CONTADOR DE VISITAS

terça-feira, 8 de outubro de 2019

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM-C


28º DOMINGO DO TEMPO COMUM-C
13 de outubro de2019

Evangelho-Lc 17,11-19

Lc 17,11-19; 2 Rs 5,14-17; Sl 98; 2Tm 2,8-13

 

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM-C,JESUS CUROU 10 LEPROSOS-José Salviano

 

A liturgia desse domingo é muito rica e nos conduz a vários pontos de reflexão. Poderemos começar pela causa que impulsionou aqueles dez leprosos a pedir socorro a Jesus

 

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 “ELES NÃO TEM MAIS VINHO.” Olivia Coutinho


FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA.

Dia 12 de Outubro de 2019

Evangelho de Jo2,1-11


Com o coração cheio de alegria, nós, cristãos católicos, celebramos hoje, a festa de Nossa Senhora Aparecida!
Nesta Festa, somos convidados a reverenciar Maria, no seu  título de Mãe Aparecida!
Reverenciar a Mãe de Jesus, é reconhecer a imensidão do amor de Deus, que escolheu a via do amor de mãe, para chegar até a nós! Por meio de Maria, Jesus chegou até nós, agora somos nós, que vamos até Ele pelas mãos dela.
O evangelho que a liturgia desta solenidade, nos convida a refletir, narra o primeiro milagre realizado por Jesus, chamado pelo o evangelista João, de primeiro sinal. O episódio acontece numa festa de casamento em Caná da Galileia, festa, em que Jesus, sua Mãe e seus discípulos estavam presentes.
O texto é cheio de simbologia, por isto, é importante não ficarmos presos ao um fato histórico, já que a intenção do autor sagrado, é destacar o casamento de Deus com  povo, Jesus é o noivo! Aproximava-se o tempo do encontro, da proximidade de Deus com o seu povo na pessoa de Jesus! A alegria deste encontro é simbolizada com uma festa de casamento. Maria participa desta festa, ou seja, ela participa do primeiro momento de Jesus! Foi ela que abriu o caminho para o milagre e continua abrindo caminho, para que muitos milagres possam acontecer na nossa vida por meio de Jesus.
Maria não somente, recorre a seu Filho por nós, como também, nos aponta o caminho para alcançarmos a graça, que é, colocando em prática, tudo o que seu Ele nos ensinou a fazer: “Fazei tudo que Ele vos disser.”
A narrativa nos mostra também, a solicitude maternal da Mãe de Jesus, ela se mostrou sensível diante a dificuldade do outro! Com o seu olhar de mãe, Maria  percebe de imediato, a falta do vinho.  Ao invés de levar o fato ao conhecimento do mestre-sala, ela vai direto a Jesus, já sabendo, que Dele viria a solução.
Com esta atitude de Mãe amorosa, que preocupa com seus filhos, Maria evita que os donos da festa, passassem por um vexame, já que na cultura daquele povo, o vinho, era considerado o símbolo da alegria e como tal, não podia faltar numa festa.
É interessante percebermos, que Maria, não pede nada a Jesus, ela simplesmente apresenta-lhe o fato: “Eles não tem mais vinho!” Com esta atitude, ela entrega o problema a Jesus, confiante de que Ele iria agir em favor dos donos da festa.
A confiança que Maria tinha no Filho, era tão grande, que mesmo antes de um parecer Dele, ela dirige-se aos serventes e disse-lhes: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. E o milagre aconteceu: Jesus transforma a água em vinho, em vinho bom!
Esta passagem Bíblica é rica em detalhes, sugestiva a uma profunda reflexão, porque envolve a missão de Jesus e a força intercessora de sua Mãe, que antecipa a sua hora: "Minha hora ainda não chegou."
Maria, não é simplesmente uma figura histórica, e sim, um exemplo de Mulher solidária, atuante, atenta as necessidades do povo! Como Mãe, ela cuida de nós, como nossa intercessora, leva a seu Filho, os  nossos pedidos.
O homem foi criado para relacionar com Deus, e esta relação amorosa, começou a partir do ventre sagrado de Maria, o ventre, que abrigou Jesus, o único mediador entre o homem e Deus!
Somos eternos aprendizes de Maria, com ela aprendemos a sermos mais solidários, a termos um olhar de misericórdia, a dar passos ao encontro de Jesus no encontro com os pobres, os abandonados, os esquecidos às margens do caminho.
Sigamos o exemplo desta grande mulher, estando sempre atentos às necessidades dos nossos irmãos.
Muitos de nós, não temos paciência de esperar pelo o tempo de Deus, como teve Maria, muitas vezes, na busca incessante do imediato, acabamos nos embriagando com um vinho ruim, um vinho que nos traz uma falsa alegria e assim, vamos perdendo a oportunidade de experimentar o vinho novo, o vinho da alegria verdadeira, vinho do amor e da esperança! É de Jesus que vem este vinho bom, ou seja, Jesus é este  vinho bom, o vinho novo, quem o experimenta, não encontra sabor em outros vinhos!
Maria foi a primeira pessoa, a beber deste vinho, bebamos com e como ela, deste vinho Novo que é Jesus.

VIVA NOSSA SENHORA APARECIDA!!!

FIQUE NA PAZ DE JESUS! – Olívia Coutinho  - Venha fazer parte do meu grupo de reflexão no Facebook:

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Salta aos olhos a mensagem da Palavra de Deus neste Domingo: a gratidão, o reconhecimento cheio de amor pela ação benéfica de Deus na nossa vida. Gratidão e ingratidão – eis o que aparece nas leituras de hoje. Primeiro, a gratidão de Naamã, um pagão, inimigo de Israel, que, no entanto, sabe ser agradecido a Deus. Curado de sua lepra, voltou para agradecer ao profeta Eliseu e, como sinal de conversão ao Deus verdadeiro, levou terra de Israel para Damasco, sua cidade, para, sobre essa terra, adorar a Deus. O reconhecimento pelo benefício de Deus fez desse pagão um amigo do Senhor e salvou a sua existência de um caminho sem sentido. Também a gratidão de outro pagão, o leproso samaritano que soube, reconhecido, voltar a Jesus “para dar glória a Deus”. Mas também, hoje, aparece a ingratidão. Nove leprosos, filhos do povo de Israel, que curados, não retornam para agradecer o dom... Dez foram curados, somente um foi salvo, o leproso pagão e estrangeiro:“Levanta-te e vai! Tua fé te salvou!”
Estejamos atentos! Hoje, temos tudo... Chegamos a um alto grau de desenvolvimento tecnológico e científico, compreendemos tantos dos processos e dinamismos da natureza e, num mundo ativista e auto-suficiente, temos a sensação ilusória que nos bastamos, que tudo é nosso, que tudo é fruto de nossos esforços, que tudo foi conquista nossa, simplesmente. Vamos nos tornando cegos para a presença cuidadosa, providencial e cheia de amor de um Deus que sempre vela por nós. Vamos nos tornando gravemente insensíveis para perceber a vida como dom, como graça, como presente. É impressionante como o mundo nos vai tornando dormentes, insensíveis mesmo, para Deus! Se a vida já não mais é percebida como um dom, também do nosso coração já não mais brota a ação de graças. Mas, uma vida assim é ela mesma, sem graça, ela mesma uma “desgraça”! Somente quando abrimos o coração e os olhos da fé, podemos perceber que tudo é graça, imenso dom de um Amor sem fim e, então, seremos realmente curados de uma vida sem sentido e libertos para correr livres nos caminhos da existência. Poderemos ouvir a palavra de Jesus: “Levanta-te e vai! A tua fé te salvou!  Salvou-te de uma vida mesquinha, fechada, incapaz de olhar as estrelas, incapaz de comunhão com o Pai do céu, incapaz de dizer "Pai nosso"  e de reconhecer nos outros teus irmãos..." Mas, para isso – nunca esqueçamos – é necessário um coração de pobre, um coração humilde, que reconheça que tudo quanto possuímos foi recebido de Deus.
Vale, então, para nós, no corre-corre da vida, a advertência de São Paulo, na segunda leitura de hoje: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos!” Lembrar-se de Cristo é tê-lo como palavra última e total de amor que o Pai nos pronunciou. Lembrar-se de Jesus é nunca esquecer que Deus está conosco, amando-nos, perdoando-nos e acolhendo-nos como Deus providente e misericordioso. Lembrar-se de Jesus morto e ressuscitado é nunca duvidar da misericórdia de Deus e de seu compromisso na nossa existência e na existência do mundo. “Lembra-te de Jesus Cristo ressuscitado! Merece fé esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o renegarmos, também ele nos negará. Se lhe formos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo!” Aqui está o motivo último e irrevogável de toda a nossa gratidão a Deus: Jesus Cristo, dado-nos como carinho e fidelidade do Pai! É de tal modo este dom, tão irrevogável, tão absoluto, que vale a pena morrer com ele para, nele, viver uma vida nova; vale a pena sofrer com ele para, nele, reinarmos. É interessante como o Apóstolo sublinha a fidelidade amorosa de Deus em Jesus: “Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel!”Eis um Deus que não se escandaliza com nossas debilidades, mas é sempre disposto a recomeçar conosco. “Se nós o negamos, também ele nos negará”... Esta é a única atitude que nos faz perdê-lo para sempre: a ingratidão de negá-lo em nossa vida, de fechar-se de tal modo para ele, que já não mais o reconheçamos, que já não mais deixemos que ele seja o Senhor de nossa existência, que já não mais percebamos que tudo é graça, tudo é presente de amor.
Cuidemos, então do modo como estamos construindo a nossa existência: como um fechar-se sobre nós mesmos, na auto-suficiência, ou como uma abertura livre e filial, pronta a acolher e viver a vida como um dom do Senhor. Como cantam os focolares: “Se um dia perguntares quem sou, não direi o meu nome. Direi: “Obrigado”, por tudo e pra sempre, “obrigado, obrigado!”

