27 DOMINGO DO
TEMPO COMUM ANO-C
6 de Outubro de 2013
Evangelho
- Lc 17,5-10
Hab 1,2-3; 2,2-4; Sl 95; 2Tm
1,6-8.13-14
-27 DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO-C-José Salviano
O maior obstáculo da fé em nossos
dias é o aumento da violência, o qual leva a muitos a questionar: Se Deus
existe por que Ele permite o mal no mundo?
Continuar lendo
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A
FÉ, A SEMENTE DE MOSTARDA E O SERVIÇO
As leituras de hoje nos chamam a
atenção para a fé. “Aumenta-nos a fé!”, disseram os apóstolos a Jesus. Por que
os discípulos pedem para aumentar a fé deles? Qual é a relação entre as duas
parábolas do evangelho de hoje, semente de mostarda e servo inútil, e a fé? O
que é a fé? A carta aos Hebreus define fé como “firme fundamento das coisas que
se esperam, uma posse antecipada, um meio de demonstrar as realidades que não
se vêem”. E ainda acrescenta: “foi por meio dela que os antigos deram seus
testemunhos” (Hb. 11,1-2). Mesmo não tendo visto Jesus ressuscitado, eu
acredito, tenho fé, certeza de que ele ressuscitou. Por isso, eu tenho fé. Não
preciso manifestar fé em uma árvore, pois já sei que ela existe. Ninguém
precisa me transmitir esse ensinamento. Podemos correr o risco de banalizar a
fé, quando a colocamos na dimensão da incerteza. Os discípulos acreditavam nas
palavras e promessas do Reino que Jesus anunciava, mas também disseram:
aumenta-nos a fé.
Neste domingo, dia em que o país irá às
urnas para escolher presidente, senadores, governadores e deputados,
perguntemo-nos: qual é a contribuição do cristão neste ato cívico? Temos fé em
nossos políticos? As suas promessas se tornam realidades? Por enquanto,
permaneçamos com essas inquietações.
1º
leitura (Hab. 1,2-3; 2,2-4)
A fé salva e a fidelidade me faz justo
seguidor da Lei
Habacuque foi um profeta realista,
contestador, lamentador e esperançoso. Como Jó, ele foi o “homem da crise”. Ele
atuou entre 605 e 600 a.C., período em que Judá viveu sob a dominação do
império neobabilônico, pagando-lhe tributos. O rei Joaquim, aliado de um outro
opressor, o Egito, foi colocado no trono pelo Faraó para governar Judá. A
tirania de Joaquim foi tamanha que a injustiça aumentou no país. Pouco tempo
depois, os babilônios, com Nabucodonosor, invadiram o país, destruíram
Jerusalém e levaram as lideranças do povo para um exílio, que duraria cinco
décadas, na Babilônia.
Habacuque, que num primeiro momento
acreditou na reforma de Josias, percebe que não mais seria possível esperar por
uma solução baseada na Lei. Ele perde a esperança na reforma deuteronomista,
mas crê que Deus vencerá (2,1-3; 3,15.19). Esta descoberta lhe restituiu a
esperança. Habacuque manteve-se firme nas seguintes denúncias: a não
observância da Lei (1,4); os juízes corruptos (1,4); o roubo (2,9-10); a
política injusta (2,12-14); a idolatria (2,18-20); os impérios egípcio (1,2) e
babilônico (1,12-17); e o cinismo do conquistador (ou qualquer pessoa) que
embriaga o seu próximo para lhe contemplar a nudez (2,15).
A primeira leitura é um lamento do
profeta pela situação do povo e um questionamento a Deus, pedindo-lhe que os
ouça: “Até quando, Senhor, pedirei socorro e não ouvirás” (1,2). A resposta de
Deus vem em dois momentos. Ele diz que o opressor, a Babilônia, virá para
destruir o país (1,5). Esse será o castigo para o povo de Judá. O profeta
Jeremias dirá o mesmo. Habacuque se assusta com essa resposta de Deus
(1,12-17). E Deus novamente responde, dizendo que ele sabe o que faz e não
engana (2,2-4). E acrescenta: “o justo viverá pela sua fidelidade”. Habacuque
chama o povo a ter confiança na justiça humana e na força libertadora do
Senhor. A salvação virá pela fé e não pela observância da Lei (2,4). É o que
são Paulo, mais tarde, irá aprofundar na sua teologia da “justificação pela fé”
(Rm. 1,17; Gl. 3,11), tendo como base esse texto de Habacuque. A tradução da
Bíblia hebraica para o grego, chamada de Setenta, traduziu o termo hebraico
‘emunah por fé, em vez de fidelidade, como está no texto de Habacuque. Fidelidade
está relacionada com o justo que segue a Torá.
Outro fator que chama a atenção no
texto de Habacuque é que Deus vai castigar o povo por causa de seus governantes
iníquos. Relembrar isso em dia de eleição é muito propício. Em tempos modernos,
não precisamos chegar a tanto, como foi o caso de Judá. Por outro lado, se a
nossa lei punisse, de fato, os políticos corruptos, com certeza, nosso país
seria diferente em questões sociais. Outro dado, muitos de nossos políticos não
se envergonham de manifestar em público a sua fé. Neste ano, um deles chegou a
rezar agradecendo a Deus pelo dinheiro conseguido com as suas falcatruas. Ele
ficou conhecido como o político da oração.
A fé que nos salva é aquela que me faz
justo seguidor da justiça pregada pela Palavra de Deus. Esta sim, o resto é
pura enganação. Fiquemos atentos, sobretudo para o grande mercado da fé que
assola o nosso país.
2.
Evangelho (Lc. 17,5-10): “Senhor, aumenta a nossa fé!”
No evangelho de hoje, nos encontramos
todos com uma inquietante pergunta: Senhor, aumenta-nos a fé! Jesus responde
com duas parábolas. Vejamo-las.
a) “A fé pode até ser do tamanho de uma
semente de mostarda” (vv. 5-6). Essa passagem também pode ser lida em Mt.
17,20-21; 21,21; Mc. 9,24; 11,23. Os apóstolos pedem a Jesus que aumente a fé
deles. A interpretação desse texto nos ensina que a fé, por menor que seja,
assim como uma pequenina semente de mostarda, pode realizar maravilhas, até
mesmo exigir que uma amoreira se replante no mar. Viver a fé em tempos modernos
é um desafio para todos nós. Somos senhores de muitos poderes e de nós mesmos.
A fé é muito mais que uma boa obra ou uma dimensão psicológica de nossa
existência. Ela é um colocar em Deus, que é amor que nos redime e nos
impulsiona a viver na integridade das relações. Fé não é questão de quantidade,
mas de qualidade.
b) “A fé é um serviço” (vv. 7-10). Na
sequência da fé comparada à semente de mostarda, Jesus, fazendo uso de uma
situação não muito peculiar aos apóstolos, a de um patrão que tem um empregado
que o serve sem se perguntar o porquê de sua atitude, ensina que é simplesmente
fazer o que se tem que fazer. Quem tem fé faz. Isso basta. As obras são
consequências de nossa fé em Deus que tudo pode. E se Deus tudo pode, eu também
posso, com a minha fé, realizar grandes obras. O serviço é uma dimensão da fé.
Amanhã, dia quatro de outubro, a Igreja
faz a memória de são Francisco de Assis, o santo da paz e do bem, o defensor da
ecologia e inventor do presépio. No final de sua vida, quando tanto havia feito
e vivenciado a fé em Deus, com todo o ardor próprio da Idade Média, Francisco
de Assis disse: “Irmãos, vamos recomeçar novamente, porque pouco ou nada
fizemos”. Essa espiritualidade é a do serviço e da fraternidade universal. Por
menor que seja, ela será sempre um serviço à justiça e ao bem comum, realizado
de forma gratuita e não por dinheiro, como pensavam alguns.
2º
leitura (2Tm. 1,6-8.13-14): Timóteo, viva a sua fé!
A segunda leitura tem uma orientação
clara: Paulo, apóstolo propagador da fé em Jesus, com quem ele nem mesmo
convivera, mas fora um perseguidor aguerrido de seus seguidores, exorta ao seu
discípulo, Timóteo, a viver a fé por causa de sua consagração a serviço da
Igreja, na coordenação da comunidade. Timóteo é convocado a cooperar com os
dons do Espírito Santo. Ele não pode transmitir medo, mas reavivar sempre a sua
fé. O cristão deve alimentar sempre a sua fé para não desanimar. Da mesma
forma, ele deve dar testemunho de Jesus Cristo e guardar o depósito da fé, eis
a sua missão. Paulo também não se intimida em demonstrar com palavras as suas
atitudes de fé.
Na prisão, Paulo lhe diz: “Toma por
modelo as sãs palavras que de mim ouviste, com fé e com amor que está em Cristo
Jesus. Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em nós”
(vv. 13-14). O cristão precisa ser corajoso, não olhar interesses pessoais.
