais cheio de cifras bilionárias.
O ser rico não é mais um sonho de
alguns que ficavam observando a fabulosa vida que leva quem chegou a ser um
“tio patinhas” da vida, mas se tornou uma verdadeira obsessão, que ameaça
cancelar os verdadeiros desejos do coração, aqueles que Deus inspira e tem como
sonho “amar até doar-se em plenitude”. Infelizmente, parece que é a fábula do
momento: uma fábula cultivada de tantas revistas e livros especializados em
como “enriquecer juntos”, “o segredo das mentes milionárias” etc., sem por um
único momento, pensar que atrás da fachada de luxo e ostentado bem estar,
muitas vezes está uma tristeza que é sinal do vazio do coração. Nada pode dar a
verdadeira felicidade se não o amor que se faz dom e não posses.
A estes, e a quantos querem ser como
eles, escreve o profeta Amós na I leitura, quando faz uma forte denúncia à
injustiça daqueles que levam uma vida luxuosa à custa da exploração dos pobres,
sendo totalmente indiferentes ao sofrimento e miséria destes. Para eles, Amós
anuncia que Deus não vai tolerar este egoísmo, reservando-lhes um final
infeliz: serão deportados de seu país “na primeira fila”.
Também Lucas continua a denunciar o mau
uso do dinheiro por parte de alguns à custa da miséria de tantos. Na parábola
do homem rico e do miserável Lázaro, Jesus descreve a vida terrena de ambos: os
dois extremos da sociedade. O rico tem um estilo de vida alto, suas roupas são
das grifes mais caras, elegantes e luxuosas. Ele usa a sua riqueza para levar
uma vida cheia de prazeres. O sentido da vida pra ele é o prazer das coisas
materiais. O que o separa do miserável Lázaro é apenas a porta de sua casa. Ele
não acolhe o pobre. Este leva uma vida dura; não só é desprovido de bens, mas
se encontra doente e desabrigado. Seu corpo não é coberto de roupas finas, mas
de muitas feridas. Ele quer matar sua fome com o sobejo da mesa do rico. Sua
companhia são os cães sujos que se aproximam dele para lamber-lhe as feridas.
Faminto e doente, vive na sujeira das ruas. Mas, diferentemente do rico, Jesus
faz questão de lembrar o seu nome: Lázaro (Deus ajuda).
Na extrema pobreza, ele não perde a
confiança, mas é convicto de que Deus o ajuda.
Morre o miserável, único instrumento de
salvação do rico. Morre também o rico. A morte os torna iguais. Não há como
escapar dela. E a este ponto, o destino deles se inverte completamente. O que é
descrito sobre a vida depois da morte dos protagonistas da parábola não quer
ser uma descrição precisa da vida eterna; mas quer caracterizar a radical
diversidade entre a vida daquele que um tempo foi rico e a do que foi pobre.
Lázaro é levado para o seio de Abraão, para o banquete festivo. Quanto ao rico,
dois elementos mostram como mudou a sua situação. Ele que vivia no luxo, agora
é rodeado de fogo e grandes tormentos. Ele que tinha a sua disposição comidas
finas e bebidas importadas, agora implora por uma simples gota d’água. Na vida
terrena, Lázaro faminto tinha lhe pedido os restos da sua mesa sem receber
nada. Agora, é o rico que pede uma gota d’água na ponta do dedo de Lázaro e não
pode recebê-la. Tarde demais! O modo no qual empregou sua riqueza e consumou a
sua vida o reduziu a uma condição na qual sofre dor e tormento.
O rico reconhece tanto que o modo que
conduziu sua vida estava errado que queria que Lázaro fosse avisar aos seus
irmãos para mudarem de vida a fim de evitar aquele trágico destino. Mas, Abraão
não permite e responde: “Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem” Pra
evitar esse destino, é necessário escutar a Palavra de Deus, pois ela mostra a
vontade de Deus, a orientação para uma vida justa. Nela, é expressa a nossa
responsabilidade social com relação aos mais pobres. Mas somente seremos
capazes de praticá-la se tivermos um coração bom e aberto. O coração cego é
endurecido pelo egoísmo e não se interessa por Deus nem pelo próximo. Jesus nos
convida sempre a tomar consciência dos verdadeiros problemas do mundo e a atuar
num empenho cristão, que não se limita a alguma esmola, mas procura ir às
causas da desigualdade, das injustiças, com obras de partilha e de
solidariedade. Quantas coisas supérfluas nós temos? Quanto tempo da nossa vida
desperdiçamos com coisas inúteis? Quantas coisas podemos fazer pelos mais
necessitados e não o fazemos? Ele não nos condena se usarmos coisas materiais
boas, o que ele denuncia é se isso significa egoísmo e indiferença para com os
nossos irmãos mais necessitados.
Nota: observe bem que este texto
evangélico também é um dos mais fortes na argumentação de que uma vez tendo
morrido, nenhum de nós “tem permissão” de Deus para voltar a este mundo, nem
que seja para dar um bom conselho a um familiar.
padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento -
www.pecarlos.blogspot.com
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Os
Lázaros de hoje
Celebramos hoje o dia da Bíblia. E o
lugar privilegiado para ler e acolher a Palavra de Deus é a comunidade na
celebração dominical.
A liturgia de hoje convida a ver os
bens desse mundo, como dons que Deus colocou em nossas mãos, para que
administremos, com gratuidade e amor.