dom Henrique Soares da Costa - www.padrehenrique.com
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A CURA DA LEPRA PELA FÉ E A ERRADICAÇÃO DA HANSENÍASE
As leituras de hoje nos chamam a atenção para o fato de a doença ser uma condição humana que nos desafia e nos leva a procurar ajuda em Deus. O que nos dizem as leituras? Quando tudo parece perdido, eis que surge um profeta que cura um estrangeiro acometido pela lepra. Nessa mesma condição, estão dez outros homens, os quais procuram por Jesus, o grande médico das almas e dos corpos, aquele que foi enviado por Deus para salvar a todos. Como nas leituras do domingo passado, estamos diante de testemunhos de pessoas de fé no Deus de Israel e em Jesus.
A doença dos personagens da primeira leitura e do evangelho é chamada de lepra. Atualmente se usa o termo hanseníase, por não ser tão estigmatizado como lepra e leproso. A hanseníase é uma doença transmissível causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, daí também o nome lepra. O nome hanseníase foi dado em homenagem ao descobridor da bactéria, Gerhard Hansen.
A doença já era conhecida muito antes de Jesus. O livro do Levítico dedica dois capítulos à lepra, o treze e o quatorze, mostrando as incidências sobre o seu portador e a comunidade de Israel. Sem conhecer bem a origem da doença, a mesma é identificada como impureza e o seu portador, como impuro, sendo o mesmo afastado da vida social. Essa orientação motivou a segregação de hansenianos nos chamados leprosários. A lepra era um castigo dado por Deus (2Cr. 26, 16-23).
O Brasil é o segundo país no mundo com maior incidência de hanseníase. Em países desenvolvidos, essa doença já foi erradicada. O governo brasileiro possibilita o diagnóstico e tratamento gratuito, mas até o momento não avançou no sentido da erradicação.
Vejamos em que as leituras de hoje nos iluminam sobre essas questões acerca da hanseníase.
1º leitura (2Rs. 5,14-17)
Naamã, o estrangeiro, é curado da lepra e professa a fé no Deus de Israel
A primeira leitura trata de um relato muito conhecido no Primeiro Testamento, a cura de um estrangeiro, Naamã, pelo profeta Eliseu.
Discípulo de Elias, Eliseu superou o mestre em número de milagres. Sua biografia é legendária (1Rs 19,19-21; 2Rs 2–9). Eliseu foi o líder de um movimento político-religioso pró-reforma da monarquia. O profeta Eliseu atuou aproximadamente nos anos 852 a 783 a.E.C., no Reino do Norte, Israel, nas dinastias de Jorão, Jeú, Joás e Joacaz. Eliseu denunciou os pecados de idolatria da “Casa de Acab” (2Rs 9,1-10), o rei de Israel, Jorão (2Rs. 3,13), e a inveja de seu servo Giezi (2Rs. 5,20-27). As propostas religiosas e políticas de Eliseu foram: o povo deveria creditar que o Senhor é o Deus verdadeiro de Israel (2Rs 5,1-19); a monarquia devia ser reformada por meio de uma revolução (1Rs. 19,15-17; 2Rs. 9,1-37); Jéu, filho de Nansi, deveria ser ungido rei de Israel, no lugar de Jorão, filho de Acab (2Rs 9); a descendência de Acab e sua esposa Jezabel (2Rs 10) deveriam ser extintos de Israel; o culto a Baal (2Rs 10,28) deveria ser eliminado de Israel. Eliseu tinha esperança de que, mudando o governo, a situação melhoraria. O movimento liderado por Eliseu, chamado de “Filhos de Profetas”, nasceu na dinastia de Omri. Juntos, eles conseguiram destronar a dinastia de Acab, eliminar o culto a Baal e devolver a esperança ao povo. Eliseu, em um determinado tempo, foi bem-visto pelo rei arameu, da Síria, Ben-Hadad (2Rs. 6,8-17; 8,7-15).
Nesse contexto é que devemos entender os fatos relatados na segunda leitura de Reis. Naamã, nome hebraico que significa “a divindade é amável”, era um general conceituado do rei da Síria, por ter dado vitórias ao seu povo. Na sua casa, ele tinha uma serva israelita. Foi essa mulher que o aconselhou a procurar o profeta Eliseu para solicitar a cura de sua doença, possivelmente uma lepra ou doença de pele. Ele fala com seu rei, que o aconselha a tomar consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez vestes de gala. Naamã parte. O rei de Israel o recebe e fica nervoso com a proposta do rei da Síria, justificando que isso seria um pretexto contra ele, pois ele, não sendo deus, não teria o poder de dar vida e morte (2Rs 5,1-7). O profeta Eliseu, tendo sabido do fato, pede que Naamã venha até ele. Contrariando o desejo de Naamã, Eliseu não o recebe. Ele manda ordens pelo seu mensageiro para que Naamã deva se banhar sete vezes no rio Jordão para ser curado. Sete, na visão bíblica, é o número da perfeição, o encontro do divino, representado pelo três, com o terreno, o quatro. Naamã resiste em cumprir a ordem, mas acaba sendo convencido pelos seus servos (2Rs. 5,8-13). Naamã fora curado pelas águas de Israel. Ele voltou para agradecer ao profeta e oferecer-lhe presentes pela cura, os quais Eliseu não aceita para ensinar que o Deus de Israel não deve ser pago pelos seus atos benéficos.