“Não se envergonhe de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu
prisioneiro” (v. 8), afirma, categoricamente, Paulo a Timóteo. A prisão não
desmerece Paulo, pelo contrário, ela o credencia como discípulo de Cristo
Jesus.
PISTAS
PARA REFLEXÃO
1. Mostrar que o mundo é marcado por
situações que não agradam a Deus e, tampouco, ao seu povo. Os que não crêem
podem até dizer que as desigualdades são normais e que Deus não existe, mas a
promessa da vinda de Jesus se realizará. Os maus serão extirpados e os bons,
chamados de benditos do meu Pai.
2. A igreja, por ser a aglutinação
daqueles que crêem, deve anunciar e propiciar o caminho da salvação para todos,
lutando pela justiça social, pela paz e pela divisão fraternal dos bens. Fazer
tudo isso é já ter a fé aumentada, assim como pediram os discípulos a Jesus.
3. A comunidade de fé tem um
compromisso fundamental com a vida política do país. Escolher bem os
governantes e, depois, cobrar deles atitudes coerentes com o prometido são o
compromisso de fé que todos devemos assumir.
frei Jacir de Freitas Farias, ofm -
www.paulus.com.br
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Hoje, a Palavra de
Deus nos coloca diante de um tema inquietante, o tema da fé. E o coloca com
toda a dureza, nas palavras do profeta Habacuc. Ele viveu no final do século
VII, início do século VI antes de Cristo. Reinava em Judá um rei iníquo,
Joaquim; o povo já não cultivava amor pelo Senhor; imperava a injustiça, a
impiedade, a imoralidade, a violência do grande contra o pequeno... Diante
desta situação tão triste, o profeta anunciava que os babilônios viriam e
levariam o povo para o exílio. Seria a correção de Deus. Mas, aí, o profeta
entra em crise: está certo que Judá merecia castigo; mas, por que Deus iria
usar para castigar exatamente os babilônios, que eram um povo mais pecador que
os judeus? O profeta angustia-se com esta incompreensível lógica do Senhor e,
com dor e sinceridade sofrida, apresenta o seu protesto: “Senhor,
até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti:
‘Violência!’, sem me socorreres? Por que me fazes ver iniqüidades, quando tu
mesmo vês a maldade? Destruições e prepotência estão à minha frente”. “Senhor, tu poderias resolver tudo! Tu
poderias corrigir o teu povo de um modo mais lógico, mais compreensível! Por
que, Senhor, ages deste modo?”
Crer não é compreender tudo. O profeta, que fala em nome de Deus,
nem mesmo ele compreende totalmente o agir de Deus, e se angustia, e pergunta,
e chora: “Senhor, por que ages assim? Por que teus caminhos nos escapam deste
modo?” A verdade é que a fé não é uma realidade quieta e pacífica! O próprio
Jesus adverte que somente os violentos conquistam o Reino dos céus (cf. Mt.
11,12s); somente aqueles que lutam, que teimam em acreditar! A fé é uma
realidade que sangra, sangra na dor de tantas perguntas sem resposta, sangra
pelo sofrimento do inocente, pela vitória dos maus, pelo mal presente em tantas
dimensões da nossa vida... E Deus parece calar-se! Um filósofo ateu do século
passado chegou a dizer, escandalizado com o sofrimento no mundo: “Se Deus
existe, o mundo é sua reserva de caça!” Jó, usou palavras parecidas: “Também
hoje minha queixa é uma revolta, porque sua mão agrava os meus gemidos. Ele
cobriu-me o rosto com a escuridão" (23,2.17). E, pesaroso, se
queixa de Deus: “Clamo por ti, e não me respondes; insisto, e
não te importas comigo. Tu te tornaste o meu carrasco e me atacas com teu braço
musculoso!” (30,20s). Por
que, Senhor? Por que te calas? Por que teus caminhos nos são escondidos? Por
que parece que não te importas conosco? – Eis a dor que sangra das feridas dos
crentes! A resposta de Deus a Habacuc não explica, mas convida a crer
novamente, a abandonar-se novamente, a teimar na perseverança: “Quem
não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé!" Deus é assim: nunca nos explica, mas
nos convida sempre à confiança renovada, ao abandono nas suas mãos. Quem não é correto,
quem não se entrega nas mãos do Senhor, perderá a fé, morrerá na sua amizade
com Deus... mas o justo, o amigo de Deus, viverá, permanecerá firme pela sua fé
total e confiante. O justo vive da fé! É isto que é tão difícil para o homem de
hoje, que tudo deseja enquadrar na sua razão e, quando não enquadra, se revolta
e dá as costas a Deus e, assim, termina morrendo... porque viver sem Deus é a
pior das mortes, o maior dos absurdos! O justo vive da fé, vive na fé, vive
abandonado nas mãos do Senhor, como dizem as palavras da antífona de entrada,
que o missal coloca para a liturgia de hoje: “Senhor, tudo está em vosso poder, e ninguém
pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra, e
tudo o que eles contêm; sois o Deus do universo!” (Est. 13,9.10-11).
Nunca esqueçamos: Deus não nos explica seu modo de agir! Se o
compreendêssemos, compreenderíamos o próprio Deus e, aí, já não seria o Deus
verdadeiro, mas apenas um idolozinho! Contudo, isso não significa que Deus não
liga para nossa dor e para o nosso destino. Pelo contrário! Ele veio a nós,
fez-se um de nós, viveu nossa vida, suportou nossas dores, experimentou nossa
morte! Deus próximo, Deus de amor, Deus solidário! Por isso, podemos olhar para
ele e, suplicantes, estender-lhe as mãos, como os discípulos do Evangelho, que
pediam: “Aumenta a nossa fé!” E Jesus responde – a eles e a nós – “Se vós
tivésseis fé (em mim), mesmo pequena como um grão de mostarda,
poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’ e ela
vos obedeceria”. Ou
seja: se crermos de verdade naquele amor que se manifestou até a cruz, se
crermos – aconteça o que acontecer – que Deus nos ama a ponto de entregar o seu
Filho, teremos a força de enfrentar todas as noites com a sua luz, todos os pecados
com a sua graça, todas as mortes com a sua vida! Mas, se não crermos,
pereceremos... O que o Senhor espera dos seus servos é esta fé total,
incondicional, pobre e amorosa! É o que o Senhor espera de nós. Mas, o que
fazemos? Queremos recompensas, provas, certezas lógicas! E, os mais cultos,
vamos atrás de filosofias e sabedorias humanas... e os mais incultos e tolos,
vamos atrás de seitas, de descarregos, de exorcismos feitos por missionários de
araques e pastores de si próprios, falsos profetas de um deus falso, feito de
dízimos, moedas e gritarias...
O justo vive da fé! Como nos exorta a segunda leitura, reavivemos
a chama do dom de Deus que recebemos! “Deus não nos deu um espírito de timidez, de frouxidão, de covardia e incerteza, mas de
fortaleza, de amor e sobriedade”. Não
nos envergonhemos do testemunho de nosso Senhor! Guardemos aquilo que
aprendemos de nossos antepassados, conservemos o"preciosos depósito” da nossa fé católica e apostólica, “com a
ajuda do Espírito Santo que habita em nós”. Não corramos atrás das ilusões, fruto
das invenções humanas! É isto que o Senhor espera de nós, é este o nosso dever,
é esta a nossa vocação, é esta a nossa glória. E, após termos agido assim, não
achemos que temos algum direito diante de Deus. Humildemente, digamos: “Somos
servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”.
Que o Senhor nos dê esta graça: a graça de viver e morrer na fé.
Que o Senhor nos conceda a recompensa dosa servos bons e fiéis!
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A
FÉ, A SEMENTE DE MOSTARDA E O SERVIÇO
As leituras de hoje nos chamam a
atenção para a fé. “Aumenta-nos a fé!”, disseram os apóstolos a Jesus. Por que
os discípulos pedem para aumentar a fé deles? Qual é a relação entre as duas
parábolas do evangelho de hoje, semente de mostarda e servo inútil, e a fé? O
que é a fé? A carta aos Hebreus define fé como “firme fundamento das coisas que
se esperam, uma posse antecipada, um meio de demonstrar as realidades que não
se vêem”. E ainda acrescenta: “foi por meio dela que os antigos deram seus
testemunhos” (Hb. 11,1-2). Mesmo não tendo visto Jesus ressuscitado, eu
acredito, tenho fé, certeza de que ele ressuscitou. Por isso, eu tenho fé. Não
preciso manifestar fé em uma árvore, pois já sei que ela existe. Ninguém
precisa me transmitir esse ensinamento. Podemos correr o risco de banalizar a
fé, quando a colocamos na dimensão da incerteza. Os discípulos acreditavam nas
palavras e promessas do Reino que Jesus anunciava, mas também disseram:
aumenta-nos a fé.