Na 1ª leitura o profeta Amós denuncia
severamente os ricos e poderosos do seu tempo, que viviam no luxo e na fartura,
explorando os pobres, insensíveis diante da miséria e da desgraça de muitos.
O profeta anuncia que Deus não aprova
essa situação. O castigo chegará em forma de exílio em terra estrangeira. (Am.
6,11-16)
As denúncias de Amós são ainda hoje
atuais!
- Povos gastando fortunas matando gente
em guerra, enquanto outros morrem de fome por não ter o que comer;
- quantos vivem na abundância, enquanto
muitos morrem de fome e na miséria;
- quantos satisfazem seus caprichos, sacrificando
até seus familiares...
Na 2ª leitura, Paulo denuncia a cobiça,
"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males". (1Tm.
6,10-16)
No Evangelho, temos o julgamento de
Deus sobre a distribuição das riquezas.
A parábola do homem rico e do pobre
Lázaro (Lc. 16,19-31) tem três quadros:
- a situação de vida do homem rico e do
pobre "Lazaro";
- a mudança de cena para ambos após a
morte...
- um diálogo entre o rico e Abraão.
Proposta: "Pai Abraão, se alguém
entre os mortos for avisar meus irmãos, certamente vão se converter..."
Resposta: "Se não escutam a
Moisés, nem aos profetas, mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, não
acreditarão..."
A morte de ambos reverte a situação:
quem vivia na riqueza está destinado aos "tormentos", quem vivia na
pobreza se encontra na paz de Deus.
É uma catequese sobre escatologia,
antecipa o amanhã para que valorizemos o presente.
O rico não é condenado por ser rico,
mas porque prescinde de Deus e se nega partilhar com o pobre que estava
passando necessidades.
O pobre se salva porque está aberto
para Deus e espera a Salvação.
Na parábola, o pobre tem
"nome", o rico não...
Em nossa comunidade, os pobres têm
nome?
"Escutem Moisés e os
profetas!": essa advertência tem um significado todo especial no dia da
Bíblia.
A expressão "Moisés e os
profetas", no tempo de Jesus, significava a Bíblia. Por isso, Jesus queria
dizer que não estamos precisando de aparições duvidosas do além, de videntes ou
prodígios milagrosos... A Bíblia é a única Revelação segura que todo cristão
deve acreditar. Ela é suficiente para iluminar o nosso caminho. Seguindo essa
Luz, encontraremos, aqui na terra, a solidariedade, a fraternidade
e, na outra vida, acolhida na casa de Deus, um lugar junto de
Abraão.
Essa Palavra de Deus, podemos
encontrá-la: na catequese, na liturgia, na leitura orante da Bíblia, nos grupos
de reflexão, nos cursos de formação, na leitura pessoal.
Quem são os Lázaros hoje?
Ainda hoje quantos ricos esbanjam na
fartura, enquanto pobres "Lázaros" continuam privados até das
migalhas que sobram...
Creio que os vemos diariamente nas ruas
e na televisão...
Escutar Moisés, os profetas, o
Evangelho favorece o desapego e abre os olhos às necessidade dos irmãos.
O documento de Santo Domingo afirma:
"O crescente empobrecimento a que estão submetidos milhões de irmãos
nossos, que chega a intoleráveis estaremos de miséria, é o mais devastador e
humilhante flagelo que vive a América Latina" (179).
No Brasil: 1) o salário mínimo é
irrisório; 2) a aposentadoria é miserável; 3) enquanto outros recebem super
salários e há inúmeros desvios... No Brasil, milhões de Lázaros nos indicam o
caminho da salvação...
- Se nos abrirmos ou não a eles...
- Se nos colocarmos ou não a serviço de
sua libertação.
E conclui com uma admoestação: "Há
um abismo que nos separa... e não haverá mais volta..." Após a morte, a
situação se torna irreversível.
Como superar esse abismo que nos
separa? Abismo que não foi construído por Deus, mas pelos homens... abismo que
começa agora... e se prolonga no além...
A eucaristia é um grande meio para
vencer esse abismo, desde que seja sempre uma verdadeira comunhão, que inicia
agora (na Igreja, na família, na sociedade) e se prolonga por toda a eternidade
junto de Deus.
padre Antônio Geraldo Dalla Costa -
buscandonovasaguas.com
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APELO
À CONVERSÃO
A parábola do rico e do pobre Lázaro
comporta um apelo à conversão, especialmente dirigido a quem está tão
preocupado com os prazeres desta vida, a ponto de se tornar insensível às
carências de seus semelhantes, mormente, os mais pobres.
A primeira cena exibe o rico, cujo nome
é omitido, gozando os prazeres da vida, vestindo roupas caras e banqueteando-se
esplendidamente. À sua porta, jaz um mendigo doente, de nome Lázaro, que
significa "Deus ajuda", coberto de feridas. Nada lhe chega da mesa do
rico que possa saciar-lhe a fome. Suas chagas são lambidas por cães vagabundos,
os quais Lázaro não tem força para afastar.
A morte, porém, inverte as posições.