Naamã disse ao profeta Eliseu: “Agora sei que não há Deus em toda a terra a não ser em Israel” (v. 15). Naamã pede a Eliseu que lhe conceda levar terra de Israel para o seu país, de modo que pudesse cultuar o deus de Israel, Javé, no seu país, onde a terra estava impura pelos cultos a ídolos. A declaração de fé de Naamã e o seu pedido é o objetivo principal da narrativa: mostrar que o Deus de Israel é o único verdadeiro e que mora em Israel, não na Síria, terra de Naamã.
Naamã fica extremamente grato pela cura da lepra. Eliseu lhe pede para realizar um rito de cura. Naamã é um estrangeiro. O que tem a ver tudo isso com o evangelho? Vejamos.
Evangelho (Lc. 17,11-19): samaritano, o leproso estrangeiro, curado pela fé, louva a Deus
O contexto da lepra/hanseníase no evangelho de hoje é regido pelas leis de Israel (Lv 13,45-46). O leproso deveria usar vestes rasgadas, ter cabelos desgrenhados, ter o bigode coberto e clamar: Impuro! Impuro! Enquanto estivesse com a doença, deveria morar em lugar separado, conviver com outros impuros, como os samaritanos, mas não com os puros da cidade. Quando alguém era curado de lepra, ele deveria se apresentar ao sacerdote (Lv 14). Os parentes do leproso deveriam chorar por ele, pois a lepra era considerada um castigo de Deus.
Com essa explicação, já podemos citar alguns detalhes do texto: a) os leprosos se encontram com Jesus quando ele estava para entrar num povoado, o lugar dos puros; b) eles estão em número de dez, o que relembra o decálogo, que faz do judeu um verdadeiro seguidor de Deus; c) somente um samaritano, isto é, um estrangeiro, é que volta para agradecer; d) Jesus cumpre a Lei, pedindo-lhe que fosse se apresentar ao sacerdote.
Assim como Naamã, os leprosos são chamados a passar por um rito. O primeiro é lavar-se nas águas do Jordão, como vimos acima, o segundo consiste em ir aos sacerdotes. Todas essas atitudes querem provar se a fé na palavra do profeta e de Jesus são verdadeiras. A palavra de Cristo cura. A diferença, no entanto, nos dois episódios, é que Naamã tem fé porque foi curado. O leproso samaritano, ao voltar-se logo para Jesus e agradecer-lhe, demonstrou fé na palavra e, o que é mais importante, ele mesmo teve fé. Por isso, Jesus lhe diz: “levanta-te e vai, a tua fé te salvou” (v. 19). Essa atitude de Jesus, segundo a comunidade lucana, demonstra que a fé em Jesus salva, mesmo sem o cumprimento dos ritos legais da fé judaica. E ainda tem outro detalhe: eles são curados enquanto estão a caminho. Isso quer dizer que quem se coloca no caminho de Jesus já está curado. Os outros nove, que eram judeus, se contentaram com os ritos de cura. O samaritano, o estrangeiro, manifesta a sua fé e louva a Deus pela cura recebida. Assim como na primeira leitura, a salvação está para além de Israel. Lucas sabe que a Samaria é um lugar que, em primeiro lugar, será evangelizado.
2º leitura (2Tm. 2,8-13): ter fé é viver em Cristo
O contexto dessa leitura é o do domingo passado, em que Paulo exorta Timóteo a viver e guardar a fé. Paulo acrescenta outros dados importantes: a memória da ressurreição de Cristo; assumir os sofrimentos advindos da luta; Jesus é o messias esperado; Jesus é fiel; devemos pregar a palavra de Deus, pois ela não está algemada. E ele conclui: quem renegar a Cristo será renegado. A infidelidade humana não muda a fidelidade divina. Todos esses elementos estão recolhidos em um hino batismal e de resistência dos primeiros cristãos.
Paulo, sofrendo na prisão, sabe que é preciso resistir e manter a fé em Cristo ressuscitado que venceu a morte e nos trouxe a vida. O corpo está preso, acorrentado no cárcere de pedra, mas a palavra do evangelho vai além de tudo isso. A Palavra não pode estar aprisionada. É o que ensina Paulo e pede a todos: ter fé e viver em Cristo.
PISTAS PARA REFLEXÃO
No evangelho, vimos que dez hansenianos se unem. Eles têm em comum a doença. Nove são judeus e um, samaritano. A miséria humana os une na luta por libertação. Os leprosos de hoje, em todos os sentidos, merecem a solidariedade. O que estamos fazendo com e por eles?
O samaritano voltou e louvou Deus pela cura. Levar a comunidade a tomar consciência da importância da oração de louvor e do colocar-se no caminho de Jesus. A terra de Israel, na compreensão de Naamã, era o lugar da manifestação de Deus. Como em nosso país estamos sendo testemunhas de Deus?
Mostrar que a hanseníase ainda não está erradicada do nosso meio. Há grupos que trabalham com esse objetivo. Trabalhar em conjunto com o poder público e a sociedade para a eliminação da hanseníase no Brasil, conscientizando a população para a importância do diagnóstico precoce e dando apoio às pessoas que estão em tratamento. Trabalhar a questão do preconceito e da erradicação da hanseníase.
frei Jacir de Freitas Farias, ofm - www.paulus.com.br