Neste domingo, dia em que o país irá às
urnas para escolher presidente, senadores, governadores e deputados,
perguntemo-nos: qual é a contribuição do cristão neste ato cívico? Temos fé em
nossos políticos? As suas promessas se tornam realidades? Por enquanto,
permaneçamos com essas inquietações.
1º
leitura (Hab. 1,2-3; 2,2-4)
A fé salva e a fidelidade me faz justo
seguidor da Lei
Habacuque foi um profeta realista,
contestador, lamentador e esperançoso. Como Jó, ele foi o “homem da crise”. Ele
atuou entre 605 e 600 a.C., período em que Judá viveu sob a dominação do
império neobabilônico, pagando-lhe tributos. O rei Joaquim, aliado de um outro
opressor, o Egito, foi colocado no trono pelo Faraó para governar Judá. A
tirania de Joaquim foi tamanha que a injustiça aumentou no país. Pouco tempo
depois, os babilônios, com Nabucodonosor, invadiram o país, destruíram
Jerusalém e levaram as lideranças do povo para um exílio, que duraria cinco
décadas, na Babilônia.
Habacuque, que num primeiro momento
acreditou na reforma de Josias, percebe que não mais seria possível esperar por
uma solução baseada na Lei. Ele perde a esperança na reforma deuteronomista,
mas crê que Deus vencerá (2,1-3; 3,15.19). Esta descoberta lhe restituiu a
esperança. Habacuque manteve-se firme nas seguintes denúncias: a não
observância da Lei (1,4); os juízes corruptos (1,4); o roubo (2,9-10); a
política injusta (2,12-14); a idolatria (2,18-20); os impérios egípcio (1,2) e
babilônico (1,12-17); e o cinismo do conquistador (ou qualquer pessoa) que
embriaga o seu próximo para lhe contemplar a nudez (2,15).
A primeira leitura é um lamento do
profeta pela situação do povo e um questionamento a Deus, pedindo-lhe que os
ouça: “Até quando, Senhor, pedirei socorro e não ouvirás” (1,2). A resposta de
Deus vem em dois momentos. Ele diz que o opressor, a Babilônia, virá para
destruir o país (1,5). Esse será o castigo para o povo de Judá. O profeta
Jeremias dirá o mesmo. Habacuque se assusta com essa resposta de Deus
(1,12-17). E Deus novamente responde, dizendo que ele sabe o que faz e não
engana (2,2-4). E acrescenta: “o justo viverá pela sua fidelidade”. Habacuque
chama o povo a ter confiança na justiça humana e na força libertadora do
Senhor. A salvação virá pela fé e não pela observância da Lei (2,4). É o que
são Paulo, mais tarde, irá aprofundar na sua teologia da “justificação pela fé”
(Rm. 1,17; Gl. 3,11), tendo como base esse texto de Habacuque. A tradução da
Bíblia hebraica para o grego, chamada de Setenta, traduziu o termo hebraico
‘emunah por fé, em vez de fidelidade, como está no texto de Habacuque. Fidelidade
está relacionada com o justo que segue a Torá.
Outro fator que chama a atenção no
texto de Habacuque é que Deus vai castigar o povo por causa de seus governantes
iníquos. Relembrar isso em dia de eleição é muito propício. Em tempos modernos,
não precisamos chegar a tanto, como foi o caso de Judá. Por outro lado, se a
nossa lei punisse, de fato, os políticos corruptos, com certeza, nosso país
seria diferente em questões sociais. Outro dado, muitos de nossos políticos não
se envergonham de manifestar em público a sua fé. Neste ano, um deles chegou a
rezar agradecendo a Deus pelo dinheiro conseguido com as suas falcatruas. Ele
ficou conhecido como o político da oração.
A fé que nos salva é aquela que me faz
justo seguidor da justiça pregada pela Palavra de Deus. Esta sim, o resto é
pura enganação. Fiquemos atentos, sobretudo para o grande mercado da fé que
assola o nosso país.
2.
Evangelho (Lc. 17,5-10): “Senhor, aumenta a nossa fé!”
No evangelho de hoje, nos encontramos
todos com uma inquietante pergunta: Senhor, aumenta-nos a fé! Jesus responde
com duas parábolas. Vejamo-las.
a) “A fé pode até ser do tamanho de uma
semente de mostarda” (vv. 5-6). Essa passagem também pode ser lida em Mt.
17,20-21; 21,21; Mc. 9,24; 11,23. Os apóstolos pedem a Jesus que aumente a fé
deles. A interpretação desse texto nos ensina que a fé, por menor que seja,
assim como uma pequenina semente de mostarda, pode realizar maravilhas, até
mesmo exigir que uma amoreira se replante no mar. Viver a fé em tempos modernos
é um desafio para todos nós. Somos senhores de muitos poderes e de nós mesmos.
A fé é muito mais que uma boa obra ou uma dimensão psicológica de nossa
existência. Ela é um colocar em Deus, que é amor que nos redime e nos
impulsiona a viver na integridade das relações. Fé não é questão de quantidade,
mas de qualidade.
b) “A fé é um serviço” (vv. 7-10). Na
sequência da fé comparada à semente de mostarda, Jesus, fazendo uso de uma
situação não muito peculiar aos apóstolos, a de um patrão que tem um empregado
que o serve sem se perguntar o porquê de sua atitude, ensina que é simplesmente
fazer o que se tem que fazer. Quem tem fé faz. Isso basta. As obras são
consequências de nossa fé em Deus que tudo pode. E se Deus tudo pode, eu também
posso, com a minha fé, realizar grandes obras. O serviço é uma dimensão da fé.
Amanhã, dia quatro de outubro, a Igreja
faz a memória de são Francisco de Assis, o santo da paz e do bem, o defensor da
ecologia e inventor do presépio. No final de sua vida, quando tanto havia feito
e vivenciado a fé em Deus, com todo o ardor próprio da Idade Média, Francisco
de Assis disse: “Irmãos, vamos recomeçar novamente, porque pouco ou nada
fizemos”. Essa espiritualidade é a do serviço e da fraternidade universal. Por
menor que seja, ela será sempre um serviço à justiça e ao bem comum, realizado
de forma gratuita e não por dinheiro, como pensavam alguns.
2º
leitura (2Tm. 1,6-8.13-14): Timóteo, viva a sua fé!
A segunda leitura tem uma orientação
clara: Paulo, apóstolo propagador da fé em Jesus, com quem ele nem mesmo
convivera, mas fora um perseguidor aguerrido de seus seguidores, exorta ao seu
discípulo, Timóteo, a viver a fé por causa de sua consagração a serviço da
Igreja, na coordenação da comunidade. Timóteo é convocado a cooperar com os
dons do Espírito Santo. Ele não pode transmitir medo, mas reavivar sempre a sua
fé. O cristão deve alimentar sempre a sua fé para não desanimar. Da mesma
forma, ele deve dar testemunho de Jesus Cristo e guardar o depósito da fé, eis
a sua missão. Paulo também não se intimida em demonstrar com palavras as suas
atitudes de fé.
Na prisão, Paulo lhe diz: “Toma por
modelo as sãs palavras que de mim ouviste, com fé e com amor que está em Cristo
Jesus. Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em nós”
(vv. 13-14). O cristão precisa ser corajoso, não olhar interesses pessoais.
“Não se envergonhe de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu
prisioneiro” (v. 8), afirma, categoricamente, Paulo a Timóteo. A prisão não
desmerece Paulo, pelo contrário, ela o credencia como discípulo de Cristo
Jesus.
PISTAS
PARA REFLEXÃO
1. Mostrar que o mundo é marcado por
situações que não agradam a Deus e, tampouco, ao seu povo. Os que não creem
podem até dizer que as desigualdades são normais e que Deus não existe, mas a
promessa da vinda de Jesus se realizará. Os maus serão extirpados e os bons,
chamados de benditos do meu Pai.
2. A igreja, por ser a aglutinação
daqueles que creem, deve anunciar e propiciar o caminho da salvação para todos,
lutando pela justiça social, pela paz e pela divisão fraternal dos bens. Fazer
tudo isso é já ter a fé aumentada, assim como pediram os discípulos a Jesus.
3. A comunidade de fé tem um
compromisso fundamental com a vida política do país. Escolher bem os
governantes e, depois, cobrar deles atitudes coerentes com o prometido são o
compromisso de fé que todos devemos assumir.
frei Jacir de Freitas Farias, ofm -
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“Senhor, tudo está em vosso poder e
ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a
terra e tudo o que eles contêm;
sois o Deus do universo!” (cf. Est.
1,9.10s)
Duas palavras hoje nos convidam para a reflexão em torno de toda a
liturgia: a fé e fidelidade. Quando Habacuc, na primeira leitura, diante da
desordem em Judá, nos últimos anos antes do exílio, grita a Deus com
impaciência, quase com desespero, Deus anuncia que ele tratará o mal por um
remédio mais tremendo ainda: os babilônicos. À objeção de Habacuc contra esta
solução, o Senhor Deus responde: “Eu sei que o faço; não preciso prestar
contas; mas os justos se salvarão por sua fidelidade”.