Lázaro recebe a ajuda de Deus, por quem é acolhido. O rico, porém, é brindado
com um destino de tormentos indizíveis, no inferno. Só, então, dá-se conta do
quanto fora insensato, despreocupando-se com a própria salvação. Era tarde
demais! O rico havia desperdiçado o tempo posto à sua disposição, escolhendo um
modo de vida egoísta e folgazão. Caminho igualmente escolhido por seus cinco
irmãos. Também eles recusavam-se a dar ouvido às Escrituras. Nem mesmo um
milagre espetacular, como a ressurreição de um morto, seria suficiente para
chamá-los à sensatez. Logo, estavam escolhendo a mesma sorte do irmão defunto,
se não se convertessem imediatamente.
padre Jaldemir Vitório - www.domtotal.com
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Nossa
fama e a fome de Deus
A liturgia deste domingo “Dia da
Bíblia” nos convida a refletir, junto à Palavra de Deus, o sentido da vida cujo
centro se encontra na solidariedade, na partilha que se revela na verdadeira
comunhão entre os irmãos e irmãs.
Daí que, tanto Lucas, que nos mostra
Jesus que conta a parábola do homem rico e do pobre Lázaro (interessante que só
ele tem nome, o outro não...), como o profeta Amós, nos convidam a partir de
suas reflexões a procurar nos pautar por uma mudança radical em nosso jeito
pensar e agir. Chamam atenção para os gastos e o luxo descabido de uma pequena
parte população mundial (os ricos) que vivem despreocupados, banqueteando-se,
sem se preocupar com o sofrimento da maioria da população, os pobres. Várias
são pesquisas que nos demonstram que no mundo atual, uma pequena porcentagem
15% de ricos detém 70% das riquezas, enquanto 85% da população está com os
outros 30%. Um bilhão de pessoas vive com menos de um dólar por dia. Isto
podemos verificar sem ir muito longe, basta parar, olhar e enxergar a realidade
que nos cerca. As contradições estão aí por toda parte não enxerga quem não
quer. Podemos ver o abismo que separa o povo do mínimo necessário para a vida,
distantes de um bem estar. E não adianta apontar apenas o dedo para os
políticos que estes, como já sabemos, em sua maioria vivem do desvio do
dinheiro público. Todavia, as leituras de hoje servem para cada um de nós.
Somos convidados/as a mudar, desacelerar o ritmo frenético do qual caminha a
humanidade inteira. Sempre querendo mais e mais. E a lei de Gérson: “levar
vantagem em tudo”, impera até o interior das nossas religiões.
É o mesmo abismo que a parábola
apresenta entre o que Deus quer e o que está perdido para sempre, isto é, a
condenação eterna. Quantas dificuldades? Quantos absurdos temos
presenciado? Quantos gastos indevidos? Gastam, bebem, festejam sem preocupar-se
com situação de milhares e milhares de brasileiros que vivem na miséria. Muitas
vezes, usam o nome de Deus para justificar tal situação e corrupção. Quantas
vezes temos ouvidos o chavão “Deus é fiel”? E aí, nos perguntamos fiel a quem?
A que propósito? O profeta certamente diria: “Aí de vocês que desviam o
dinheiro da saúde, da educação, da habitação e deixam de favorecer a todos”.
Enquanto vivem na riqueza, o pobre morre de fome. O que sobra para alguns falta
a outros.
Por outro lado, Lucas chama atenção
para aquilo que pode ocorrer com aqueles que acumulam indevidamente o dinheiro.
Fechar-se num profundo egoísmo e auto-suficiência como acontecia com os
fariseus. Fechados em seu orgulho não se abriam mais para a novidade do Reino
que acontece na relação e no compromisso com os outros, principalmente, na
solidariedade com os que sofrem. Lázaro representa todos aqueles que vivem na
miséria e se tornam prediletos de Deus, justamente, por sua condição de
opressão. Deus nos fez iguais. Compete a nós criar oportunidade a todos.
A parábola não é só uma alerta, mas é também um convite à mudança. Aos que tudo
tem, Deus convida a humildade e não querer apenas para si. Aos pobres convida a
paciência e a confiança na providência divina que tudo vê e fará sua justiça.
“O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos”, nos revela o
salmo 145. Na multiplicação dos pães Jesus disse aos discípulos:
“Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc. 9,13). Não se trata de dar restos, mas
colocar o povo em condições de se recuperar e assumir sua vida nas mãos. Daí
que, na segunda leitura Paulo estimula Timóteo: “Tu, que és um homem de Deus,
foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
firmeza, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para
qual foste chamado e pela qual fizeste tua nobre profissão de fé diante de
muitas testemunhas..” (1Tm. 6,11-12). Se a fé não se transformar em uma decisão
política e social de mudança, é vazia. E neste dias, preparando essa homilia pude-me
encontrar com texto de frei Betto sobre o fundador da Fraternidade dos
Irmãozinhos e Irmãzinhas de Foucauld, René Voillaume e seu pensamento calou
fundo em meu coração: “enquanto a Igreja não se desligar dos poderosos, não
poderá encontrar a alma do povo” e frei Betto acrescenta: “A busca da
fama é incompatível com a fome de Deus. Como ensinou João, o Batista, é uma
arte saber recolher-se para que Jesus possa sobressair”.
Portanto, queridos irmãos e irmãs
busquemos na mesa eucarística o caminho de fidelidade ao desejo de Deus.
Façamos de nossas vidas um eterno incentivo para que todos se tornem irmãos/as.