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“Senhor, se levardes em conta as nossas faltas, quem poderá subsistir? Mas em vós encontra-se o perdão, Deus de Israel”(cf. Sl. 129,3s).
Quando nós recebemos um elogio a nossa reação deve ser de um pronto agradecimento. E, assim, por conseguinte, não seria diferente para com a graça de Deus quando nós somos convidados a agradecer a sua misericórdia para conosco.
A história de Eliseu e Naamã, tema da primeira leitura deste domingo(cf. 2Rs. 5,14-17), mereceria mais carinho do que a liturgia lhe consagra. De fato, o recorte litúrgico exige pelo menos uma pequena introdução narrativa, para pôr os ouvintes a par do que precedeu à entrada de Naamã nas águas do Jordão: como este estrangeiro criou a idéia de consultar um profeta de Israel e, sobretudo, como ele queria montar o espetáculo, levando ricos presentes (cf 2Rs. 5,5). Queria que Eliseu o curasse por sua palavra, mas Eliseu o mandou banhar-se no Jordão. O general, apertado, aprendeu a obedecer. Veio a hora de agradecer: novamente, Naamã oferece um presente digno de um príncipe. Eliseu, por sua vez, recusa, pois quem agiu foi o Senhor Deus! Então vem o comovente fim da história: curado, não só de sua lepra, mas de seu orgulho militar, Naamã pede para levar à Síria um pouco de terra de Israel, para adorar, na Síria, o Deus de Israel no seu próprio chão. Além disso, pede antecipadamente perdão porque, como funcionário real, terá que adorar de vez em quando o deus sírio Remon; e Eliseu responde: “Pode fazer tranqüilamente”.
De tudo isso podemos depreender de que a gratuidade do agir de Deus; nem presentes, nem ordens o movem, mas a ingênua confiança que se esconde por trás das manias militarescas de Naamã. A humildade do profeta, que só quer que Deus apareça. A comovente gratidão do sírio. A abertura de espírito do profeta quanto às obrigações religiosas do sírio. O fato de Naamã ser estrangeiro: Deus, assim, “não tinha obrigação com ele”. Mas a nossa fé é uma fé gratuita, generosa e misericordiosa.
Somos chamados a viver em contínuo agradecimento. A nossa fé tem que ser sempre agradecida. A gratidão, embora todos a queiram, poucos a manifestam com sinceridade. Talvez na mesma proporção dos dez leprosos curados: um só voltou para agradecer. A gratidão é um ornamento da humildade. O orgulhoso não conhece a gratidão.
Somos servidores de Deus e como servidores devemos ser gratuitos e misericordiosos. Toda a história da salvação, descrita pelas Sagradas Escrituras, é a história dos benefícios contínuos e gratuitos de Deus ao povo seu que peregrina neste mundo. Devemos estar em atitude de ação de graças, lembrando as palavras do sábio Sirácida: “Eu te agradeço, Senhor e Rei, e te louvo, porque és o meu Deus salvador! Rendo graças a teu nome... que me livrou da perdição e me serviu de sustentáculo no meio da falsidade” (cf. Eclo 51,1-2).
Jesus sempre rezou agradecendo a Deus as maravilhas que operava pela sua missão, pela ressurreição de Lázaro, por exemplo. E neste sentido São Paulo nos deu vários exemplos, em seus escritos aos coríntios, aos colossenses e aos efésios.
Todos nós sabemos que na Bíblia a Lepra era uma doença muito comum no oriente. Leproso era etimologicamente aquele que foi ferido por Deus. A lepra era olhada como castigo de Deus e a pessoa adoentada era considerada uma pessoa pecadora. Aos leprosos eram proibidos o acesso ao templo ou a sinagoga. Os leprosos não podiam freqüentar a praça pública e não podiam viver dentro da urbe. Assim os dez leprosos foram atrás de Jesus fora da cidade. Sendo impuro o leproso não podia se aproximar de ninguém, porque era pecador.
O Evangelho deste Domingo nos apresenta dez leprosos (cf. Lc. 17,11-19). Dez eram os leprosos: o número da totalidade, quando nos lembramos que 10 eram os apóstolos e dez são os apóstolos. Os dez leprosos vieram pedir a ajuda de Jesus e chamam Jesus reconhecendo-o como Mestre. Assim todos são convidados a salvação. Da mesma forma a conversão e a mudança de vida para uma inserção na vida comunitária e pastoral.
Na grande comunidade, como na companhia dos dez leprosos, todos somos chamados a sermos filhos e filhas de Deus. Dez foram os curados, mas somente um voltou para agradecer. Assim acontece no dia a dia com as pessoas que quase sempre nunca agradecem. Poucos são os agradecidos que louvam a misericórdia de Deus.
Jesus curou os dez leprosos e mandou que eles se apresentassem ao sacerdote para declarar a cura da lepra efetuada por Jesus. O samaritano voltou para agradecer antes porque não tinha que submeter ao ritual da cura. Isso demonstra que Jesus nos pede que superemos o ritualismo e vivamos uma fé libertadora e inovadora que seja baseada na fé em Jesus de Nazaré e em sua palavra salvadora.
Os leprosos tiveram fé e pediram misericórdia pelo seu estado. Esta deve ser a nossa atitude: fé filial e pedido de ajuda de Deus para superar nossas limitações. Gratuidade do agir de Deus, gratidão por tudo o que Deus faz: tudo é graça. Estes seriam os temas da reflexão de hoje.
Na segunda leitura (cf. 2Tm. 2,8-13), o testamento de Paulo chega ao mais alto grau de condensação: Paulo confia a seu cooperador, Timóteo, “seu evangelho”, o anúncio da ressurreição de Cristo, que garante também nossa ressurreição, se ficarmos firmes na fé nesta palavra. As últimas frases formam um hino (cf. 2Tm. 2,11-13). A palavra que é a verdadeira nos ensina: se morrermos com Cristo, viveremos; se formos firmes, reinaremos com Ele; se o renegarmos, Ele nos renegará; e agora vem uma quebra surpreendente nos paralelismos – se formos infiéis, ele será...fiel! Pois não pode negar seu próprio ser.
Quando as relações pessoais se baseiam unicamente na utilidade e no prazer é muito difícil abrir-se à contemplação do amor gratuito de Deus. A mentalidade utilitarista e egocêntrica desvirtua os atos religiosos. Se tivermos perdido o senso de generosidade, de gratuidade, se só agimos movidos pela esperança de algo ou pelo direito à recompensa, muito provavelmente não poderemos ter a experiência da Eucaristia em nossa vida.
Por isso a missa deste domingo nos ensina a descobrir o sentido do receber para abrir-se ao agradecimento.
A Santa Missa, sacramento base e centro de nossa fé, é em primeiro lugar ação de graças sem outra utilidade, sem outro fim senão ela mesma; é a alegria que brota da contemplação do Deus que é grande no amor, que nasce da descoberta de sermos salvos com gratuidade, sem nada querer em troca.
De segunda-feira a sábado os cristãos deveriam recordar os benefícios, as bênçãos de Deus em nosso favor. Assim a nossa oração na missa de domingo ficaria recheada dos benefícios de Deus, manifestados em Jesus Cristo e na vida da Santa Igreja. Importa recolhê-los e apresentá-los a Deus por Cristo, com Cristo e em Cristo.
padre Wagner Augusto Portugal - www.catequisar.com.br
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CADÊ OS OUTROS NOVE?
No tempo de Jesus, a lepra era uma doença que excluía duramente a pessoa enferma do lugar onde vivia e de sua própria família. A pessoa era condenada a viver na periferia das cidades. Um leproso só podia conviver com outros leprosos justamente para evitar o contágio em pessoas “sadias”. Se uma pessoa sadia se aproximasse do lugar onde os leprosos ficavam, estes eram obrigados a gritar para informar que eram contagiosos, impuros, e, além disso, deviam se afastar.
É nesse contexto que Jesus, numa zona de fronteiras entre a Galileia e a Samária, encontra dez pessoas com lepra na periferia de um povoado; elas se aproximam dele, mas a uma certa distância, param e gritam: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós!”. Estes leprosos pedem ajuda a Jesus. Eles não podem fazer nada por si mesmos, mas podem receber ajuda de alguém que tem poder sobre a sua enfermidade.
Mas o texto parece mostrar que Jesus quer se livrar deles também. Manda eles irem aos sacerdotes, sem ter feito absolutamente nada para curá-los. Segundo as leis do AT, os sacerdotes têm a competência de verificar a cura de um leproso, e, assim, reintegrá-lo na sociedade.