Na primeira leitura (cf. Hab. 1,2-3; 2,2-4) o profeta pede
explicação a deus – Este trecho é um diálogo entre Deus e o profeta. O profeta
se queixa, porque a impiedade está vencendo. O direito e o próprio justo são
pisados ao pé. Resposta: vem coisa pior ainda! Deus não precisa prestar contas
para o homem. Este é que lhe deve obediência, também nas horas negras.
A segunda leitura (cf. 2Tm. 1,6-8.13-14) São Paulo nos adverte que
não devemos nos envergonhar do Evangelho e guardar o bem depositado. Esta
exortação paulina aos pastores, que precisam lembrar-se de que está servindo ao
Cristo aniquilado. O “bom depósito” é a plena verdade do Evangelho. Repletos
dela, poderão distribuí-la aos outros. O cristão é responsável não só por sua
própria fé, como também pela fé do irmão.
A fé não se mede pelo tamanho, mas muito mais pela qualidade e
pelo compromisso de evangelização, de nova e eterna evangelização aonde somos chamados
a resgatar a pessoa humana na sua integralidade. Assim, hoje, Jesus no
Evangelho (cf. Lc. 17,5-10), capítulo 17 de São Lucas, nos fala da fé, razão
propulsora da misericórdia. Jesus não diz o que é a fé, mas apresenta
qualidades da fé, que nos ajudam a examinar a fé que temos e que professamos.
A fé é uma experiência pessoal que nós vamos evoluindo para se
transformar numa experiência comunitária ou eclesial que nos enche de
encantamento na busca do rosto de Deus.
A fé pessoal tem que se transformar em fé eclesial ou religiosa.
Confiamos, mesmo contra todas as nossas tendências e pecados, na misericórdia
de Deus que nos embala pela força do Santo Espírito na vivência da fé pela
Palavra de Deus e pela celebração dos sacramentos e sacramentais.
Vivemos um grande momento de crise de fé e de grande secularismo.
A humanidade está vivendo uma grande crise de relacionamento. À raiz dessa
crise está o amortecimento da fé em Deus criador e provedor. A fé cristã vê a
força de Deus encarnada em Jesus Cristo, Palavra viva de Deus no meio de nós,
conosco fazendo comum unidade.
Jesus apresenta o Deus misericordioso, que abraça o filho pródigo,
sem pedir satisfações nem impor condições. Assim deve ser a nossa práxis
cristã. Jesus nos ensina que o perdão não tem limites e isso a homens cuja
generosidade maior havia chegado até a lei do talião, isto é, “elas por elas”.
Os apóstolos pedem a Jesus que aumente a sua fé. As exigências de
Jesus são difíceis para aqueles que foram escolhidos para o Colégio Apostólico.
Jesus chama os discípulos a dar um passo adiante, com novo modo de pensar e de
se comportar. A fé pode até ser pequena como um grão de mostarda, mas terá a
força de fazer coisas extraordinárias, até mesmo contra as chamadas leis da
natureza, como plantar uma árvore sobre as ondas do mar. A fé põe a criatura em
comunhão com Deus e a faz participar de sua força criadora e salvadora.
A fé necessita de duas qualidades: a primeira a fé deve ser
dinâmica. A fé não é sinônimo de resignação. A fé nada tem a ver com o
quietismo. A fé é coragem e decisão, ação e iniciativa. A fé é tão ativa que é
capaz de mudar a ordem da criação. A fé pode ser o impossível, porque Jesus nos
ensinou que: “Comigo tudo podeis” (cf Jo 15,5). A fé é dinâmica e opera sempre,
em dias de bonança e em dias de martírio ou de dificuldades. A fé tem a força
de nos fazer caminhar também por cima das coisas negativas como o pecado, a
dúvida, a confusão e a violência injusta.
Tudo dentro do contexto de perseguições a que estariam submetidos
os cristãos, particularmente os apóstolos, pela tortura, pela calúnia e pela
intransigência dos judeus e do poder romano.
A segunda qualidade da fé: a humildade. Fé humilde que deve ser
generosa e gratuita. A criatura diante do Criador deve ser disponível, sem
cálculos, sem pretensões, sem contrato.
Neste contexto muitos cristãos procuram a fé em troca de uma
recompensa. Essa era a mentalidade dos judeus e até nos apóstolos no início da
pregação. Mas Jesus fala da gratuidade. Jesus é duro e direto: depois de um dia
de trabalho ou de vida inteira consagrada às coisas de Deus, devemos dizer:
“Somos servos inúteis. Fizemos apenas o que devíamos fazer”. Quando os
discípulos pedem a Jesus que “aumente a sua fé” Jesus confirma a necessidade da
fé. Mas uma fé profundamente dinâmica na dimensão para Deus e na dimensão para
o próximo: uma fé humilde diante de Deus e diante de nossas pretensões.
Na segunda leitura são Paulo admoesta seu amigo Timóteo a manter
plena fidelidade ao Senhor. Pois também o ministro da fé deve firmar-se na
fidelidade, para poder firmar seus irmãos na fé. Não se envergonhar, observar a
doutrina sadia recebida do apóstolo, guardar o “bom depósito”, ou seja, o bem a
ele confiado, o Evangelho. Nas circunstâncias daquele tempo e de todos os
tempos, ontem, hoje e amanhã, isso só é possível com a força do Santo Espírito.
O seguidor de Jesus Cristo vive num contexto e num mundo
secularizado do qual Deus está ausente, que vive e se organiza sem ele. Com a
sua fé, o cristão tem neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças
propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos a sua grande
esperança. A fé cristã é posta diante de um desafio: tornar-se propugnadora de
problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador eletrônico podem
resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem e do mundo.
Assim, a comunidade eclesial, neste dia do Senhor, é convidada com
insistência a dar graças a Deus e unir à oferta de Cristo todas essas
experiências de páscoa. Por elas os cristãos fazem uso dos bens materiais sem,
no entanto, a elas estarem escravizados. A confiança em Cristo liberta o
coração do homem para Deus e para os irmãos. Por isso rezemos com insistência:
“Senhor, aumentai a nossa fé!”.
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Somos
meros servos de Deus
A Palavra de Deus que hoje nos é
dirigida fala de dois temas: a fé e a atitude correta que o homem deve assumir
perante Deus. As leituras são um convite a reconhecermos nossa pequenez e a
acolher com gratidão os dons que Deus nos concede.
Na primeira parte do Evangelho, vemos
um pedido por parte dos apóstolos ao Senhor: “aumenta a nossa fé!”. Não sabemos
precisamente o que tenha feito os apóstolos pedirem ao Senhor para que
aumentasse a fé deles; podemos imaginar que seja algo ligado ao perdão
ilimitado (texto imediatamente anterior): por ser uma tarefa muito difícil,
principalmente quando se tem que perdoar o próximo que nos magoa
constantemente; às vezes, a paciência e o amor querem fraquejar. Por isso, é
necessária muita fé.
Os apóstolos e nós, hoje, nos damos
conta como é fraca a nossa fé em Deus. Mas, como eles, não abandonamos a luta
nem diminuímos os nossos trabalhos, mas pedimos ao Senhor uma fé mais firme. E
é o que devemos fazer mesmo! Só Deus pode vir em nosso auxílio.
Jesus não responde diretamente ao
pedido dos apóstolos. Mas, com a sua resposta, ressalta a importância da fé.
Somente se tivermos uma autêntica confiança em Deus, acontecerá aquilo que para
a razão humana é impossível. Esta impossibilidade é exemplificada através da
imagem do “transportar montanhas” (aqui uma amoreira). Não há limites para o
poder de Deus. Mesmo que Deus nos peça coisas aparentemente impossíveis, ele
pode nos tornar capazes de realizá-las. E mesmo que esta fé seja microscópica
como uma pequena semente de mostarda, se for verdadeira fé, Deus fará com que
ela desenvolva. (contraste entre a pequenez da semente de mostarda de 2 mm. de
diâmetro e a altura dessa árvore de até 5 metros de altura).
Na 1º leitura, vemos o profeta Habacuc
que discute com Deus: como fazer pra acreditar em Deus se as coisas estão indo
mal? E Deus responde: “o justo viverá por sua fé”. Talvez estejamos na mesma
situação de Habacuc? Quanta violência, injustiças, tragédias, e quanta falta de
fé. É preciso termos fé, é necessário confiar.
Em tudo aquilo que Jesus faz, ele
encoraja os apóstolos a crerem. Ele diz a Pedro: “eu orei por ti para que tua
fé não desfaleça” (Lc. 22,32). Desta forma, o Senhor cumpre o pedido feito por
seus apóstolos de aumentar a fé deles. Também nós devemos contar com a oração
de Jesus e pedir esta forma de relação fundamental com Deus: a confiança nele.