Desta maneira, a grande pergunta que devemos nos fazer sempre é: o que temos
feito com os bens que Deus nos deu como fonte de vida e para com os outros com
generosidade? O princípio evangélico é para gerar o equilíbrio e vida em
abundância. A terra foi dada para todos/as. E como Igreja devemos nos cuidar
para não abençoar a maldade. A Eucaristia, como partilha do pão é uma
escola social e de comunhão fraterna.
"A oração deve procurar tornar-se
uma atitude que se prolonga na ação. " René Voillaume
Tania Regina da Silva - www.homilia.com.br
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A
injustiça é a negação de Deus
O Senhor é justo para com os oprimidos,
dá pão a quem tem fome, e aos cativos a liberdade. Ilumina os olhos do cego;
ampara os fracos e ama os justos - Salmo
Invadido pela Palavra de Deus, prega o
profeta Amós «a tempo e a contratempo», contra as injustiças sociais do seu
tempo, uns sete séculos antes de Cristo. As suas palavras, como um azorrague,
fere os ouvidos de muita gente, especialmente daqueles que diariamente
constroem o abismo entre ricos e pobres. O alvo das suas apóstrofes continua a
existir nos nossos dias: Ai dos que praticam a injustiça para com os pobres! Ai
dos que enriquecem por meio da exploração que fazem dos fracos! Ai daqueles que
administram mal a justiça para com os indefesos. Ai dos que não praticam e até
mesmo se opõem à religião ao Deus verdadeiro!
A injustiça nega uma das maiores
qualidades de Deus: Deus é justo para com todos. A injustiça é praticada não só
pelos indivíduos, mas também pelas nações mais ricas e poderosas financeira,
econômica e militarmente. As nações que manipulam para seu próprio proveito o
andamento das grandes organizações internacionais; as nações que malbaratam os
bens que pertencem a todos, como o petróleo, a água, as riquezas minerais, a
natureza... Sobre vós descerá o fogo do céu que devorará os vossos palácios! E
sereis vós os primeiros a serdes desterrados para o exílio... Preparai-vos para
comparecer diante do tribunal de Deus, proclama Amós (cfr 2,5; 6,7; 4,12).
Contra estes se revoltará a natureza criada por Deus. E os injustos irão para o
exílio, tal como o rico avarento do evangelho de Lucas (16,19-31).
Há ricos, gente da classe média e
pobres que praticam a justiça. Vi na África e na América do Sul muitos
missionários curarem as feridas dos leprosos, mostrarem o seu carinho prático
para com os anônimos. Quanta gente, jovens e menos jovens, que partilham o seu
amor, o seu tempo, os seus talentos e os seus recursos financeiros com os que
trabalham na frente das batalhas de Deus, em prol dos mais necessitados. Por
meio deles, crianças inocentes que herdaram de outrem doenças, como a sida,
saberão que há no mundo quem lhes tem o mesmo amor que Jesus mostrava a todas
as crianças. Quantos órfãos encontrarão um colo onde pulula o carinho para com
eles! Quantos moços e moças poderão realizar o seu sonho de servir a Deus no
altar, num convento, num asilo para crianças ou velhinhos, em qualquer lugar
onde todos são tratados como irmãos em Cristo! Quantas dores e desesperos
aliviados pela magia da graça e da bondade de gente que decidiu usar os
talentos recebidos para bem dos mais marginalizados! Como são João de Deus,
santa Isabel e os pastorinhos de Fátima a darem a sua merenda aos mais pobres.
Pode bem o Senhor Jesus sentir-se realizado, ao ver que valeu a pena o seu
sacrifício que à sua glória leva toda a gente de boa vontade.
Aventino Oliveira - www.fatimamissionaria.pt
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Filho, lembra-te
de que durante a vida recebeste teus bens e Lázaro, por sua vez, seus males
Hoje, Jesus
confronta-nos com a injustiça social que nasce das desigualdades entre ricos e
pobre. Como se se tratasse de uma das imagens angustiantes que estamos
habituados a ver na televisão, o relato de Lázaro comove-nos, consegue o efeito
sensacionalista de remover os sentimentos: «Até os cães vinham lamber suas
feridas» (Lc 16,21). A diferença é clara: o rico vestia-se de púrpura; o pobre
tinha como vestido as chagas.
A situação de
igualdade chega seguidamente: morreram os dois. Porém, ao mesmo tempo, acentua-se
a diferença: um chegou ao seio de Abraão; ao outro se limitaram a sepultá-lo.
Se nunca tivéssemos ouvido esta história e lhe aplicássemos os valores da nossa
sociedade, podíamos concluir que quem ganhou o prêmio devia ser o rico, e o que
foi abandonado no sepulcro, era o pobre. Está claro, logicamente.
A sentença
chega-nos pela boca de Abraão, o pai na fé, e esclarece-nos quanto ao
desenlace: «Filho, lembra-te de que durante a vida recebeste teus bens e
Lázaro, por sua vez, seus males» (Lc 16,25). A justiça de Deus inverte a
situação. Deus não permite que o pobre permaneça para sempre no sofrimento, na
fome e na miséria.
Este relato
sensibilizou milhões de corações de ricos ao longo da história e levou
multidões à conversão; porém, que mensagem será necessária neste nosso mundo
desenvolvido, hiper-comunicado, globalizado, para nos fazer tomar consciência
das injustiças sociais de que somos autores ou, pelo menos, cúmplices? Todos os
que escutavam a mensagem de Jesus tinham o desejo de descansar no seio de
Abraão, mas, no nosso mundo quantas pessoas se contentam com ser sepultados
quando morrerem, sem querer receber o consolo do Pai do céu? A autêntica
riqueza consiste em chegar a ver Deus, e o que faz falta é o que afirmava Sto.