Na 1º leitura, do 2º livro dos Reis, quando o sírio Naamã é curado por Deus, vai apresentar-se imediatamente a Eliseu e agradece ao profeta. Os dez leprosos devem ser, antes de tudo, curados para que possa haver sentido irem se apresentar aos sacerdotes; mas, Jesus, simplesmente os põe a caminhar; e é aí, que vemos a fé e a confiança daqueles leprosos em Jesus, na esperança de que, cumprindo seu mandamento, conseguirão aquilo que desejam.
Um deles, ao perceber que estava curado, toma uma atitude diferente da dos outros nove que correram apressadamente para serem readmitidos na sociedade; este tal retorna a Jesus para agradecê-lo. Aqueles nove olham só para seus próprios interesses, só para o futuro, já não se lembram de quem os livrou daquele destino miserável; e, Jesus, se decepciona com eles: “onde estão os outros nove?”
Todos gritavam por Jesus quando estavam no momento do sufoco, mas por que só um gritou de agradecimento: glorificando a Deus? Na realidade, é que só para este, a cura foi um verdadeiro encontro com Deus.
E quanto a nós? Quando recebemos uma graça de Deus na nossa vida, o que vale mais para nós? O dom ou aquele que nos concedeu o dom? Quando ganhamos um presente, se a nossa atenção se restringe ao bem material, somos egoístas; se, pelo contrário, se a experiência do presente nos leva a colocar a nossa atenção no amor e na benevolência daquele que nos presenteou, isto torna-se um encontro novo e pessoal com o nosso benfeitor.
Ganhar um presente é muito bom. Mas, nos dá mais felicidade ainda reconhecer a benevolência e a ajuda daquele que nos presenteou e poder agradecê-lo. Junto com o pedido, a ação de graças deve ser a forma fundamental da nossa oração e da nossa relação com Deus. Quantas vezes durante a nossa vida pedimos, imploramos a Deus por uma série de coisas e quando ele finalmente nos concede a graça, esquecemos completamente dele. Desta forma, perdemos a chance de reconhecer e experimentar o amor de Deus.
A lepra tinha levado a um primeiro encontro com Jesus, mas um encontro à distância. Movido pela fé em Deus, o samaritano foi curado, sua relação com Deus tornou-se mais íntima, o que lhe rendeu uma fé mais firme.
Assim, podemos dizer que não basta a saúde para ser feliz. Ela é um bem precioso, e deve ser conservada, procurada, com um estilo de vida saudável, com exercícios físicos, reeducação alimentar, é preciso ter paz no coração de quem encontra Deus e descobre o próprio projeto de vida, para ter um bem estar psicofísico profundo. Mas não basta só a saúde, precisamos da felicidade. Jesus nos diz que a saúde não é tudo, mais que a saúde, precisamos nutrir constantemente a esperança e a fé na salvação. E a felicidade consiste no abrir o coração à gratidão de um Deus que nos cura no profundo de toda solidão, de toda a dor.
Que nós também tenhamos a coragem de gritar por socorro ao Senhor para que ele cure a nossa lepra, especialmente, aquela espiritual, a fim de que reconhecendo as maravilhas que ele opera na nossa vida, possamos cada vez mais ter uma fé firme e contagiante.
padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento - www.pecarlos.blogspot.com
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"Obrigado, Senhor"
Vivemos num mundo em que a vida humana ficou transformada num grande comércio, onde tudo se compra e tudo se paga. Diante dessa realidade, muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão.
A liturgia de hoje nos apresenta o pensamento de Deus.
Na 1ª leitura o profeta Eliseu cura o leproso Naaman. (2Rs. 5,14-17)
O general sírio apresenta-se ao profeta para ser curado. Eliseu, sem acolhê-lo, manda lavar-se sete vezes no Rio Jordão. O general humilhado está decidido a desistir e voltar para a sua terra. Mas a comitiva insiste e ele obedece... e fica curado. Reconhecido, proclama sua fé no Deus de Israel e, como sinal de sua gratidão, leva consigo de Israel um pouco de terra, a fim de cultuar na própria terra o Deus verdadeiro.
Na 2ª leitura são Paulo em meio aos sofrimentos e privações da prisão, agradece a Deus pelos favores recebidos, chegando a afirmar: "Estou algemado como um prisioneiro,  mas a palavra de Deus não pode ser algemada". (2Tm. 2,8-13)
Mesmo nos acontecimentos desagradáveis da vida, encontra motivos de alegria, de esperança e de gratidão.
No Evangelho, Jesus cura 10 leprosos (Lc. 17,11-19). Os leprosos deviam morar fora do povoado, longe do convívio humano para não contaminarem os outros com a sua impureza física e religiosa. Eles gritam de longe: "Jesus, mestre, tem compaixão de nós..." Jesus se "compadece" e os manda se apresentarem aos sacerdotes, que eram os responsáveis para comprovar a cura e liberar a reintegração na comunidade.
Os dez obedecem e "no caminho" se vêem curados, mas só um volta para agradecer e era um samaritano, considerado estrangeiro e desprezado pelos judeus. Cristo questiona: "Não foram 10 os curados? Onde estão os outros nove?" E acrescenta: "Levanta-te e vai. Tua fé te salvou".
* O episódio ilustra o caminho da fé: a fé nasce da esperança em Jesus que cura, se concretiza "a caminho" na obediência à Palavra de Jesus e se manifesta plenamente na gratidão.
Pormenores significativos da narrativa do milagre:
- "a lepra" representa o mal que atinge toda a humanidade, gerando exclusão, opressão e injustiça (número 10 significa "totalidade").
A todos os que se sentem "leprosos", Deus faz encontrar a vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade dos homens.
Judeus e Samaritanos juntos e solidários: dois povos adversários, unidos pela desgraça e pela dor.
A luta pela vida supera as diferenças religiosas, políticas ou raciais. E em conjunto vão à procura de Jesus: "Tem compaixão de nós".
A lepra desaparece "no caminho": a ação libertadora de Jesus é um processo progressivo, no qual o crente vai descobrindo e interiorizando os valores de Jesus, até à adesão plena às suas propostas e à efetiva transformação do coração.
Só um volta para agradecer: o leproso curado volta "glorificando a Deus em alta voz". Reconhece Jesus como libertador e está disposto a segui-lo. Agradece e acredita, por isso recebe mais: "Vai a tua fé de salvou".
  A fé dos demais chega até a cura; a sua fé chega até a Salvação.
"E é um Samaritano" (estrangeiro). Os "de casa" não sentem necessidade de agradecer. O estrangeiro volta para agradecer. A graça de Deus é mais valorizada por quem não pertence à Comunidade. O que nos diz esse fato?
Quem são os leprosos de hoje, que marginalizados e discriminados pela comunidade, continuar ainda hoje sofrendo na própria pele as conseqüências das feridas da lepra do pecado?
A gratidão: é uma das virtudes que enobrecem a pessoa humana. Desde criança, fomos educados a agradecer os favores recebidos. A gratidão é a atitude que brota do coração de quem se sente amado pelo amor de Deus...
Nem todos sabem agradecer. (Nem obrigado recebi!)
Não basta na hora da necessidade gritar: "Senhor, tem piedade de mim!". É preciso também manifestar a nossa gratidão pela libertação que faz acontecer em nós, comprometendo-nos com ele.
Saber agradecer a tantas pessoas, que tornaram nossa vida mais feliz: nossos pais, nossos professores, o padre, o médico, o catequista, os colegas de estudo, de trabalho, de esporte e tantos outros. Não basta sentir... É importante também manifestar...
"Obrigado" é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos. Ela valoriza o dom recebido e dispõe ainda mais o doador.
Eucaristia quer dizer: "ação de graças". Aproveitemos esse momento privilegiado para agradecer a Deus de todos os favores recebidos em nossa vida, e partamos daqui dispostos a reconhecer agradecidos também os inúmeros favores recebidos de nossos irmãos...
padre Antônio Geraldo Dalla Costa - buscandonovasaguas.com
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O PECADO DA INGRATIDÃO
O modo como os leprosos agem em relação ao benefício recebido de Jesus corresponde às nossas atitudes perante a misericórdia divina.