Com a parábola do servo, Jesus nos
indica um outro aspecto essencial da nossa relação com Deus. Esta parábola não
pretende mostrar o comportamento de Deus com relação ao homem, mas quer indicar
qual a justa atitude em que nos encontramos perante ele. Jesus não quer passar
a idéia de um Deus como um patrão que manda, é servido sem agradecer, e
alimenta os seus servos só com o resto! Não! O que importa aqui é: qual a justa
visão que os apóstolos devem ter de sua relação com Deus: os servos devem fazer
tudo aquilo que o seu patrão ordena. Observando estas ordens, fazem somente o
seu dever e não merecem nada por isso. Devem aceitar esta realidade.
Reconhecer a nossa relação de
dependência a Deus significa entender que não somos independentes. Ninguém veio
à existência sozinho. Também não somos autônomos, não podemos viver a nossa
vida a nosso bel prazer sem prestarmos contas a Deus. Temos deveres para com
Deus. Mas também devemos estar conscientes de que ele nunca nos pede nada de
arbitrário ou absurdo. O dever é aquele de nos comportarmos como
administradores fiéis: da nossa vida, das nossas capacidades, dos nossos dons.
Nunca devemos pensar que cumprindo a
vontade do Senhor temos direitos e privilégios perante Deus. Devemos ser
conscientes que o que fazemos não é outra coisa que o nosso dever. Às vezes,
podemos pensar que o fato de rezarmos, de fazermos caridade, de cumprir a
vontade de Deus represente um favor a ele e que por isso, ele deve ser grato a
nós. Há muita gente que pensa assim. Pois, saibamos que Deus se alegra pelo
nosso esforço. Mas, ele não precisa disso. De jeito nenhum. Nós é que
precisamos dele sempre. De nossa relação com Deus devemos excluir qualquer
pretensão.
Assim, com humildade e modéstia, a
nossa condição perante Deus é fazer tudo aquilo que é nosso dever, e por isso,
o Evangelho nos chama de simples servos, não de “servos inúteis”. A palavra
grega utilizada aqui traduzida por inútil indica a falta de mérito, a
humildade, a pequenez, e não a inutilidade: a ideia de não servir para nada.
Não somos servos inúteis, pois trabalhamos no arado de Deus, mas nem por isso
deixamos de ser somente simples servos que devem cumprir a sua missão com amor.
padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento -
www.pecarlos.blogspot.com
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Temos fé?
Aqui nos reunimos porque temos fé, e
desejamos alimentá-la e fortalecê-la. O que é mesmo a fé? Como se
expressa?
Quantas vezes em nossa vida passamos
por momentos de desânimo, impaciência, descrença. Questionamos tudo e todos,
até mesmo a nossa fé. Chegamos a ponto de nos perguntar: vale a pena crer?
No início do mês das missões,
poderíamos até perguntar: vale a pena pregar o Evangelho? Acreditar na missão?
"Gastar" uma vida para anunciar o Evangelho? Ouçamos o que a Palavra
de Deus tem a nos dizer.
Na 1a leitura, o
profeta Habacuc conta a sua experiência de fé. Diante da extrema violência e
corrupção, que vê no meio do povo, ele se queixa impaciente: "Até quando,
Senhor?" E o Senhor o exorta a não desanimar. Ele intervirá no momento
oportuno: "O justo viverá por sua fé". (Hab 1,2-3.2,2-4)
Quantas vezes também nós não
conseguimos entender porque Deus permite tantas coisas "absurdas".
Nessas horas, como Habacuc, reclamamos: por que? Até quando?
A fé é o único caminho para compreender
o mistério da história e superar todas as dificuldades e contradições. Devemos
confiar em Deus, mesmo quando ele "parece" ausente da história. Um
dia veremos a intervenção salvadora e libertadora de Deus.
Na 2a leitura: são
Paulo convida Timóteo, cansado e preocupado pelas adversidades (Paulo preso,
apóstolos morrendo): "Reaviva o Dom de Deus, que recebeste". (2Tm.
1,6-8.13-14)
O texto nos convida a reavivar também a
chama da nossa fé, anunciando-a de todas as formas, em todos os lugares e
culturas.
No Evangelho, Jesus afirma que a fé
remove os obstáculos. (Lc. 17,5-10)
Jesus e os apóstolos estão a caminho de
Jerusalém. Diante da caminhada difícil proposta por Cristo a seus seguidores,
os apóstolos estão vacilando, sentem-se tentados a voltar atrás, como já tinham
feito muitos discípulos. Então, preocupados, pedem ao Senhor: "Senhor,
aumentai a nossa fé".
Jesus responde: "Se tivésseis fé
como um grão de mostrada... poderíeis dizer a essa amoreira, arranca-te daqui e
planta-te no mar... e ela vos obedeceria".
A fé consegue realizar aquilo que aos
olhos dos homens parece impossível. A fé autêntica, mesmo pequena, poderá
superar os maiores obstáculos.
O
QUE É A FÉ?
Um dom gratuito de Deus, que tudo
ilumina e fortalece na vida. Não conquistamos por méritos...
Mas que exige uma resposta viva e
atuante: "A fé sem obras é morta" (Tg. 2,17)
Fé e vida devem andar sempre juntas. A
fé, mesmo que pequena, cresce e se torna forte pelo cultivo da oração, da participação
ativa na comunidade, pela prática da caridade, da justiça, pela vivência
fraterna e solidária.
Não é apenas uma adesão intelectual a
umas verdades aprendidas na catequese, a uns ritos de religiosidade popular.
Não é um recurso para conseguir determinadas coisas. É, antes, uma adesão de
vida ao projeto de Deus. Um encontro pessoal com Deus, em Jesus Cristo. É
aceitar realizar o plano de Deus em nós, fazer a vontade de Deus. É olhar o
mundo, os acontecimento, as pessoas com o olhar de Deus...
É uma entrega total e gratuita. sem
esperar direitos e privilégios. Não é ter Deus a nosso serviço, mas nos colocar
plenamente à disposição de Deus, confiando nele e acatando sua palavra e sua
vontade. Nosso serviço e nossa fidelidade ao Senhor são de filhos e não de
assalariados.
Duas tentações (nesse mundo inseguro,
perturbado, hostil):
1. o desânimo: sentimo-nos pequenos,
incapazes, inúteis. Por isso, muitas vezes pensamos até em largar tudo;
2. considerar-nos
"necessários" ou "merecedores". Muitas vezes, imaginamos
Deus como um contador que contabiliza cuidadosamente num livro nossos créditos
e débitos, a fim de pagar religiosamente, de acordo com os nossos
"merecimentos".
Para apagar essa imagem de Deus e
eliminar a "religião dos merecimentos" (comum aos judeus e a nós),
Jesus contou uma parábola: o servo que volta da roça "Quando tiverdes
feito tudo o que vos mandaram, dizei: somos servos inúteis, fizemos o que
devíamos fazer."
Por isso, no mundo descrente em que
vivemos, não fiquemos desanimados ou preocupados, mas sim com a firme esperança
de que "O justo vencerá pela sua fé".
E se ela é ainda pequena, menor do que
o grão de mostarda, façamos nosso o pedido dos apóstolos: "Senhor,
aumentai a nossa fé ..."
padre Antônio Geraldo Dalla Costa - buscandonovasaguas.com
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“Até quando, Senhor, chamarei por Vós, e não me
ouvis? Até quando clamarei
contra a violência e não me enviais a Salvação? Por
que me deixais ver a iniquidade
e contemplar a injustiça? Diante de mim está a
opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia.”
Estamos em outubro, mês das missões.
Somos convidados a refletir com ardor e intensidade no compromisso missionário
da Igreja. Nós cristãos temos de ser mais comprometidos coma a vida e ação
missionária da Igreja.
A Palavra de Deus hoje nos fala da fé,
da Salvação, da radicalidade do “caminho do Reino” e a atitude correta que a
pessoa deve assumir diante de Deus.
As leituras ajudam-nos a refletir, e
convidam-nos a reconhecer a nossa fraqueza e limitações para nos comprometer
com o Reino. Este Reino deve ser acolhido com gratidão e entrega, para que os
dons de Deus estejam em mãos nossas e dos irmãos.
O profeta Habacuc pede a Deus que Ele
intervenha no mundo para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado e a outras
desgraças. Deus responde ao profeta que esta é a sua intenção. Mas o seu
projeto pede-nos paciência para esperar o “tempo de Deus”.
No tempo de Habacuc, o rei de Judá é
Joaquim (609-598 a.C.), que é conhecido como um rei fraco e incompetente, que
explora o povo e ajuda a galopar ainda mais veloz a injustiça. Ajuda a cavar um
fosso cada vez mais fundo entre ricos e pobres.
O profeta parece estar cansado de tanta
violência e injustiça, e faz uma queixa a Deus: “Até quando, Senhor, clamarei,
sem que me escutas?” O grito do profeta é o clamor do pobre, do injustiçado.