Agostinho: «Caminha pelo homem e chegarás a Deus». Que os Lázaros de cada dia
nos ajudem a encontrar Deus.
mons.
Christoph Bockamp - evangeli.net
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Os
ricos e a salvação
O Evangelho (Lc 16, 19-31) descreve-nos um homem que não soube
tirar o proveito dos seus bens. Ao invés de ganhar com eles o Céu, perdeu-o
para sempre. Tratava-se de um homem rico, que se vestia de púrpura e de linho,
e que todos os dias fazia festas esplêndidas; muito perto dele, à sua porta,
estava deitado um mendigo chamado Lázaro, todo coberto de chagas, que desejava
saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico. E até os cães lambiam as
suas feridas.
A descrição que o Senhor nos faz nesta parábola tem fortes contrastes:
grande abundância num, extrema necessidade no outro. O homem rico vive para si,
como se Deus não existisse. Esqueceu uma coisa que o Senhor recorda com muita
freqüência: não somos donos dos bens matérias, mas administradores.
O homem rico não está contra Deus nem oprime o pobre! Apenas está
cego para as necessidades alheias. O seu pecado foi não ter visto Lázaro, a
quem poderia ter feito feliz com um pouco menos de egoísmo e um pouco mais de
despreocupação pelas suas próprias coisas. Não utilizou os bens conforme o
querer de Deus. Não soube compartilhar. Santo Agostinho comenta: “Não foi a
pobreza que conduziu Lázaro ao Céu, mas a sua humildade; nem foram as riquezas
que impediram o rico de entrar no descanso eterno, mas o seu egoísmo e a sua
infidelidade.”
O egoísmo, que muitas vezes se concretiza na ânsia de usufruir sem
medida os bens materiais, leva a tratar as pessoas como coisas; como coisas sem
valor. Pensemos hoje que todos temos ao nosso redor pessoas necessitadas, como Lázaro.
E não esqueçamos que os bens que recebemos para administrar generosamente são
também o afeto, a amizade, a compreensão, a cordialidade, as palavras de ânimo…
Do uso que façamos dos bens que Deus depositou nas nossas mãos
depende a vida eterna. Estamos num tempo de merecer! Por isso, o Senhor nos
dirá: “É melhor dar do que receber” (At 20, 25). Ganhamos mais dando do que
recebendo: ganhamos o Céu! A caridade é sempre realização do Reino dos Céus e é
a única bagagem que restará neste mundo que passa. E devemos estar atentos,
pois Lázaro pode estar no nosso próprio lar, no escritório ou na oficina em que
trabalhamos.
A parábola ensina a sobrevivência da alma após a morte e que,
imediatamente depois da morte a alma é julgada por Deus de todos os seus atos –
juízo particular –, recebendo o prêmio ou o castigo merecidos; que a Revelação
divina é, de per si, suficiente para que os homens creiam no mais além.
Também ensina que quem morre não volta mais! Que não existe
reencarnação! Quem salva o homem é Jesus Cristo, não o próprio homem que vai
pagando as suas faltas, cada vez que reencarna. Quem tem fé em Cristo e o
aceita como salvador rejeita o espiritismo e a sua doutrina, a reencarnação. Em
Hb 9, 27 diz o Senhor: “está determinado que os homens morram uma só vez, e
logo em seguida vem o juízo.”
Noutra ordem de idéias, a parábola ensina também a dignidade de
toda a pessoa humana pelo fato de o ser, independentemente da sua posição
social, econômica, cultural, religiosa, etc.
“Entre vós e nós existe um abismo”, disse Abraão ao rico,
manifestando que depois da morte e ressurreição não haverá lugar para
penitência alguma. Nem os ímpios se arrependerão e entrarão no Reino, nem os
justos pecarão e descerão para o inferno. Este é um abismo intransponível. Por
isso se compreendem as palavras de São João Crisóstomo: “Rogo-vos e peço-vos e,
abraçado aos vossos pés, suplico-vos que, enquanto gozemos desta pequena
respiração da vida, nos arrependamos, nos convertamos, no tornemos melhores,
para que não nos lamentemos inutilmente como aquele rico quando morrermos e o
pranto não nos traga remédio algum. Porque ainda que tenhas um pai ou um filho
ou um amigo ou qualquer outro que tenha influência diante de Deus, todavia,
ninguém te livrará, sendo como são os teus próprios fatos (atos) que te
condenam.”
Exorta São Paulo em 1 Tm 6, 10: “a raiz de todos os males é o amor
ao dinheiro e que muitos perderam a fé por causa disso.” O mesmo S. Paulo nos
convida: “Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para qual foste
chamado…” (1 Tm 6, 12).
Nós fomos eleitos para ser fermento que transforma e santifica as
realidades terrenas. A sobriedade, a temperança, o despreendimento hão de
levar-nos ao mesmo tempo a sermos generosos: ajudando os mais necessitados,
levando adiante – com o nosso tempo, com os talentos que recebemos de Deus, com
os bens materiais na medida das nossas possibilidades – obras boas, que elevem
o nível de formação, de cultura, de atendimento aos doentes… Ou seja, com o
coração em Deus e voltado para o próximo.