No seu desespero, os leprosos recorrem a Jesus, implorando piedade. Era insuportável a situação em que se encontravam, vítimas da doença. Mesmo para recorrer ao Mestre, deviam manter-se à distância, como mandava a Lei. Esta os obrigava a andar com as vestes rasgadas, com os cabelos desgrenhados e a barba coberta. E mais, deveriam habitar fora da cidade, e gritar: "impuro, impuro!", quando alguém se aproximasse, para evitar a contaminação. Situação dolorosa!
A súplica pungente do grupo de doentes encontra guarida no coração de Jesus. Ele os atende imediatamente, ordenando que se apresentem aos sacerdotes, como se já estivessem curados.
Só um sentiu-se motivado a voltar atrás e agradecer a quem o havia curado. Jogou-se aos pés de Jesus, dando gritos de louvor a Deus. E este era um samaritano, membro de um povo inimigo dos judeus, visto com desprezo. A gratidão brotou-lhe espontânea do coração.
Já os outros nove, judeus de origem, esqueceram-se de agradecer. Assim, deram mostras de não ter dado o passo da fé, reconhecendo a condição messiânica de Jesus. E perderam a chance de receber os benefícios da salvação.
padre Jaldemir Vitório - www.domtotal.com
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“Agora reconheço que em toda a terra não há outro Deus
senão o de Israel.”
Deus tem um projeto de Salvação, para todas as pessoas, sem distinção. É isso que a liturgia deste domingo quer nos mostrar. É mediante o reconhecimento do dom de Deus com amor e gratidão que superamos o sofrimento e o distanciamento de Deus e dos irmãos, e alcançamos uma maior plenitude da vida.
O leproso (o sírio Naamã) é a história central da 1ª Leitura. O fato revela que só Deus oferece a vida e a Salvação às pessoas, sem distinção de nacionalidade e de religião, porque são dom e gratuidade de Deus. É preciso reconhecer e acolher Deus como o único Salvador, e manifestar nossa gratidão pelos dons oferecidos.
Estamos no Reino do Norte (Israel), no período do Rei Jorão (853-842 a.C.). Preocupado em fazer um Estado moderno, Jorão fez um xadrez político, para manter os privilégios da classe dominante, negociando inclusive os valores religiosos, trazendo com isso muito intercâmbio de crendices e seitas condenadas pela religião javista. Esta política trouxe muitos deuses, muitos cultos e culturas estrangeiras.
No capítulo 5 do 2° Livro dos Reis, os autores deuteronomistas contam-nos a história do general sírio Naamã: considerado um dos heróis da Síria, era leproso; mas, informado por uma serva de que em Israel havia um profeta que podia curá-lo do seu mal, veio ao encontro de Eliseu, carregado de presentes. Eliseu mandou, apenas, que Naamã se banhasse sete vezes no rio Jordão (cf. 2Rs 5,1-13).
O texto quer deixar claro que Javé é o Senhor da vida. É Ele que liberta toda pessoa da morte, ou seja, cura a ferida do pecado. Deus serve-se de muitos meios, inclusive das pessoas, mas é sempre Ele que salva e liberta. Também quer mostrar que a intervenção salvadora de Deus é uma ação a favor da vida, sem distinção de pessoas, de classe ou mesmo de religião. É sempre a favor do ser humano. Naamã não ficou só curado de uma doença física que punha em risco a sua vida; mas a intervenção de Deus saldou-se numa transformação espiritual que fez do sírio Naamã um homem novo, e o levou a deixar os ídolos, para servir o verdadeiro e único Deus… A expressão dessa mudança radical é a afirmação de Naamã de que “não há outro Deus em toda a terra, senão o de Israel”.
O texto termina com uma “gratidão” de Naamã. O profeta Eliseu insiste em não receber o presente como forma de gratidão do Sírio, porque reconhece que o que fez é dom de Deus; não foi ele, mas Deus que realizou este milagre.
A 1ª Leitura faz-nos tomar consciência de que Deus é um Deus que tem projeto de Salvação para todos os homens. Nós vivemos numa época parecida com a do profeta Eliseu. Constatam-se muitos ídolos que não podem curar e salvar. Muitos procuram médiuns, tarólogos, videntes e gurus que garantem a solução para os insucessos e problemas de diferentes matizes. Mas todos eles são enganadores, o verdadeiro salvador é Deus.
Devemos colocar a nossa esperança no Deus da vida plena. É este Deus que me dá segurança da esperança de realização e felicidade. Também devemos acolher sem distinção as pessoas de todas as classes, de todas as raças e de todas as religiões.
Não nos devemos esquecer de agradecer o dom e amor de Deus. Os méritos são de Deus, nós somos os administradores dos dons concedidos a nós por Deus.
“Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos; se sofremos com Cristo, também com ele reinaremos.”
A 2ª leitura define a existência cristã como identificação com Cristo. Quem acolhe o dom de Deus torna-se discípulo: identifica-se com Cristo, vive no amor e na entrega aos irmãos, e chega à vida nova da ressurreição.
No início do século 2°, as comunidades cristãs sentiram o entusiasmo diminuindo, por causa da perseguição, e perturbadas pelas muitas e falsas doutrinas, verdadeiras heresias. O texto exorta Timóteo e a todos a perseverar na fé, a conservar a verdadeira doutrina recebida de Deus, e servir totalmente o Evangelho.
As pessoas do nosso tempo estão convencidas de que uma vida gasta no serviço simples e humilde em favor dos irmãos é uma vida fracassada; mas o autor da carta a Timóteo garante que uma vida de amor e de serviço é uma vida plenamente realizada, pois no final da caminhada espera-nos a ressurreição, a vida plena.
“Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou.”
O grupo de leprosos procura Jesus, porque certamente já ouviram falar dos prodígios dele. O Evangelho de hoje nos mostra um Jesus misericordioso, e revela o amor de Deus.
Os dez leprosos vieram até Ele, porque reconheciam n’Ele um mestre, um enviado de Deus. Ousam pedir o que ninguém podia dar naquela época: a cura da lepra. Pedem um favor que ultrapassa as forças humanas. É a Deus que se dirigem por meio de Jesus.
Poderíamos dizer que eles representam toda humanidade envolvida pela miséria e pelo sofrimento. É sobre a humanidade que Deus derrama a sua bondade, o seu amor, a sua Salvação. O fato narrado também chama a atenção pela ingratidão de noventa por cento dos curados. Com toda certeza, hoje também noventa por cento da humanidade não reconhece o dom de Deus, e continua ingrata diante das maravilhas manifestas a todos pela bondade de Deus. Todos experimentam os dons, os milagres da vida que Deus oferece. Poucos, ou quase ninguém, reconhece o dom de Deus. Querem a cura, mas não agradecem, quando recebem.
Protótipo do marginalizado, o leproso é, no tempo de Jesus, o mais miserável dos seres humanos. Causa repugnância por sua aparência, e o medo do contágio o afastava da família, do convívio social, religioso... Era considerado um impuro ritual (cf. Lv 13-14). Todo e qualquer doente era visto como sendo castigado por seus pecados. O leproso era o mais pecador e, por isso, não podia sequer entrar na cidade santa, Jerusalém. Devia afastar-se de qualquer convívio humano, para que não contaminasse outros com a sua impureza física e religiosa.
Curado, o leproso tinha de se apresentar ao sacerdote, para que ele comprovasse a cura, que o reintegrasse na sociedade. Era também o sacerdote que determinava se a pessoa tinha adquirido a lepra. Qualquer mancha branca na pele era vista como lepra. Muitos eram afastados injustamente do convívio familiar e social, porque tinha outra doença, ou apenas manchas brancas na pele.
O único leproso que volta depois da cura para agradecer a Jesus é um samaritano. Os samaritanos eram desprezados pelos judeus de Jerusalém, por causa do seu sincretismo religioso.
Lucas é o único evangelista que narra o episódio de hoje. Na sua ótica teológica, quer apresentar Jesus como o Deus libertador de todas as pessoas, principalmente os oprimidos e marginalizados. Jesus veio com um projeto oferecido pelo Pai eterno. Deus oferece a Salvação a todos. O número dez significa totalidade. Deus salva todos. O leproso agradecido é samaritano, e, portanto, não sendo judeu religioso e observante da Lei, reconhece e acolhe o dom de Deus em Jesus. A presença de um samaritano no grupo indica, contudo, que essa Salvação oferecida por Deus, em Jesus, não se destina apenas à comunidade do “Povo eleito”, mas se destina a todos os homens, sem distinção, mesmo àqueles que o Judaísmo oficial considerava definitivamente afastados da Salvação.