Parece que Deus é complacente com o pecado, não se assemelha mais ao Deus
libertador que tirou o seu povo do Egito.
Habacuc não só transmite a Palavra de
Deus, mas também pergunta a Deus e exige respostas. Finalmente Deus se digna a
responder ao profeta. Sua resposta é de esperança, mostra também que Deus não
está indiferente diante do pecado, porque a vingança de Deus está próxima. Mas
qual será a vingança de Deus? A vingança divina é o amor. Cabe ao homem esperar
com paciência o tempo do amor de Deus. O justo triunfará. Quem é Ele? Jesus
Cristo, o salvador da humanidade.
Não raras vezes, encontramos pessoas
que nos questionam por que Deus fica em silêncio diante de tantas mazelas; como
é que Deus fica quieto diante de tantas injustiças; como Deus pode pactuar com
a violência e opressão? Se Deus existe, por que é que há crianças morrendo de
câncer ou de fome? Muitas pessoas, diante destas questões, deixam de ter uma
relação mais confiante com Deus. Diante de nossa pequenez e insensibilidade
humana, não temos as respostas para estas perguntas. Reconhecemos apenas que o
projeto de Deus ultrapassa infinitamente a nossa compreensão.
Deus conduz o mundo por caminhos
incompreensíveis, estranhos e misteriosos. Como afirma o Pequeno Príncipe:
“Quando o mistério é muito grande, não ousamos a questioná-lo.” Temos de
confiar em Deus, entregar-nos em suas mãos, e continuar esperando nele. Mesmo
sem entender, a nossa missão é continuar a dar testemunho de nossa fé e de sua
gloria...
Deus confia em nós, por isso coloca os
bens em nossas mãos, para sermos bons administradores e denunciarmos o que
impede a realização do projeto de Deus.
“Deus não nos deu um espírito de
timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação.”
O autor da 2ª leitura anima-nos e
quer-nos convidar a renovar o nosso compromisso com Jesus Cristo e o seu
Evangelho. Exorta Timóteo e cada cristão a serem animadores de comunidades, a
conduzirem-nas na fortaleza, no amor, e a dar testemunho de sua esperança em
Cristo Jesus, defendendo o projeto do Evangelho.
O autor do texto a Timóteo recorda a
ele que são necessárias três qualidades que devem nortear o ministro animador
de comunidades: a fortaleza diante as dificuldades, o amor que se entrega
totalmente a Cristo, e as pessoas e a prudência na animação e orientação da
comunidade.
No fim do texto, Timóteo, e todo
ministro que é animador de comunidades, deve ensinar a doutrina verdadeira,
defender a comunidade de tudo o que a afasta da verdade do Evangelho de Jesus.
A “fé” é, antes de mais, a adesão à
pessoa de Jesus Cristo e ao seu projeto.
Aderir a Jesus Cristo é o convite do
Evangelho de hoje. O projeto de vida de Jesus é servir a Deus nos irmãos.
Somente pela fé podemos demonstrar nossa adesão radical a Jesus, a qual se
expressa pelas obras do serviço e doação aos outros. Os
discípulos-missionários, comprometidos na construção do Reino de Deus, sabem
que não agem por si próprios, mas como enviados a servir e ser instrumentos
pelos quais Deus realiza a Salvação. Resta-nos cumprir com humildade e
gratuidade a nossa missão de sermos “servos que apenas fizeram o que devíamos
fazer”.
A fé é condição para entrar no Reino,
mas é também a exigência que Jesus faz para segui-lo. A fé é primordial para
adesão a Jesus, à sua proposta e ao seu projeto. Os discípulos sabem que aderir
a Jesus não é uma vida cômoda e fácil, mas a fé supera a fragilidade e a
esperança, anima a coragem no caminho do Reino. Por isso pedem que Jesus lhes
aumente a fé. Eles a pedem com outras palavras, que Jesus lhes aumente a
coragem de agir decididamente pelo Reino, o que significa pedir que lhes dê a
força para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio
apresentar.
A fé é poderosa, e o resultado dela é
manifestado por Jesus com a ordem dada à amoreira. Para a fé tudo é possível.
Todos os que aderem a Jesus terão a coragem da transformação completa da pessoa
do discípulo-missionário. A fé em Jesus realiza autênticos milagres de transformação,
e constrói relações de paz, justiça e caridade.
Jesus pede-nos que tenhamos fé, e com
coragem nos empenhemos na e para a missão. O discípulo-missionário, pela fé,
percorre o “caminho do Reino”, capaz de operar coisas maravilhosas, milagres
que transforma o mundo... E, cumprida a sua missão, reconhece ainda que é
apenas um servo humilde de Deus, agradecendo-lhe os dons e a fé que lhe foram
confiados para a missão de levar a Boa-Nova às pessoas.
A fé é, portanto, a adesão à pessoa de
Jesus Cristo e ao seu projeto. É a fé em Jesus Cristo que conduz e anima a
minha vida? Jesus Cristo ocupa o centro de nossas vidas? Os projetos de Jesus
são também os meus? Sou um entusiasta do Reino? Quais são os “milagres” que a
minha fé pode fazer?
O Evangelho de hoje revela que não
podemos exigir nada de Deus, não é Ele que é nosso devedor, mas somos nós que
lhe devemos. Temos de ter humildade e cumprir o que nos diz o seu projeto de
Salvação.
Os apóstolos de Jesus pedem que lhes
“aumente a Fé”. É um pedido louvável também par nós. Na despedida de Jesus (Mt. 28,16-20)
o evangelista narra que “alguns tiveram dúvidas”, mas Jesus lhes assegura que
estará com eles todos os dias, até o fim dos tempos. Isto revela que a fé deve
ser cultivada, crescer aos poucos, e, se formos de Cristo, a nossa fé tenderá a
aumentar sempre mais. O servo não procura, então, a glória, mas somente a
alegria de ter feito o seu dever.
padre Elmo Heck - www.pom.org.br
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Na
Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a
salvação, a radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas sobressai a reflexão
sobre a atitude correta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras
convidam-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a
comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher com
gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o
para intervir no mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado…
Deus, em resposta, confirma a sua intenção de atuar no mundo, no sentido de
destruir a morte e a opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o
momento oportuno, de acordo com o seu projeto; ao homem, resta confiar e
esperar pacientemente o “tempo de Deus”.
O Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e
radicalidade, a esse projeto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao
homem… A essa adesão chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no
mundo. Os discípulos, comprometidos com a construção do “Reino” devem, no
entanto, ter consciência de que não agem por si próprios; eles são, apenas,
instrumentos através dos quais Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o
seu papel com humildade e gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que
deviam fazer”.
A segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu
compromisso com Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta
os animadores cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor
as comunidades que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do
Evangelho.
1º leitura: Hab.
1,2-3; 2,2-4 - AMBIENTE
Sobre a vida e a personalidade de Habacuc, não sabemos nada: o
título do livro não indica o lugar do nascimento do profeta, nem o tempo histórico
em que o profeta viveu.
A menção dos “caldeus” (Hab 1,6) parece situar a proclamação de
Habacuc na época em que os babilônios, depois de desmembrarem o império
assírio, procuravam impor o seu domínio aos povos de Canaan. Estaríamos, pois,
nos finais do séc. VII a.C.…
O rei de Judá é, nesta altura, Joaquim (609-598 a.C.). Trata-se de
um rei fraco, incompetente, que explora o povo, que deixa aumentar as
injustiças e cavar um fosso cada vez maior entre ricos e pobres; além disso, o
rei desenvolve uma política aventureirista de alianças com as super-potências
da época… Apesar das simpatias pró-egípcias de Joaquim, Judá sente já o peso do
imperialismo babilônio e vê-se obrigado a pagar um pesado tributo a
Nabucodonosor. Prepara-se a queda de Jerusalém nas mãos dos babilônios, a morte
de Joaquim, a deportação do seu filho e sucessor Joaquin (que reinou apenas
três meses – cf. 2Re 24,8) e a partida para o exílio de uma parte significativa
da classe dirigente de Judá (1ª deportação: 597 a.C.).
MENSAGEM
O nosso texto começa por expor a queixa do profeta: “até quando,
Senhor, clamarei sem que me escutes? Até quando gritarei ‘violência’, sem que
me salves?” (Hab. 1,2)…
Habacuc grita a sua impaciência (e a impaciência do seu Povo),
questionando a atitude complacente de Deus para com o pecado; ele não
compreende que Deus contemple, impassível, as lutas e contendas do seu tempo…
Habacuc sente-se interpelado pelo que o rodeia e não concebe que Deus (esse
mesmo Deus que se manifestou como libertador e salvador na história do Povo e
que se proclama fiel aos compromissos que assumiu para com os homens) não ponha
fim a tantas grosseiras violações do seu projeto para o mundo. O profeta não se
limita a escutar a Palavra de Jahwéh e a transmiti-la; mas ele próprio toma a iniciativa,
pergunta a Deus, exige respostas. E, como uma sentinela vigilante, o profeta
fica à espera que Deus se justifique (cf. Hab 2,1).