Não vos conformeis com este mundo…” (Rm 12, 2). Quando se vive com
o coração posto nos bens materiais, as necessidades dos outros escapam-nos; é
como se não existissem. O rico da parábola “foi condenado porque nem sequer
percebeu a presença de Lázaro, da pessoa que se sentava à sua porta e desejava
alimentar-se das migalhas que caíam da sua mesa” ( Sto. Agostinho).
Façamos bom uso dos bens materiais. Jesus vê na riqueza o perigo
mais grave de auto-suficiência, de afastamento de Deus e de insensibilidade para
com o próximo.
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Primeira
leitura: Amós 6,1a.4-7
AI
DOS RICOS DEVASSOS!
Amós é o primeiro profeta escritor
cujos oráculos foram conservados. Originário de Técua, lugarejo ao sul de
Belém, foi chamado para profetizar no reino do Norte, na Samaria do século VIII
a.C., durante o próspero reinado de Jeroboão II. É contemporâneo de Oséias e,
vivendo no contexto de um reino próspero e ambicioso, não conheceu a decadência
que se deu em 721 a.C., ocasionada pelos assírios com Sargão II, em que o povo
foi deportado. Neste contexto, os nobres da Samaria (capital do Reino do Norte)
viviam tranqüilos e seguros, porque as conquistas do rei Jeroboão trouxeram paz
e bem-estar (para alguns privilegiados).
Amós critica o uso egoísta dos bens e a
insensibilidade diante dos necessitados, censurando duramente os que detinham o
poder e contestando sua segurança, pois, para eles, o “Dia do Senhor” será a
destruição da Samaria e o exílio.
Os ricos viviam na ostentação, em
festas e banquetes, enquanto o país estava prestes a cair nas mãos dos
inimigos. Era uma afronta ao povo, pois o requinte de vida se pautava em camas
de marfim, músicas ao vivo, as melhores comidas, perfumes exóticos... (Ainda
hoje ouro e marfim dos palácios da Samaria podem ser vistos no museu
Rockfeller, de Jerusalém).
O profeta rude e austero do deserto de
Judá, inspirado por Deus entre os resplendores dos palácios da Samaria, previu
o fim trágico daquele reino junto com seus ricos e exploradores, despreocupados
com as necessidades do povo, sem sensibilidade em relação aos oprimidos, por
causa da febre do dinheiro e do prazer. Amós preconiza o “dia de Javé” (5,18-10;
8,9), ou seja, o castigo de Deus para todos eles. Só um pequeno resto vai
sobrar. De fato, em 734 Tiglat Pikezer III conquistou parte da Galiléia e em
721 a.C. Sargão II apoderou-se da Samaria, destruindo a capital e deportando
seus nobres.
Segunda
leitura: 1 Timóteo 6,11-16
COMBATE
PELA FÉ
O início da evangelização tinha o seu
aspecto de organização, mas também as armadilhas da desagregação. De Timóteo
temos notícias em Atos dos Apóstolos 16,1. Ele foi convertido por Paulo quando
sua avó e sua mãe já eram cristãs (2 Timóteo 1,5). Na segunda viagem
missionária, Paulo o tomou como colaborador. Esta carta foi escrita
provavelmente na Macedônia, depois da prisão romana em 65 d.C., e endereçada a
Timóteo em Éfeso (1 Timóteo 1,3), cidade onde segundo a tradição tornou-se
bispo. A carta é dividida em quatro partes:
01) Paulo adverte Timóteo sobre o
anúncio do Evangelho contra as falsas doutrinas e fala dos ministros da Igreja;
02) dá normas para a organização
da oração;
03) discorre sobre os ministérios
na Igreja;
04) retoma a polêmica contra as
falsas doutrinas.
Depois de adverti-lo sobre as falsas
doutrinas e de lhe ter dado algumas normas sobre a organização do culto e da
oração e exposto o ministério dos bispos e diáconos, Paulo o chama de “homem de
Deus”, qualificativo dos grandes personagens bíblicos (Moisés, Elias, Eliseu...)
e lhe pede para fugir das pessoas que falsificam a mensagem, fazendo da
religião uma fonte de riquezas (v.5), por amor ao dinheiro.
Neste contexto, a comunidade de Éfeso é
convidada a combater o bom combate da fé para conseguir o prêmio da vida eterna
e manter a promessa da fidelidade. Ao mesmo tempo, Paulo pede aos membros da
comunidade que não sejam orgulhosos, não coloquem a esperança nas riquezas,
façam o bem, sejam generosos, poupando um bom capital para o futuro que é a
vida eterna.
Em seguida Paulo delineia a
Timóteo a figura do verdadeiro apóstolo, apresentando-lhe os critérios que
devem guiar o trabalho apostólico, pedindo-lhe que siga a justiça, a piedade, a
fé, o amor, a mansidão e a firmeza (v.11). Estas seis virtudes são, nas cartas
pastorais, a síntese do ideal cristão. A justiça é a retidão em relação às
pessoas, a piedade a retidão em relação a Deus, a fé a adesão plena a Jesus
Cristo, o amor a concretização da fé, a perseverança a capacidade de superar os
conflitos internos e externos, a mansidão a virtude típica que diz respeito ao
cristão. Para honrar esses compromissos, Paulo serviu-se do exemplo do atleta
que luta para conseguir o prêmio. Assim, o cristão deve combater o bom combate
da fé, honrar o compromisso assumido.