A mensagem hoje não cai tanto no fato da cura, e sim no fato do reconhecimento e gratidão. Lucas quer dizer que quem recebe a Salvação deve reconhecer o dom de Deus, e deve estar agradecido. Ele quer mostra com o episódio que, com frequência, são os hereges, os marginais, os desprezados, aqueles que a teologia oficial considera à margem da Salvação, estão mais atentos aos dons de Deus.
Toda e qualquer doença rouba aos poucos a vida plena. A humanidade doente gera exclusão, opressão, injustiça e infortúnios. É condição de uma humanidade marcada por quem quer construir uma sociedade com as costas viradas para Deus. Auto-suficiente, a humanidade prescinde dos valores humanos e do Evangelho. Nasce o sofrimento evitável. Ele galopa cada vez mais, porque a sociedade não acolhe a vida como dom de Deus. Lucas garante, no entanto, que Deus tem um projeto de Salvação para todos os homens, sem exceção; e que é em Jesus, e através de Jesus, que esse projeto atinge todos os que se sentem “leprosos”, e os faz encontrar a vida plena, a reintegração total na família de Deus e na comunidade humana.
Enfim, o leproso samaritano faz ato de reconhecimento, vindo agradecer: lança o rosto por terra aos pés de Jesus, dando-Lhe graças. O homem pode levantar-se, porque está totalmente salvo: não apenas o seu corpo é purificado, mas, ao vir glorificar Deus e dar-Lhe graças, pode aproximar-se de Jesus, o verdadeiro Salvador, que salva o homem, e dele espera a caminhada da Fé.
O estrangeiro reconhece que a sua cura é dom gratuito da bondade de Deus. Volta junto de Jesus, para “reconhecer” este dom. Entra numa relação plena com Deus. Veio com a sua pobreza, para pedir; regressa, com a sua gratidão, para reconhecer que Jesus respondeu ao seu pedido. O ato central, fonte e cume da vida cristã, a Eucaristia, significa “ação de graças”. Eis o pedido supremo que podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus ressuscitado e o nosso “obrigado”, o mais perfeito possível, que possamos dizer a Deus. Aí estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.
padre Elmo Heck - www.pom.org.br
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A Palavra de Deus não está acorrentada
Durante seu ministério na Galileia e nos territórios gentílicos vizinhos, Jesus já entrara em conflito com os escribas e fariseus, chefes das sinagogas e defensores da Lei. Agora, Jesus atravessa a Samaria, a caminho de Jerusalém, onde ocorrerá o confronto com o Templo, sede da instituição religiosa judaica, com a rejeição a Jesus pelos sacerdotes e pelos grandes proprietários rurais que eram os chefes deste Templo. Em contraposição a esta rejeição, Lucas, no seu Evangelho, dá um destaque particular aos samaritanos, que eram considerados gentios e excluídos pelo Judaísmo, como sendo aqueles que acolhem Jesus. Na narrativa de hoje, os dez leprosos vêm ao encontro de Jesus e param a certa distância dele, pois, pela Lei, o leproso não podia aproximar-se das demais pessoas. Pedem pela misericórdia de Jesus. Este pede que eles se apresentem aos sacerdotes; esta apresentação devia ser feita depois da cura. Com isto, Jesus insinuava que já lhes tinha dado a cura e, assim, ao seguirem para Jerusalém, para se apresentarem aos sacerdotes do Templo, ficaram curados. Contudo, só um deles, que era samaritano, sentindo-se curado, percebe que a fonte da vida é Jesus e não o Templo, e, com esta compreensão, volta para junto de Jesus e lhe agradece. Os outros nove, embora tivessem sido curados, continuavam atrelados aos preceitos do Judaísmo, seguindo seu caminho para Jerusalém. Na perspectiva da salvação sem fronteiras e sem privilégios de etnia, a primeira leitura narra também a conversão de um leproso estrangeiro, o sírio Naamã, que teve fé na palavra do profeta Eliseu. Jesus, ao ser rejeitado em sua própria terra, lembra este episódio de Naamã: um estrangeiro, considerado excluído pelo povo eleito, que crê, enquanto estes que se consideram eleitos rejeitam Jesus (cf. 30 ago.).
A Palavra de Deus não está acorrentada (segunda leitura). Ela vem para trazer a libertação e a vida para todos. Libertados e glorificando a Deus, seguimos, unidos em comunidade, fiéis a Jesus de Nazaré, na sua missão salvífica.
José Raimundo Oliva - www.paulinas.org.br
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Primeira leitura: 2 Reis 5,11-17
CURA DE NAAMÃ, GENERAL DE EXÉRCITO: SUA GRATIDÃO A DEUS
O século IX a.C. caracterizou-se em Israel pela indiferença do povo em relação a Javé. Neste período, o relacionamento entre Israel e os sírios (arameus) era tenso, com invasões contínuas dos sírios a Israel. Numa dessas invasões, os sírios raptaram uma jovem israelita, que foi designada como escrava do general sírio Naamã. Este sofria de uma doença da pele classificada com lepra.
Por sugestão de sua escrava israelita, Naamã foi ao encontro de Eliseu para ser curado. Este general havia chegado à conclusão de que nem o rei de Israel, nem os famosos rios de Damasco, nem rituais espetaculares, mas somente este profeta de Israel poderia curá-lo. Eliseu pediu-lhe que fosse lavar-se sete vezes no rio Jordão. Naamã obedeceu e ficou curado. Reconheceu então que não havia “outro Deus em toda a terra a não ser o de Israel” (v.5). Em reconhecimento, o general quis recompensar Eliseu, mas este não aceitou, mostrando a gratuidade de Deus que cura. Então Naamã arrumou uma quantidade da terra de Israel que dois jumentos podiam carregar para fazer em seu país uma espécie de ilha e oferecer nela sacrifícios a Javé, reconhecendo, assim, que Javé habitava em Israel e não em sua terra contaminada por ídolos.
Segunda leitura: 2 Timóteo 2,8-13
NAS DIFICULDADES DO MINISTÉRIO, LEMBRE-SE DE JESUS CRISTO!
Esta carta é chamada de “testamento de Paulo”. Ao escrever a Timóteo, ele mostra os motivos pelos quais os cristãos são chamados a resistir firmes na prática da fé em Cristo. Afirma que o cristão deve estar preparado para sofrer por Cristo. Esta é uma exigência da fé, porque o próprio Jesus resistiu firme. O cristão é comparado a um “soldado”, desempenhando um serviço exclusivo para Cristo; a um “atleta”, como pessoa sempre empenhada; e a um “agricultor”, como trabalhador paciente.
Por isso ele propõe dois modelos de referência:
01) Ele próprio, que anunciou e testemunhou com os próprios sofrimentos Jesus Cristo, o Messias ressuscitado. Ele mesmo era taxado de malfeitor e estava acorrentado em Roma, mas não deixava a palavra acorrentada.
02) Em referência a Jesus Cristo, lembrando o relacionamento estreito que se deve ter com Cristo através de um hino litúrgico que fala em morrer com Cristo, conviver e perseverar com ele para reinar com ele.
Evangelho: Lucas: 17,11-19
O LEPROSO AGRADECIDO ENTRE OS DEZ CURADOS
Este episódio se encontra somente em Lucas ao longo de sua viagem para Jerusalém. O evangelista ambienta o fato entre a Samaria e a Galileia, onde se encontravam dez leprosos, marginalizados, fora do convívio social (Levítico 13,46). Um deles era samaritano. Os judeus e os samaritanos se odiavam, mas aqui se encontravam juntos, solidários, pois a desgraça une as pessoas, embora sejam inimigas.
Os leprosos eram marginalizados e considerados impuros pela lei (Levítico 13,45). Deviam viver isolados e eram obrigados a gritar para que ninguém se aproximasse deles devido à lepra. Esta era considerada uma maldição de Deus. Naquele tempo se dizia: “Quem tem um parente neste estado chore-o como se chora um morto”. Os leprosos, obedecendo à lei, gritam o seu estado de longe. Jesus os atende respondendo ao apelo destes marginalizados: “Jesus, Mestre, tenha compaixão de nós”, e pede que vão apresentar-se aos sacerdotes (v.14). Os sacerdotes, segundo a lei, deviam confirmar a cura (Marcos 1,14), “dar alta” ao doente. Confirmada a cura, o doente e o sacerdote deviam oferecer um sacrifício (Levítico 14,1-32).