Finalmente, Deus digna-se responder. A mensagem é de esperança,
pois a resposta de Deus deixa claro que Ele não fica indiferente diante do mal
que desfeia o mundo e que o momento da vingança divina está para chegar; ao
homem, resta esperar com paciência o tempo da ação de Deus (cf. Hab 2,2-5):
nessa altura, o orgulhoso e o prepotente receberão o castigo e o justo triunfará.
Em conclusão: diante da injustiça e da opressão, Jahwéh parece,
muitas vezes, indiferente e ausente; mas, de acordo com o seu plano (que o
homem não conhece em pormenor), Ele encontrará o momento ideal para intervir,
para castigar o imperialismo, o orgulho, a injustiça e a opressão.
ATUALIZAÇÃO
¨ Com frequência encontramos pessoas que nos questionam acerca da
relação entre Deus, a sua justiça e a situação do mundo: se Deus existe, como é
que Ele pode pactuar com a injustiça e a opressão? Se Deus existe, porque é que
há crianças a morrer de cancro ou de fome? Se Deus existe, porque é que os bons
sofrem e os maus são compensados com glória, honras e triunfos? Se Deus existe,
porquê o sofrimento inocente? Estas são as questões que, hoje, mais
obstaculizam a crença em Deus… A nossa resposta tem de ser o reconhecimento
humilde de que os projetos de Deus ultrapassam infinitamente a nossa pequenez e
finitude e que nós nunca conseguiremos explicar e abarcar os esquemas de Deus…
¨ Sobretudo, importa perceber que os caminhos de Deus não são
iguais aos nossos.
Deus tem o seu próprio ritmo; e o ritmo de Deus não é o ritmo da
nossa impaciência, da nossa correria, do nosso egoísmo, dos nossos interesses…
Do ponto de vista de Deus, as coisas integram-se num “todo” que nós, na nossa
pequenez, não podemos abarcar. Resta-nos respeitar – mesmo sem entender – o
ritmo de Deus.
¨ Além disso, precisamos aprender a confiar em Deus, a
entregarmo-nos nas suas mãos, a sentir que Ele é um Pai que nos ama e que,
aconteça o que acontecer, está a escrever a história por caminhos direitos
(embora os caminhos pelos quais Deus conduz o mundo nos pareçam, tantas vezes,
estranhos, misteriosos, enigmáticos, incompreensíveis). Há que confiar na
bondade e na magnanimidade desse Deus que nos ama como filhos e que tudo fará,
sempre, para nos oferecer vida e felicidade.
¨ Mesmo sem entender, a nossa missão é continuar a dar testemunho…
Deus chama-nos a denunciar tudo o que impede a realização plena do projeto de
felicidade que Ele tem para o homem (a injustiça, a violência, a repressão, o
egoísmo, o medo…); mas quanto ao tempo exato e aos moldes da intervenção
salvadora e libertadora de Deus no mundo e na história pessoal de cada homem ou
mulher, isso só a Deus diz respeito.
2º leitura: 2Tim.
1,6-8.13-14 - AMBIENTE
A segunda carta a Timóteo contém, como a primeira, conselhos
pastorais de Paulo para o seu grande colaborador e sucessor na animação das
Igrejas da Ásia: esse Timóteo que acompanhou Paulo nas suas viagens
missionárias e que, segundo a tradição, foi bispo de Éfeso.
Também aqui, é muito duvidoso que seja Paulo o autor deste texto.
Os argumentos são os mesmos que vimos, a propósito da primeira carta a Timóteo:
linguagem diferente da utilizada habitualmente por Paulo, estilo diferente,
doutrinas diferentes e, sobretudo, um contexto eclesial que nos situa mais no
final do séc. I ou princípios do séc. II do que na época de Paulo (o grande
problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”,
frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas
doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta (e que se apresenta na
pele de Paulo) diz encontrar-se na prisão e pressentir a proximidade da morte.
Exorta insistentemente Timóteo a perseverar no ministério e a conservar a sã
doutrina. É uma espécie de “testamento”, no qual Timóteo (que aqui representa
todos os animadores das comunidades cristãs) é convidado a manter-se fiel ao
ministério e à doutrina recebidos dos apóstolos.
MENSAGEM
O autor da carta começa por exortar Timóteo (e os animadores das
comunidades cristãs, em geral) a que reanime o carisma que recebeu quando Paulo
e o colégio dos anciãos lhe impuseram as mãos, consagrando-o para o ministério
apostólico (vs. 6-8). É um pedido lógico: mesmo que a opção de doar a vida a
Deus e aos irmãos já tenha sido tomada, essa decisão fundamental necessita,
cada dia, de ser aprofundada e confirmada… As desilusões, os fracassos, a
monotonia, a fragilidade humana arrefecem o entusiasmo original; e é necessário,
a cada instante, redescobrir o sentido das opções fundamentais que, um dia, o
discípulo fez. Na sequência, são recordadas a Timóteo três das qualidades
fundamentais que devem estar sempre presentes no apóstolo: a fortaleza frente
às dificuldades, o amor que o impulsionará para uma entrega total a Cristo e
aos homens e a prudência (ou moderação) necessária para a animação e orientação
da comunidade.
Na segunda parte do texto que nos é proposto (vs. 13-14), Timóteo
é exortado a conservar-se fiel à sã doutrina recebida de Paulo. Estamos – como
já dissemos atrás – numa época em que as heresias começam a infiltrar-se na
comunidade cristã e a confundir os cristãos. O animador da comunidade tem o
dever de ensinar a doutrina verdadeira e de defender a comunidade de tudo
aquilo que a afasta da verdade do Evangelho de Jesus, fielmente transmitido
pelo testemunho apostólico.
ATUALIZAÇÃO
¨ A interpelação do autor da segunda carta a Timóteo dirige-se,
antes de mais, a todos aqueles que um dia aceitaram o batismo e optaram por
Cristo. Na verdade, o mundo que nos rodeia apresenta imensos desafios que,
muitas vezes, nos desmobilizam do serviço do Evangelho e dos valores de Jesus.
É por isso que é preciso redescobrir os fundamentos do nosso compromisso. Quais
são os interesses que influenciam a minha vida e que condicionam as minhas
opções: os meus gostos pessoais, as indicações da moda, as sugestões da
sociedade, ou as exigências e os valores do Evangelho de Jesus?
¨ Como é que eu revitalizo, dia a dia, o meu compromisso com Cristo
e com os irmãos? Há muitos caminhos para aí chegar… Mas a comunhão com Deus, a
oração, a escuta e partilha da Palavra de Deus, os sacramentos são formas
privilegiadas para redescobrir o sentido das minhas opções e do meu compromisso
com Deus. Isto faz sentido, para mim? É este o caminho que venho procurando
seguir? Mantenho com Deus esse diálogo necessário?
¨ O nosso texto interpela de forma direta os animadores das
comunidades cristãs.
Convida-os a redescobrir, cada dia, esse entusiasmo que lhes enchia
o coração no dia em que optaram pela entrega da própria vida a Cristo e aos
irmãos. Convida-os a despirem-se da preguiça, da inércia, do comodismo e a
fazerem da sua vida, em cada dia, um dom corajoso ao “Reino”. É isso que
acontece comigo? Sou forte, corajoso, sem medo, quando se trata de vencer as
dificuldades que me impedem de me dar a Cristo e aos outros? O que me
impulsiona é o amor, ou são interesses próprios e egoístas? Sou uma pessoa
moderada e de bom senso, que não trata os irmãos da comunidade de forma
agressiva e prepotente?
¨ No texto há, ainda, um convite a conservar a doutrina
verdadeira. O que é que isto significa: um conservar inalteradas as fórmulas e
os ritos, ou um redescobrir cada dia o essencial, adaptando-o sempre às novas
realidades e aos novos desafios que o mundo põe? Como é que sabemos se estamos
em consonância com a proposta de Jesus?
Evangelho: Lucas
17,5-10 - AMBIENTE
Continuamos a percorrer o “caminho de Jerusalém” e a deparar com
as “lições” que preparam os discípulos para o desafio de compreender e de dar
testemunho do “Reino”. Desta vez, o nosso texto junta um “dito” de Jesus sobre
a fé e uma parábola que convida à humildade.
Nas “etapas” anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da
dificuldade de percorrer o “caminho do Reino” (disse-lhes que entrar no “Reino”
é “entrar pela porta estreita” – Lc. 13,24; convidou-os à humildade e à
gratuidade – cf. Lc. 14,7-14; avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do
que a própria família, os próprios interesses ou os próprios bens – cf. Lc.