Por fim, nos versículos 15-16, através
de um hino cristológico, Paulo salienta que:
01) o cristão deve prestar culto
somente a Jesus. Ele é o único soberano. Critica, portanto, a idolatria;
02) somente Jesus pode dar a vida
plena;
03) Jesus supera a capacidade de
compreensão que as pessoas têm dele.
Evangelho:
Lucas 16,19-31
PARÁBOLA
DO RICO E DO POBRE LÁZARO
Estamos no contexto da viagem
missionária de Jesus a Jerusalém. Nesta viagem teológico-catequética são
apresentados os riscos e as vantagens de ser cristão. A parábola é um convite
ao discernimento.
A parábola começa apresentando duas
situações contrastantes. De um lado o rico que esbanja em requinte, luxo, roupas
finas e elegantes (púrpura e linho eram artigos de luxo importados da Fenícia e
do Egito), com um estilo de vida alto (banquetes todos os dias). Do outro lado
Lázaro, que mendiga junto à porta do rico, marginalizado, coberto de feridas,
considerado impuro (Jó 2,7-8). Ele deseja matar a fome com as migalhas de pão
que o rico usa para limpar o prato e enxugar as mãos. Joaquim Jeremias salienta
que não eram as migalhas, mas os pedaços de pão que usavam para limpar os
pratos e enxugar as mãos e depois atiravam debaixo da mesa.
Lázaro, ferido no corpo e na dignidade,
considerado um cão impuro, encontra solidariedade em Deus. De fato, o nome
Lázaro significa “Deus ajuda”.
O relato não diz que o rico levava uma
vida desordenada. Apenas salienta que era egoísta, gozando sozinho dos bens,
desobedecendo a Deus no que diz respeito ao amor do próximo. Lázaro, ao
contrário, é identificado como um dos personagens dos pobres de Javé do Antigo
Testamento, marginalizado.
Nesta parábola Jesus supera a
mentalidade corrente, que considerava a pobreza um castigo pelos pecados e a
riqueza um prêmio. Quando Lázaro morreu, foi transportado para o seio de
Abraão, para o banquete celeste, enquanto o rico foi para o “Sheol”, o lugar
dos mortos onde sofre. O rico é reconhecido como filho (v.25), porém a filiação
não é suficiente para obter a salvação, pois é preciso amor e misericórdia.
O rico faz, então, dois pedidos:
01) uma gota de água para
refrescar a língua. Porém isto lhe é negado, porque existe um abismo que separa
os remidos dos perdidos (v.26). Abraão lhe responde na 3ª pessoa: “Vocês não
poderiam atravessar”. Isto significa que o rico não está sozinho;
02) que Lázaro seja enviado aos
seus cinco irmãos como testemunha do seu fim eterno, para que não venham também
eles a cair na mesma situação (v.28). Porém Abraão responde-lhe que a lei e os
profetas eram suficientes para convencê-los. De fato, todo o Antigo Testamento
exigia igualdade e fraternidade. O rico não se convence e acredita que era
necessária uma ressurreição dos mortos para que seus irmãos se convertessem.
Abraão é taxativo, dizendo que a ressurreição de um morto não conseguirá
sensibilizar os ricos, se não forem sensíveis aos apelos de Moisés e dos
profetas.
Para obter a salvação é necessário,
portanto, ouvir a voz de Deus e não ser levado pelos gozos terrenos, que
ofuscam a mente e impedem de reconhecer a pessoa do pobre. Portanto, para
Jesus, o uso dos bens leva à perdição. O rico com suas riquezas vivia esquecido
de Deus, deixando as prescrições da lei que pediam atenção aos pobres, aos
órfãos e às viúvas (Êxodo 22,21-24; Amós 5,10-12). Lázaro representa os “anawin”
do Antigo Testamento, que na situação de miséria só tinham Deus como conforto.
O nome do rico não é mencionado, pois tinha uma existência egoísta que não
merecia história.
REFLEXÃO
Na década de 80, um jornal londrino
pediu a seus leitores uma definição de dinheiro. A melhor seria premiada. A
definição vencedora entre milhares foi: “O dinheiro é um passaporte universal
com o qual se pode viajar para todos os lugares, menos para o céu, se pode
adquirir todas as coisas, menos a felicidade”. Uma definição magnífica, que é
confirmada pelas leituras de hoje. De fato, Amós lembra aos ricos de Jerusalém
e da Samaria que suas orgias acabarão com a deportação para a Babilônia. Deus
pedirá contas! Também Paulo lembra a Timóteo que o dinheiro é a raiz de todos
os males.
Jesus nos lembra em sua parábola este
rico cuja preocupação era viver no luxo, ignorando os pobres. Quem é este rico?
Ele não é simplesmente alguém que tem muito dinheiro, mas alguém que olha
apenas para si, que é egoísta.
Ignorar o pobre, comportar-se como se
não importasse a “imensa multidão de famintos, mendigos, desabrigados, sem
assistência médica e sepultados sem a esperança de um futuro melhor, significa
assemelhar-se ao rico epulão, que fingia não conhecer as necessidades de
Lázaro, o mendigo à sua porta” (Sollicitudo Rei Socialis, 42).
Jesus nos mostra a incompatibilidade entre
Deus e o dinheiro, pois os bens materiais fazem parte da sobrevivência do
homem. Este deve servir-se deles e não ser escravo e com eles escravizar os
outros.