Enquanto caminhavam para Jerusalém, os leprosos ficaram curados, mas somente o samaritano, ao perceber que estava curado, voltou e jogou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. Ele “dava glória a Deus”, expressão em Lucas característica dos pobres e oprimidos que Jesus encontra pelo caminho, libertando-os da marginalização (os pastores 2,20; o paralítico 5,25; a mulher encurvada 13,13; o cego de Jericó 18,43; o oficial romano 23,47).
Este “dar glória a Deus” era o reconhecimento de que Jesus estava agindo como Deus na história. Jesus, porém, ordena ao leproso que se levante, pois sua fé o havia salvo. Não se tratava simplesmente de uma salvação física, mas sim da salvação (sôzein), de ser admitido à comunhão com Deus.
REFLEXÃO
A primeira e a terceira leituras mostram a intervenção de Deus na história. Mostram também a gratidão de dois leprosos curados. Ambos tiveram fé e coragem para buscar a cura física. A cura foi um processo acompanhado da fé, pois ambos não ficaram curados imediatamente. Para ambos foi pedido algo. Pela saúde física fazemos tudo o que os médicos pedem, obedecendo a suas palavras. Também pela saúde de nossa alma devemos ter confiança nas palavras de Cristo e de sua Igreja.
A cura dos leprosos ocorreu num contexto muito simples (banhar-se no rio Jordão - apresentar-se ao sacerdote). Da mesma forma a cura de nossa alma nos é dada de maneira muito simples (batismo, confissão, eucaristia). Ambos tiveram a coragem de reconhecer e aceitar suas doenças e acolheram e reconheceram a cura.
Os dois episódios das leituras são um convite para analisarmos nossos relacionamentos com Deus. Damos opção em nossa vida para a gratidão a Deus? Sentimos a alegria de viver a amizade com Deus? A alegria de ser curados por ele? Pois onde a salvação de Jesus chega, chega a alegria.
A lepra não era simplesmente o mal de Hansen, mas as diversas doenças da pele naquele tempo incuráveis. Seus portadores eram considerados malditos, desgraçados, marginalizados. Jesus rompeu com este preconceito.
A doença devasta o corpo, o pecado devasta a alma. Nós nos precavemos contra os bacilos dos quais temos medo, porém nem sempre temos medo do pecado. Luiz IX, rei da França, perguntou certo dia a um seu amigo se preferia a lepra ou o pecado mortal. Ele respondeu que preferia mil vezes o pecado à lepra. Então o rei lhe disse: “Caro amigo, não existe pior lepra do que o pecado”. Quem pensa hoje como Luiz IX?
Naamã e o leproso foram agradecer o benefício. A gratidão é a flor da caridade e rezar não é só pedir, mas também agradecer. E agradecimento é manifestação de amor (Tessalonicenses 5,18) e devemos agradecer tudo, dores e alegrias (1Coríntios 4,7). Agradecer sempre, dizia um antigo escritor romano: “Você quer falar de toda a maldade de uma pessoa? Diga que é ingrata”.
O relato do milagre de Jesus no Evangelho é mais um entre os trinta e cinco que se encontram nos evangelistas: trinta nos sinóticos e cinco em João. Com eles Jesus não pretendia fazer propaganda de sua categoria divina. Ele já se havia oposto a isso na tentação do deserto. Eles não são narrativas apresentadas como provas apologéticas da divindade de Jesus, nem são uma amostra piedosa de sua bondade e misericórdia. São sinais messiânicos do Reino de Deus (Lucas 4,18 ss.; Mateus 11,2 ss.; Lucas 12,18 ss.).
Os milagres são manifestações do poder salvador de Deus em Jesus. Ungido com o Espírito Santo, ele se mostrou Senhor da natureza e da vida, e vencedor do demônio e da própria morte. Para a realização dos milagres era necessária a fé. Onde não a encontrou, Jesus não pôde fazer milagres (Marcos 6,5). Ela é a primícia para a realização dos milagres.
Nos milagres que Jesus realizou ficava patente a relação de Jesus com o Servo de Javé (Isaías 53,4): “Ele assumiu nossas dores e carregou nossas enfermidades” (Mateus 8,16).
Jesus deve ter-se alegrado com a atitude de gratidão daquele samaritano, mas ao mesmo tempo ficou triste com a ausência dos outros que foram curados. Quantas vezes Jesus não terá perguntado por nós, depois de tantas graças! É preciso compensar nossa ausência e falta de gratidão a Jesus com nossas orações e nossos gestos concretos de amor. Talvez não tenhamos atitudes de gratidão porque freqüentemente temos melhor memória para nossas necessidades do que para nossos benefícios.
Vivemos pendentes com aquilo que nos falta e reparamos pouco o que temos. Santo Agostinho, ao comentar esta passagem do Evangelho, diz: “Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos. Pois o que você tem que não tenha recebido?” (1 Coríntios 4,7). Devemos lembrar as maravilhas que o Senhor fez por nós, diz o salmista,
Vivamos com alegria por estarmos repletos dos dons de Deus. Não deixemos de apreciá-los. Agradeçamos freqüentemente o imenso dom de termos Jesus conosco na Eucaristia, a facilidade com que podemos purificar-nos de nossos pecados. Ao reconhecer o que Deus nos deu, encontraremos muitíssimos dons pelos quais devemos dar graças continuamente.
padre José Antonio Bertolin, OSJ - www.santuariosaojose.com.br
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Justificados pela fé
Na semana passada, refletimos sobre a fé. Gostaria de continuar com o mesmo tema, mas dessa vez desde outra perspectiva. O que acontece é que eu também, como você, escutei na passagem do Evangelho oferecido pela liturgia de hoje o seguinte: “Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc. 17,10). Ou seja, a fé salva!
Martinho Lutero foi um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI, homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião, passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm. 1,17: “o justo viverá da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia! Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja. Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura. Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm. 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl. 5,6).
Enfim, o Concilio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concilio foi o valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o começo, o Concilio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma passagem concreta, como poderia ser Rm. 1,17, mas primeiramente quis conhecer profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem de Jesus Cristo. Ele nos salvou, mas cada de um nós tem que deixar-se lavar pelo seu sangue purificador. Finalmente, o Concilio nos diz que a justificação não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graças e dos dons. E qual é o papel da fé na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (cf. Rm. 1,17; 3,28)? O Concilio interpreta essas palavras da Escritura com outras: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb. 11,6). Ser justificado pela fé, ser salvado e santificado pela fé, significa que para ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas continuará insistindo.
“Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc. 17,10). Abracemos cada vez mais a salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é importante voltar para agradecer com obras e na verdade. Aquele samaritano, que antes era leproso como os outros, quis percorrer o caminho de volta para agradecer a Jesus pessoalmente prostrando-se aos seus pés. A sua fé foi acompanhada por umas quantas obras que mereceram um elogio e uma exclamação de Jesus: “Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!” (Lc. 17,18). Agradeçamos ao Senhor “opere et veritate”, com obras e na verdade, pois, salvados em Cristo Jesus, “esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, e ao amor fraterno a caridade. (…) Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição” (2Pd. 1,5-10). Sim, a nossa fé nos salvou, mas é preciso continuar cuidando – por uma vida santa – essa salvação para que aumente em nós e para que um dia seja eterna e vejamos, face a face, a Deus Pai e Filho e Espírito Santo.
padre Françoá Costa - www.presbiteros.com.br

 

 

 

 

 

 



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