14,26-33; exigiu-lhes o perdão como atitude permanente – cf. Lc. 17,5-6);
agora, são os discípulos que, preocupados com a exigência do “Reino”, pedem
mais “fé”.
O “dito” sobre a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que
hoje nos é proposto aparece numa forma um pouco diferente em Mt. 17,20 (um
“dito” análogo lê-se também em Mc. 11,23 e Mt. 21,21, a propósito da figueira
seca). No estado atual do texto, é muito difícil definir o contexto original do
“dito” de Jesus, o seu enquadramento e o seu significado. Aqui, no entanto, ele
serve a Lucas para manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em
percorrer esse difícil “caminho do Reino”.
MENSAGEM
A primeira parte do nosso texto é, portanto, constituída por um
“dito” sobre a fé (vs. 5-6). Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto
ao caminho que os discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a
resposta lógica destes só pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a
ver com a exigência do “Reino”?
No Novo Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé
não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades
abstratas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projeto –
ou seja, ao projeto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de
que essa adesão não é um caminho cômodo e fácil, pois supõe um compromisso
radical, a vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o
comodismo e o egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes
aumente a fé significa, portanto, pedir-lhe que lhes aumente a coragem de optar
pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes
dê a decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes
veio apresentar.
Jesus aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o
resultado da “fé”. A imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para
se arrancar da terra e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a
“fé” tudo é possível: quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e
determinação, isso implica uma transformação completa da pessoa do discípulo e,
em consequência, uma transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com
radicalidade é ter na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa
transformação pareça impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e
determinação é capaz de autênticos “milagres”… E isto não é conversa fiada:
quantas vezes a tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a
morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na segunda parte do nosso texto (vs. 7-10), Lucas descreve a
atitude que o homem deve assumir diante de Deus. Os fariseus estavam
convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a
salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão
salvá-lo… A salvação dependia, de acordo com esta perspectiva, dos méritos do
homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas
para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Jesus coloca as coisas numa dimensão diferente. A atitude do
discípulo – desse discípulo que adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras
do Reino” e que constrói o “Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de
quem sente que fez tudo muito bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo;
mas deve ser a atitude de quem cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um
servo que apenas fez o que lhe competia.
O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com
coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer
esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o
mundo… E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de
Deus, agradecer-lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas
suas mãos.
ATUALIZAÇÃO
¨ A “fé” é, antes de mais, a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao
seu projeto.
Posso dizer, de fato, que é a “fé” que conduz e que anima a minha
vida? Jesus é o eixo central à volta do qual se constrói a minha existência? É
Jesus que marca o ritmo e a cor das minhas opções e dos meus projetos?
¨ O “Reino” é uma realidade sempre “a fazer-se”; mas
apresentam-se, com frequência, situações de injustiça, de violência, de
egoísmo, de sofrimento, de morte, que impedem a concretização do “Reino”. Como
é que eu – homem ou mulher de fé – ajo, nessas circunstâncias? A minha “fé” em
Jesus conduz-me a um empenho concreto pelo “Reino” e entusiasma-me a lutar
contra tudo o que impede a concretização do “Reino”? A minha “fé” nota-se nos
meus gestos? Há algo de novo à minha volta pelo fato de eu ter aderido a Jesus
e pelo fato de eu estar a percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os
“milagres” que a minha “fé” pode fazer?
¨ Nós, homens, somos, com frequência, muito ciosos dos nossos
direitos, dos nossos créditos, daquilo que nos devem pelas nossas boas ações.
Quando transportamos isto para a relação com Deus, construímos um deus que não
é mais do que um contabilista, que escreve nos seus livros os nossos créditos e
os nossos débitos, a fim de nos pagar religiosamente, de acordo com os nossos
merecimentos… Na realidade – diz-nos o Evangelho de hoje – não podemos exigir
nada de Deus: existimos para cumprir, humildemente, o papel que Ele nos confia,
para acolher os seus dons e para O louvar pelo seu amor. É nesta atitude que o
discípulo de Jesus deve estar sempre.
¨ De certas pessoas diz-se que “não dão ponto sem nó”, para
descrever o seu egoísmo e as suas atitudes interesseiras. Porque é que fazemos as
coisas? O que é que motiva as nossas ações e gestos: o amor desinteressado, ou
o interesse pela retribuição?
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Aumentar a fé!
No Evangelho, em Lc. 17,5-10, surge a súplica dos apóstolos:
“Senhor, aumenta a nossa fé!” E Jesus disse-lhes: “se vós tivésseis fé, mesmo
pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: arranca-te
daqui e planta-te no mar, e ela vos obedeceria”. É uma linguagem figurada que
exprime a onipotência da fé. Jesus não pede muito; pede apenas um pouquinho de
fé, como o minúsculo grão de mostarda, bem menor do que a cabeça de um
alfinete; mas, se for sincera, viva, convicta, a fé será capaz de coisas muito
maiores, inconcebíveis à compreensão humana. Jesus quer educar os seus
discípulos numa fé sem incerteza nem vacilações, numa fé que, apoiada na força
de Deus, tudo crê, tudo espera, a tudo se atreve, e persevera invencível, mesmo
nas dificuldades mais árduas e difíceis.
Precisamos de uma fé firme, que nos leve a alcançar metas que
estão acima das nossas forças, que aplaine os obstáculos e supere os
“impossíveis” na nossa tarefa apostólica. É esta a virtude que nos dá a
verdadeira dimensão dos acontecimentos e nos permite julgar retamente todas as
coisas. Só pela luz da fé e pela meditação da palavra de Deus é que se pode
sempre e por toda a parte divisar Deus “em quem vivemos e nos movemos e somos”
(At. 17,28), procurar a sua vontade em todos os acontecimentos, ver Cristo em
todos os homens, sejam próximos ou estranhos, e julgar com retidão sobre o
verdadeiro significado e valor das coisas temporais, em si mesmas e em relação
ao fim do homem.
Devemos pedir ao Senhor uma fé firme que reanime o nosso amor e
nos faça superar as nossas fraquezas, a fim de sermos testemunhas vivas no
lugar em que se desenvolve a nossa vida.
Que força comunica a fé! Com ela superamos os obstáculos de um
ambiente adverso e as dificuldades pessoais, que com muita freqüência são mais
difíceis de vencer.
Houve ocasiões em que Jesus chamou aos apóstolos “homens de pouca
fé” (Mt. 8,26; 6,30), pois não se encontravam à altura das circunstâncias. O
Messias estava com eles, e no entanto tremiam de medo diante de uma tempestade
no mar (Mt. 8,26), ou preocupavam-se excessivamente com o futuro, quando fora o
próprio Cristo quem os chamara para que O seguissem. “Senhor, aumenta-nos a
fé", pediram a Jesus. O Senhor atendeu a esse pedido, pois todos eles
acabaram por dar a vida em testemunho supremo da sua firme adesão a Cristo e
aos seus ensinamentos.
Nós também nos sentimos por vezes carentes de fé diante das
dificuldades, da carência de meios, como os apóstolos. Precisamos de mais fé! E
ela aumenta com a petição assídua, com a correspondência às graças que recebemos,
com atos de fé. “Falta-nos fé. No dia em que vivermos esta virtude – confiando
em Deus e na sua Mãe –, seremos valentes e leais. Deus, que é o Deus de sempre,
fará milagres por nossas mãos. Dá-me, ó Jesus, essa fé, que de verdade desejo!
Minha Mãe e Senhora minha, Maria santíssima, faz que eu creia!” (São Josemaria
Escrivá, Forja, nº. 235).
Senhor, aumenta-nos a fé! Que boa jaculatória para que a repitamos
ao Senhor muitas vezes!
A fé é um dom de Deus que a nossa pequenez nem sempre consegue
sustentar. Por vezes, é tão pequena como um grãozinho de mostarda. Não nos
surpreendamos com a nossa debilidade, pois Deus conta com ela. Imitemos os
Apóstolos quando compreenderam que tudo aquilo que viam e ouviam excedia a sua
capacidade. Peçamos a Cristo, através de Nossa Senhora e com a humildade dos
discípulos, que nos aumente a fé, para que, como eles, possamos ser fiéis até o
fim dos nossos dias e levemos muitas pessoas até Ele, como fizeram aqueles que
O seguiam de perto em todos os tempos.
Diante das provações, dos desafios, o Senhor nos fala pelo profeta
Habacuc: “… o justo viverá por sua fé” (Hab. 2,4). Este ensinamento tanto é
para o israelita, como para o cristão de todos os tempos; é válido em qualquer
circunstância da vida dos indivíduos, dos povos ou da Igreja. Mesmo que tudo
aconteça como se Deus não existisse ou não visse, é necessário permanecer
firmes na fé. Deus não pode demorar a Sua intervenção e intervirá, certamente,
em favor dos que acreditam n'Ele e n'Ele depositam a sua confiança. “Deus concorre
em tudo para o bem dos que O amam” (Rm. 8,28).
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