A parábola apresenta num quadro o
contraste entre ricos e pobres. Nos dois últimos séculos este tipo de contraste
cresceu. Teve início com a revolução industrial, com a introdução da máquina na
indústria. Começou na Inglaterra, depois se estendeu à França, à Alemanha e, no
século XIX, aos países hoje industrializados. Gerou a questão social, com a
divisão em dois sistemas: o capitalismo e o sócio-comunismo. Levou Leão XIII a
escrever a encíclica “Rerum Novarum” (15/05/1891), que trata da
condição operária indigna e desumana dos trabalhadores imposta pela burguesia
capitalista. Esta situação de desigualdade abissal entre ricos e pobres
transferiu-se para o terceiro mundo. Basta ter em mãos os dados do mapa do
desemprego e do subemprego, da fome e da miséria, para ficarmos estarrecidos.
O comportamento do rico corresponde à
atitude de muita gente do nosso tempo. Dinheiro, prestígio, exibicionismo,
luxo, viagens, divertimentos, prazeres... Trata-se da idolatria do dinheiro,
que se contrapõe ao amor a Deus e ao próximo. Fecha-se o coração esquecendo-se
de Deus e tornando-se insensível aos sofrimentos e privações dos irmãos,
impedindo a pessoa de se abrir aos valores verdadeiros e aos bens
sobrenaturais.
A parábola coloca em cena dois
personagens que ocupam lugares nos extremos opostos da sociedade. O rico navega
na abundância e o pobre sobrevive na miséria. Na descrição de Jesus, o rico não
negou nada ao pobre e este jamais pediu algo ao rico, mas a presença de Lázaro
era ignorada. Jesus colocou em pauta a diferença insuportável devido ao
fechamento de coração do rico, pois está fechado em seu mundo, não se dá conta
da indigência de Lázaro. Sua riqueza espelha seu egoísmo, sua segurança
orgulhosa, sua auto-suficiência. O rico está seguro do seu futuro e parece
árbitro dele. O pobre morreu e foi acolhido na intimidade de Deus, o rico foi
sepultado no inferno em meio às torturas. O rico é conhecido na parábola como “epulão”
por causa de sua vida de comilança e bebedeira.
A diferença de destino de ambos não se
deve exclusivamente à condição social, mas às atitudes pessoais. O rico não se
condena por ser rico, mas porque não teme a Deus, de quem prescinde, e porque
não compartilha o que tem com Lázaro. É um expoente fiel do consumismo egoísta
exagerado. Também o pobre não se salva por ser pobre, mas porque está aberto a
Deus e espera a salvação.
A parábola não tem a intenção de
ressaltar a escatologia individual, embora também expresse isso. Segundo os
judeus, o além que recebia os mortos à espera da ressurreição final chamava-se
“Scheol”, o “Hades” dos gregos e romanos, onde havia dois
lugares: a “Geena”, lugar de castigo e de tormentos para os maus, e o “Paraíso”,
lugar de felicidade para os justos.
A parábola também não visa prometer uma
compensação para os pobres ou convidar os deserdados da vida a uma resignação
estóica, fatalista, alienante. Mas trata de afirmar o perigo da riqueza, porque
facilmente cria resistência à lei de Deus. Visa conscientizar sobre a falsa
segurança dos bens materiais. A mensagem é completada pela exortação a Timóteo
na 2ª leitura de hoje (vv.17-19).
O cristão não pode ser um mero espectador
da pobreza e miséria do seu próximo. As tristezas e angústias dos que sofrem
são as tristezas e angústias dos discípulos de Cristo. Deus destinou a terra e
tudo o que ela contém ao uso de todos. Por isso, os bens devem ser partilhados
de forma eqüitativa, segundo a regra da justiça.
Vimos pela 1ª leitura que o excessivo
anseio de riquezas, de bens, de conforto, de comodidade e luxo leva ao
esquecimento de Deus e dos outros, bem como à ruína espiritual e moral. O
evangelho nos mostra um homem que não soube tirar proveito de seus bens. Em vez
de ganhar o céu com eles, acabou perdendo-o. O rico não adquiriu seus bens
fraudulentamente nem era culpado pela pobreza de Lázaro, pelo menos
diretamente. Entretanto, vivia na abundância, com coisas extraordinariamente
luxuosas e banquetes diários. Vivia como se Deus não existisse. Estava cego às
necessidades alheias. Não foi a pobreza que conduziu Lázaro ao céu, mas sua
humildade. Não foram as riquezas que impediram o rico de entrar no descanso
eterno, mas seu egoísmo e sua infidelidade (Santo Agostinho).
Do uso que fazemos dos bens que Deus
colocou em nossas mãos depende nossa vida eterna. Estejamos atentos, porque
qualquer Lázaro pode estar à porta do nosso lar, em nosso escritório, em nossa
comunidade...
Quando vivemos com o coração voltado
para os bens materiais, as necessidades dos outros nos escapam, é como se eles
não existissem. O rico foi condenado porque não percebeu a presença de Lázaro.
Não adiantou tê-lo visto tantas vezes. Por isso, o cristão deve examinar se seu
desprendimento é real, se não tem seu coração voltado para o tesouro que não
passa, que resiste ao tempo, à ferrugem e à traça.
padre José Antonio Bertolin, OSJ -
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